ESPORTE CLUBE
B6
SALVADOR QUARTA-FEIRA 1/4/2020
PANDEMIA
Fifa estuda fundo
bilionário para ajudar o futebol
atarde.com.br/esportes
COLUNA DO TOSTÃO
Tostão | Ex-jogador
SABEDORIA E MALANDRAGEM
Continuoemcasa. Énecessário.
Trabalho, tento fazer coisas di-
ferentes e, ao mesmo tempo,
me informo sobre a pandemia.
É triste saber de tantas mortes.
Se, neste momento, os gover-
nos e as grandes empresas pú-
blicaseprivadasdetodoomun-
do injetammuito dinheiro para
combater a epidemia e ajudar
os mais necessitados, vulnerá-
veis, imagino que, quando tu-
do se normalizar, com segu-
rança, poderia haver outro
grande esforço mundial para
diminuir a pobreza. No Brasil,
quasemetade das pessoas não
possui saneamento básico. É
outra grande tragédia, que, há
muito tempo, mata, regular-
mente e aos poucos.
Será inevitável uma recessão
econômica, e os valores, no fu-
tebol, terão de ser revistos. Di-
ficilmente haverá futebol antes
de agosto. A rica CBF deveria
ajudar os pequenos clubes, pa-
ra que possam sobreviver. Será
necessário também reorgani-
zar o calendário.
Pego carona em uma dis-
cussão sobre Romário, em um
programa da ESPN Brasil, com
todos os comentaristas em ca-
sa, por videoconferência. Se-
gundo eles, Valdano, ex-joga-
dor, técnico e dirigente, atual-
mente analista e filósofo do
futebol e que foi treinador de
Romário, teria dito que os téc-
nicos atuais, provavelmente,
não escalariam o atacante em
seus times, por causa de sua
pouca movimentação e por jo-
gar parado, dentro da área.
Concordo com os comentá-
rios de Rômulo Mendonça. Val-
dano falou da última fase de
Romário, amais longa. Após ser
campeão e melhor do mundo,
passou a administrar a fama e a
jogar parado, dentro da área,
quando continuou a fazer gols.
José Simão escrevia que Romá-
riopassava todoo jogo coçando
o saco dentro da pequena área,
esperando a bola para empur-
rá-la para as redes.
Antes dessa época, até ser o
melhor do mundo, Romário jo-
gavada intermediáriaaogol. Às
vezes, partia do meio-campo,
com dribles e troca de passes.
Ele era magistral para correr no
momento certo, sem entrar em
impedimento, para receber a
bola nas costas dos zagueiros e
antes do goleiro, ainda mais
que, na época, os goleiros não
jogavam fora do gol.
Magistral
Um dos gols de Romário que
maisgosto foi contraaHolanda,
nas quartas de final da Copa de
1994. Revi o lance, dias atrás.
Ele, em velocidade, recebeu um
passe cruzado de Bebeto e per-
cebeuqueestava longedabola.
Se esticasse apernapara tocá-la
ou entrasse de carrinho, per-
deria o gol. Romário deu um
salto e, com as duas pernas no
ar, sem apoio, tocou com a di-
reita, no canto. Magistral.
No início de 1998, entrevis-
tei Romário para o programa
‘Um Tostão de prosa’, da ESPN
Brasil, em Valência, onde ele
jogava. Cheguei ao treino, e
ele estava fora. Romário me
disse que não tinha contusão,
que não tinha nada, mas não
treinava porque se recusava a
trocar passes com as mãos, co-
mo queria o técnico italiano
Ranieri. Durante a carreira, Ro-
mário sempre treinou de seu
jeito, somente o que faria no
jogo, mistura de sabedoria
com malandragem.
No outro dia, voltei ao centro
de treinamento do Valência, e
havia um treino coletivo entre
titularese reservas. Romário, na
entrada na área, dominou uma
bola comumpé e, como outro,
a jogou por cima do zagueiro e
do goleiro, que estava adian-
tado. Fenomenal. Ele me disse,
depois do treino, que o técnico
Ranieri não havia gostado, com
oargumentodeque issoeragol
de treino, que ele nunca faria o
mesmo no jogo. Segundo Ro-
mário, ele teria respondido:
“Você não me conhece”.
Durante a carreira,
Romário sempre
treinou de seu
jeito, mistura de
sabedoria com
malandragem
CURTAS
BAHIA
Régis fica mais
perto do Cruzeiro
O período de 20 dias de
férias para os jogadores
começa hoje, mas o tra-
balho segue no departa-
mento de futebol dos clu-
bes. De acordo com infor-
mações do GloboEspor-
te.com, Bahia e Cruzeiro
se aproximaramdeacerto
para que o meia Régis de-
fenda a Raposa por em-
préstimo até dezembro,
com salários divididos en-
treos clubes.Ojogador de
27anos jáentrouemcam-
po pelo Esquadrão neste
ano, mas está semespaço
no time de Roger Macha-
do. A Raposa tenta con-
tratar Régis desde o início
da temporada. O meia
temvínculo como Tricolor
até o fim de 2020.
CHINA
Esporte segue
parado no país
Apesar de o país começar
a retomar a rotina após o
pico de contaminações
por coronavírus, ontemo
governo chinês descar-
tou o reinício imediato
das principais competi-
ções esportivas, como as
ligasde futebol ebasque-
te. A justificativa é que o
país teme uma segunda
onda de contaminação
pelo Covid-19. “Para
umamelhor prevenção e
controle da epidemia,
não devem ser retoma-
dos grandes eventos es-
portivos, como as mara-
tonas, que atraem gran-
des multidões”, disse,
em nota, a Administra-
ção Geral do Esporte na
nação asiática.
APÓS O COMA
Ajax encerra o
vínculo com Nouri
O Ajax encerrou o vínculo
contratual com Abdelhak
Nouri.Em2017,ojogador
foi vítima de lesões ce-
rebrais após uma parada
cardíaca sofrida durante
um jogo e seguiu em co-
ma até a semana passa-
da. A família do jovem,
queprometeuprocessaro
clube pela decisão, recor-
reu à comissão arbitral da
Federação holandesa em
junho de 2018, pedindo
indenização para arcar
com os cuidados médicos
que Nouri precisará du-
rante toda a vida. O Ajax
aceitou pouco depois se
responsabilizar integral-
mente pelas necessida-
des do jogador e pediu
desculpas à família.
MOUNTAIN BIKE
Natural do Capão, Ulan Bastos, líder do ranking
nacional sub-23, volta ao lar para cumprir doce quarentena
Confinamento no
AURÉLIO NUNES
Especial para o A TARDE
T
reinar para manter a
forma sem saber
quando voltarão as
competições.
Essa
tem sido a rotina co-
mum a atletas de alto ren-
dimentode todas as partes do
mundo desde o início das me-
didas de restrição impostas
para conter a propagação do
novo coronavírus. Uma rara
exceção ao tédio encontra-se
em território baiano: Ulan
Bastos Galinski, 21, cumpre o
período de isolamento na ca-
sa dos pais no Vale do Capão,
um dos destinos turísticos
mais procurados por amantes
da paz, natureza e esportes
radicais.
Por ora, o primeiro colocado
do ranking nacional na cate-
goriaXCO(Cross CountryOlím-
pico) ainda não pode usufruir
da estrada de terra íngreme e
sinuosa que liga o povoado de
2mil habitantes à sede domu-
nicípio de Palmeiras, situado a
450 km de Salvador.
Mas o momento de resgatar
a infância e a adolescência nas
trilhaspedregosasentrepoçose
cachoeiras do Parque Nacional
da Chapada Diamantina deve
chegar logo. “Por ser um lugar
isolado, perto da entrada do
Parque Nacional, eu acredito
que em breve serei um dos pri-
meirosatletasapodertreinarna
rua”, prevêUlan, que há 10dias
trocouaconcentraçãodaequipe
Caloi Team, em Petrópolis (RJ),
para cumprir a quarentena com
a família nos ‘Alpes Baianos’,
onde nasceu. “Acredito que es-
tou mais seguro no Capão. O
Parque Nacional está fechado à
visitação e uma barreira na es-
trada impede a entrada de
quem não é morador”.
Por enquanto, Ulan temtrei-
nadonaacademiadeginástica
que montou na casa dos pais,
Maryanne Bastos e Jean Paul
Galinski, proprietários do Circo
do Capão. São duas horas e
meia por dia no rolo de trei-
namento, um suporte de bi-
cicleta para ler a potência e
simular as inclinações do ter-
reno. À tarde vem o trabalho
de musculação e pilates.
“Vim para a Bahia para
adaptar emudar a intensidade
do meu treino. Agora estou
fazendo um trabalho de base
semelhante ao que fazemos
durante a pré-temporada”, ex-
plica. Como os outros dois in-
tegrantes da equipe, Pedro La-
ge e Marcela Lima , Ulan foi
orientado pelo patrocinador a
usar máscara na viagem de
volta pra casa, intensificar os
hábitos de higiene, não ter
contato comninguémalémda
família e não sair de casa.
Quando for finalmente libe-
rado, poderá tirar vantagens de
sua localização. “O Vale do Ca-
pão tem trilhas típicas para a
prática do mountain bike, com
muitas pedras, é excelente para
desenvolver a técnica da mo-
dalidade. Sem contar o efeito
psicológico de estar com a fa-
mília num lugar onde treinei
horas e horas sonhando em al-
cançar o que tenho hoje”.
Em Petrópolis, porém, Ulan
tem acompanhamento de psi-
Fotos: Wali Lima / Divulgação
Treino no rolo
para bicicleta tem
vista inigualável
PARAÍSO
cóloga, fisiologista e de uma
nutricionista para fazer uma
dieta balanceada. “O mais di-
fícil em casa é controlar a bo-
ca”, reconhece.
Ídolos
Entre um ponto e outro, o ci-
clista também navega entre
duas fases distintas da carrei-
ra: no Capão, tem a oportu-
nidade de rever os ídolos Ale-
xandre Arthur e Anilson Mar-
ques, ex-campeões baianos
que inspiraram sua geração a
dar as primeiras pedaladas;
em Petrópolis, treina sob a
orientação do atual ídolo, o
local Henrique Avancini, cam-
peão mundial maratona de
2018 e atual segundo coloca-
do no ranking mundial.
Os resultados de Ulan em
2019, quando foi campeão de
cinco etapas da Taça Brasil, im-
pressionaram Avancini, que o
convidou para trocar a TSW Ra-
cingTeampelaCaloiTeam,equi-
pe da qual é mentor. “Ulan me
chamou a atenção pela men-
talidade esportiva que carrega,
e este é um ponto fundamental
para que o atleta possa crescer
na carreira”, diz Avancini.
Os dados atestam o mo-
mento de ascendência de
Ulan. Na lista do último ran-
king mundial divulgada pela
União Ciclística Internacional
(UCI), ele aparece em 110º lu-
gar no geral e em sétimo entre
os atletas sub-23. Subiu 12 po-
sições em relação ao levanta-
mento anterior. “A médio pra-
zo, acredito que ele vai se con-
solidar como umdosmelhores
atletas brasileiros da modali-
dade”, preconiza o mentor.
Paris na mira
Com o ciclo olímpico de Tóquio
fechado, Ulan Galinski mira
seus esforços para representar
o país em 2024, em Paris, ci-
dade natal de seu pai. Num
horizontemais próximoestãoa
cidade do México, onde será
realizada a próxima etapa do
Pan-americano, e a Alemanha,
onde Ulan representa o país
numa etapa do mundial. Resta
saber quando. As duas provas
estavam marcadas para o mês
de maio, mas devem ser adia-
das, embora a suspensão atual
das competições de mountain
bike sóvigoreaté30deabril. “É
difícil manter a motivação sem
saber quando será nossa pró-
xima competição”, confessa.
“Outro dia eu estava com
preguiça de fazer o pilates,
mas depois me lembrei que
Avancini disse que esse era um
bom momento para a gente
refletir sobre o impacto social
danossaprofissão. Depois que
essa pandemia passar, vai ter
muita gente precisando de
uma razão pra se alegrar. É por
essa alegria que as pessoas
precisamqueeunãopossodei-
xar de treinar”, filosofa.
Na gangorra da vida entre a
Bahiada infânciaeoRiodavida
adulta, Ulan busca razões para
inspirar-se e servir de inspira-
ção. “Logo que cheguei, me
contaram que teve uma festa à
fantasia aqui no Capão e um
menino de 13 anos apareceu
todo paramentado de ciclista.
Ele dizia pra todo mundo que
estava fantasiado de Ulan”.
Ulan também
trabalha a parte
física em casa
Difícil é controlar
a boca à mesa
com a família