Jornal A TARDE || Edição Digital - page 15

CADERNO 2
SALVADOR
QUARTA-FEIRA
1/4/2020
B7
JULI E JU MORAES JUNTAS
As cantoras baianas estão
no clipe e single Girassol, já
disponível em streaming
Divulgação
CORONAVÍRUS
Produtores culturais independentes enviam à prefeitura de Salvador
documento reivindicando medidas que possam mitigar a crise no setor
Música
dissonante
Lorena Vinturini / Divulgação
Fernanda Bezerra:
Produtores.BA já
contabiliza prejuízo
de R$ 1,3 milhão,
114 eventos
cancelados
EUGÊNIO AFONSO
Atualmente, tem sido quase
impossível tratar de qualquer
assunto, político ou não, que
não esteja relacionado à pan-
demia da Covid-19. O corona-
vírus estádiretae indiretamen-
te associado a quase todas as
questões político-sociais do
país neste momento.
Há indícios de que estamos
a caminho de uma recessão
econômica sem precedentes
se nada mudar em pouco tem-
po, já que vivemos uma pa-
ralisação de diversos setores
produtivos da sociedade. Sem
dúvida, umdos mais atingidos
é o da cultura e o da economia
criativa, e entre eles o setor de
eventos musicais independen-
tes, cuja atividade central en-
volve milhares de pessoas.
E é justamente por colocar
em risco toda a cadeia pro-
dutivadamúsica–artistas, téc-
nicos, casas de show, produ-
tores e empresas de produção,
fornecedores (palco, ilumina-
ção, sonorização, dentre ou-
tros) – que foi criado um con-
junto de medidas para tentar
reduzir os efeitos imediatos
desta crise no setor.
“Este documento é impor-
tante porque fizemos um ma-
peamento do prejuízo de um
grupo de empresas do setor,
mas que pode representar ou-
tras empresas e profissionais
do campo da cultura que estão
namesma situação. É urgente.
Emergencial”, conta o artista e
produtor Vince Athayde.
Assinadopelas 18empresas
da Associação Produtores.BA,
o documento é endereçado à
prefeitura de Salvador, mais
especificamente à Empresa de
Turismo S/A (Saltur) e à Fun-
dação Gregório de Mattos.
“Este é o início de um diá-
logo. A gente está chamando,
inicialmente a prefeitura, mas
tambémvai chamar o governo
do estado para conversar. A
cultura tambémtempautasur-
gentes e a gente confia que o
prazo de negociação será rá-
pido”, pontua a produtora Fer-
nanda Bezerra.
Pautas gratuitas
Entre as nove medidas reivin-
dicadas estão a disponibiliza-
ção de uma linha de crédito
com carência de seis meses e
taxas de 0,80% ao mês.
Os produtores querem tam-
bém uma renda básica emer-
gencial, com valor a ser de-
finido junto ao poder público,
peloperíodode90dias, cessão
de pauta gratuita nos equipa-
mentos culturais da prefeitura
de Salvador durante 12 meses
e alteração da lei de incentivo
Viva Cultura.
No entanto, o presidente da
Fundação Gregório de Mattos,
Fernando Guerreiro, garante
que qualquer alteração no Vi-
va Cultura precisa, primeiro,
passar por votação na Câmara
Municipal. “Esta alteração pre-
cisa ser definitiva, mas já está
sendo estudada. Com relação
à gratuidade das pautas, está
na nossa agenda e, com cer-
teza, será atendida, mas não
posso garantir o período nem
o formato”, adianta.
Já Isaac Edington, presiden-
te da Saltur, informa que todas
essas questões envolvem a
prefeitura como um todo e re-
conhece que grande parte da
economia da cidade gira mes-
moemtornodoentretenimen-
to, da música.
“A gente pede um pouco de
paciência para que se possa
avaliar todasas reivindicações.
Isso faz parte de uma estra-
tégia econômica da prefeitura
e envolve outras secretarias. É
uma questão bastante com-
plexa, mas temos toda a sen-
sibilidade com o setor”, avalia
Isaac.
Outras alternativas
Neste momento de confina-
mento compulsório, uma das
soluções encontradas pelos ar-
tistas foi se mobilizar para pro-
duzir conteúdo online, contu-
do a retribuição financeira nas
plataformas digitais ainda é
bem incerta.
“Estes movimentos ainda
não geram retorno financeiro
para o artista nem para o pro-
dutor porque sãoespontâneos
e não existem, ainda, marcas
nem políticas públicas que fi-
nanciemestes projetos aqui na
Bahia”, informa Bezerra.
Athayde corrobora com Fer-
nandaegarantequeoqueestá
acontecendo são ações solidá-
rias. “Muitos artistas estão fa-
zendo shows de voz e violãoou
até mesmo conversando com
seu público”, conta.
“Iniciativas que vêm para
amenizar e levar um pouco de
paz para este tempo de con-
finamento. É necessário lem-
brar que estas ações não são
monetizadas. Oartista não ga-
nha para fazer isso”, reforça.
E como o setor não suporta
por muito tempo essa ruptura,
osprejuízos seguemsendocon-
tabilizados. “Nãohá ainda algo
muito preciso. Só neste grupo
estimamos um prejuízo que ul-
trapassaR$1milhão, contando
com 30 dias de paralisação do
setor. Se juntarmos comoutros
grupos, estes números aumen-
tam. Segundoumlevantamen-
to da conferência musical SIM
São Paulo, no Brasil, o prejuízo
para o setor da música ultra-
passa R$ 400 milhões”, escla-
rece Athayde.
Para Bezerra, é importante
lembrar que a classe gera mi-
lhares de empregos e, desta
forma, movimenta a econo-
mia da cidade. “Se não tiver-
mos sucesso nesta negocia-
ção, poucos sobreviverão. Não
quero ser fatalista, mas o mo-
mento é muito crítico. Receio
que, a médio prazo, algumas
empresas não conseguirão se
sustentar. Já temos até agora
um prejuízo de R$ 1,3 milhão
com 114 eventos cancelados
ou adiados”, conclui.
Rafael Martins / Ag. A TARDE
Isaac Edington (Saltur): “Complexo, mas temos sensibilidade”
Uendel Galter / Ag. A TARDE
Fernando Guerreiro (FGM): “Gratuidade das pautas na agenda”
Divulgação
Vince (Commons): prejuízo nacional é cerca de R$ 400 milhões
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