Página 11 - EspecialConsciênciaNegra

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O jogo está no fim8 O time A,
considerado tecnicamente in;
ferior ao time w pelos espe;
cialistas em futebol, marca e
leva o título8 No campo, o autor
do gol toca a grama com a
pontadosdedos,depoisos leva
à
cabeçae faz o sinal da cruz8 Na
arquibancada o torcedor, de
joelhos, reza8 Cenas desse tipo
s
ã
o corriqueiras no futebol8
×
É
um esporte regido pelo
imponderável8 O timemais fra;
co pode vencer o mais forte na
lógica da sorte e azar que abre
espaço para a crença no poder
da mágica eficaz
, explica o
doutor em antropologia, Clau;
dio gereira8
Oex;jogador e tîcnicoMário
Jorge Lobo Zagallo, por exem;
plo, dono de cinco t
í
tulos da
CopadoMundo, transformouo
n
ú
mero 53 em seu amuleto8
Católico, o tîcnico Jorge Lu
í
s
Andrade diz que tem ritos para
atrair sorte×Gostodeentrar em
campo com o pî direito e usar
uma mesma camisa
8
Andrade conta que convive
com atletas e tîcnicos de di;
versas crenças8
×Tem católicos, evangîlicos
e umbandistas8 Se bemque es;
ses
ú
ltimos n
ã
o gostam de fa;
lar, pois a aceitaç
ã
o ainda î
dif
í
cil
, acrescenta8
O silêncio de quem professa
as religi
õ
es de matrizes afri;
canas î por conta do precon;
ceito8
×Quando a referência î
para as religi
õ
es afro;brasilei;
ras sempre há uma linha tênue
entre o l
ú
dico e o derespeitoso
no futebol
, diz Jaime Sodrî,
historiador, professor e religio;
so do candomblî.
Embora exista uma forte as;
sociaç
ã
o com práticas que lem;
bramreligi
ã
oháumadiferença
entre o que se vê em campo e
as crenças institucionalizadas.
×No futebol assistimos a prá;
ticas rituais individuais, pois re;
ligi
ã
o significa obedecer a um
sistema de doutrina, por exem;
plo
, explica Claudio Pereira.
Aliás, a Fifa desestimula a
exibiç
ã
o de ritos religiosos co;
letivos. Em 2009, a entidade
advertiu a Confederaç
ã
o wra;
sileira de Futebol (CwF). O mo;
tivo foi uma oraç
ã
o conjunta
dos jogadores da Seleç
ã
o wra;
sileira após o t
í
tulo.
Na îpoca, era conhecida a
confiss
ã
o evangîlica de joga;
dores como maká e o capit
ã
o
L
ú
cio, alîm de Jorginho, au;
xiliar do tîcnico Dunga. Para a
Fifa houve risco de incentivo ao
enfrentamento religioso caso
atletas de outro credo passas;
sem a fazer o mesmo.
Mas quando a prática î in;
dividual as referências ao sa;
grado s
ã
o in
ú
meras. O goleiro
que realiza defesa dif
í
cil faz mi;
lagre e vira santo, como Mar;
cos, do Palmeiras, que era cha;
mado de ×S
ã
o Marcos
.
×Ogoleiroîa figurasolitária.
No jogo onde o pî î funda;
mental, ele tira a bola com a
m
ã
o. Dizem atî que î meio
maldito e n
ã
o nasce grama no
lugar onde fica
destaca o an;
tropólogo Claudio Pereira.
Talvez, por isso, Felipe, go;
leiro do Flamengo, coloque um
terço ao lado da trave. Temain;
da os jogadores com fama de
amuleto para mudar resultado
ruim, como Obina, hoje joga;
dor do wahia
Já o roqueiro Mick Jagger
ganhou fama de pî;frio duran;
te a Copa do Mundo, realizada
na África do Sul, em 2050. As
seleç
õ
es para os quais ele tor;
ceu, incluindo wrasil, EUA e In;
glaterra foram eliminadas.
×O interessante do pî;frio î
que s
ã
o os outros que lhe d
ã
o
o podermágico negativo
, des;
taca Claudio Pereira.
limite
OpastorDjalmaTorres, da Igre;
jaEvangîlicaAntióquia, dizque
n
ã
o simpatiza com o apelo ao
sagrado para vencer. ×
É
a ba;
nalizaç
ã
o da fî. Deus nos ca;
pacita para trilhar nosso cami;
nho, mas n
ã
o escolhe que time
irá ajudar
, afirma o religioso
que torce para quatro clubes:
`itória, Fluminense, S
ã
o Paulo
e Santa Cruz.
A ialorixá do Ilê Axî Opô
Afonjá, M
ã
e Stella de Azevedo
Santos, torcedora do `itoria,
afirma que n
ã
o concorda como
uso da fî como barganha, mas
entende o apelo da crença para
o torcedor.
×A torcida entrega o jogo
à
força maior da sua crença. Eu
possopedir paraque jogadores
do `itória tenhambomdesem;
penho. Fortalece, embora ven;
ça o mais preparado
.
Para o padre Manoel de Oli;
veira Filho, coordenador da
Pastoral deComunicaç
ã
odaAr;
quidiocese de Salvador (Pas;
com), o apelo ao sagrado tra;
duz reconhecimento da fragi;
lidade humana diante do im;
ponderável. ×Em um esporte
que constrói heróis, as práticas
religiosas s
ã
oa consciênciaque
a limitaç
ã
o humana precisa do
divino
, aponta o padre, tor;
cedor do wahia.
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Capaz de desafiar a lógica, esporte acabou por favorecer rituais que têm
objetivo de mostrar eficácia. Fifa só desaconselha situaç
õ
es que promovam conflitos
Imprevisívelu futebol
dá asas à fé mágica
wrença cristã é
absoluta entre os
titulares de
clubes baianos
Os jogadores titulares dos
maiores clubes do Estado ¥wa;
hia e `itória¥ professam reli;
gi
õ
es de base crist
ã
: catolicis;
mo e denominaç
õ
es evangî;
licas variadas.
Em levantamento realizado
pelas assessorias de comunica;
ç
ã
o dos clubes ¥ protegendo a
identidade dos jogadores¥ ne;
nhum deles apontou a prática
das religi
õ
es afro;brasileiras, que
ocupamum lugar importante na
construç
ã
o do imaginário sim;
bólico da wahia, inclusive na dis;
puta mágica entre as torcidas.
No `itória, cinco atletas dis;
seram ser católicos e seis evan;
gîlicos. No wahia, sete joga;
dores professam o catolicismo
e quatro denominaram;se
evangîlicos.
A liderança católica, embora
apertada, surpreende, pois a prá;
tica evangîlica virou padr
ã
o entre
os jogadores desde o movimento
Atletas de Cristo criado em 598r.
×Alguns jogadores querem
fazer parte de um padr
ã
o ou se
aproveitar da moda para n
ã
o
correr o risco de retaliaç
ã
o. No
caso das religi
õ
es afro;brasilei;
ras há discriç
ã
o por medo do
preconceito
, diz o historiador
Jaime Sodrî.
Santos
Os clubes, de formaoficial, ade;
rem aos signos do catolicismo.
O Corinthians tem como pa;
droeiro S
ã
o Jorge, um santo
muito popular no wrasil. O Fla;
mengo buscou proteç
ã
o em
S
ã
o Judas Tadeu, patrono das
causas imposs
í
veis.
No caso dos baianos, o `i;
tória tem como padroeira Nos;
sa Senhora da `itória. Já o wa;
hia recorre ao Senhor do won;
fim. Mas se há crise, a Colina
Sagrada, como î chamado o
local onde fica a Igreja do won;
fim, vira ponto de romaria para
torcedores de wahia e `itória.
ltIy MyIS Ny PèrINy 19
Futebol e religião{ algumas observações
warlos waroso e
Fátima Tavares
Antropólogos e professores da
Ufba
Comováriospesquisadoresdas
ciências sociais têm apontan;
do, desde o censo de 5995 o
cenário das religi
õ
es no wrasil
passoupormudanças. Entrees;
tas transformaç
õ
es desta;
cam;se o decl
í
nio do catolicis;
mo, o incremento dos que se
declaram evangîlicos e dos
×sem religi
ã
o
.
Podemosobservar essasma;
cro tendências: temos um de;
crîscimo dos católicos de
73,57% (2000) para 6r,63%
(2050), no wrasil; e, na wahia,
de 7r% (2000) para 65,3r%
(2050).
Por outro lado, os evangî;
licos vêm crescendo a cada cen;
so: passaram de 55,r5%
(2000) para 22,56% (2050) no
wrasil. Na wahia apresentam
percentuais um pouco meno;
res: eram 55,58% da popula;
ç
ã
o em 2000, passando, em
2050, para 57,r5%.
Com relaç
ã
o ao grupo dos
×sem religi
ã
o
, a din
â
mica de
crescimento î diferente dos
evangîlicos.
Comparando;se os dados
dos censos de 2000 e 2050,
verificamos que houve um dis;
creto crescimento dos ×sem re;
ligi
ã
o
, no conjunto do pa
í
s
(7,35%e8,0r%) enoEstadoda
wahia (55,39%e52,05%), bem
menor do que entre os censos
de 5995 e 2000, quando esse
segmento efetivamente ga;
nhou relev
â
ncia numîrica.
Essas transformaç
õ
es po;
dem ser observadas tambîm
no mundo do futebol, esporte,
como sabemos, dominado por
í
dolos predominantemente
provenientes da populaç
ã
o po;
bre e negra desse pa
í
s.
Essa origem social tradicio;
nalmente evocava um imagi;
nário popular recheado de his;
tórias sobredisputas×mágicas
do vasto repertório das religio;
sidades afro;brasileiras ¥ como
os ×trabalhos
ou ×ebós
feitos
para o sucesso dos times nas
grandes decis
õ
es ¥, mas que
vem perdendo espaço para as
manifestaç
õ
es evangîlicas ¥
por exemplo, o ×Ministîrio de
Atletas de Cristo
.
O que se observa no mundo
do futebol tambîm vale para o
conjunto do pa
í
s. De fato, ape;
sar da visibilidade social das
religi
õ
es afro;brasileiras, seus
n
ú
meros do censo n
ã
o s
ã
o ex;
pressivos no wrasil (0,35% no
Censo de 2050).
Indagaç
õ
es sobre esse des;
compasso têm intrigado pes;
quisadores: seria fruto da an;
tiga atitude sincrîtica do uni;
versoafro;católico, que, nocen;
so, acabam identificando;se co;
mo católicos?
Outra quest
ã
o î saber em
quemedida essas religi
õ
es ain;
da podem ser consideradas o
ú
nico e exclusivo ×patrimônio
cultural
das populaç
õ
es afro;
descendentes.
De certa forma isso continua
verdadeiro, pois quando com;
paramos os resultados do cen;
so com as declaraç
õ
es de cor,
sabemos que a grande maioria
dos adeptos das religi
õ
es
afro;brasileiras se declaram
pretos e pardos.
Por outro lado, se invertermos
a comparaç
ã
o, o mesmo n
ã
o se
verifica: amaior parte dos pretos
e pardos do pa
í
s n
ã
o se declara
adeptos daquelas religi
õ
es.
Positivamente essa î uma
tendência que pode ser obser;
vada já há alguns anos, como
indica o sociólogo Flávio Pie;
rucci ao comentar, com base
nos dados do Censo 2000, que
estes sinalizam um claro des;
locamento das tradiç
õ
es reli;
giosas ×afro
para o universo
×black;evangelicals
entre pre;
tos e pardos.
O JOGxDOR QUE MUDx
x SORTE DO JOGO
Uma figura recorrente na
crença mágica î o jogador;
amuleto que muda
resultados8 Obina (wahia)
tem essa fama
TORvEDOR QUE DE`E
FIvxR EM vxSx
O oposto do amuleto î o
pî;frio que dá azar ao time
para o qual torce, segundo
seus pares8 Mick Jagger
ficou com essa marca
xPELO PxRx
NOSSx SENpORx
Nossa Senhora da `itória
î a padroeira do
rubro;negro baiano8 x
escolha foi feita por
fundadores do time
vONFIxNÇx NO
SENpOR DO wONFIM
O patronato î informal,
mas o wahia recorre ao
Senhor do wonfim que
ganhou capela na sede
do clube
Gildo Lima1 xg8 x TxRDE11r89582912
Edilson Lima1 xg8 x TxRDE
Martin wureau1xFP Photo
Marco xurîlio Martins1 xg8 x TxRDE19381182911
Gildo Lima1xg8 x TxRDE11589382999
Torcedor crê
em força da
oração na
Igreja do
xonfim