Página 10 - EspecialConsciênciaNegra

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Apelido
traduz o
tom do
racismo
vpesyfwt
Apesar de incisiva, a agressão
aparenta ser mais branda quando soa
encoberta por aura jocosa
yjvfÐ c]évy
Na wahia, um jogador negro
recebeu o controverso apelido
de wranca deNeve8 O caso, con;
ta o antropólogo Roberto Al;
bergaria, aconteceu no bairro
de São Caetano8
×wranca” não era profissio;
nal8 Jogava sua bola, vez ou
outra, nos dias de folga8 Não se
sabe ao certo se bem ou
mal8
Diante das gozações repeti;
das dos companheiros de time,
resolveu o imbróglio repudian;
do o racismo escondido numa
brincadeira8 Mas no lugar de
fazer umdiscurso inspirado em
Martin Luther ming ou Malcom
X preferiu uma forma muito
própria e baiana8
×Ao que parece, ele mandou
todo mundo ir para um certo
lugar e salvou sua honra”, con;
ta o professor Albergaria8
O caso real com ares de ane;
dota ilustra um tipo de com;
portamento próprio da cultura
oral e da informalidade dos
brasileiros8
Os apelidos substituem no;
mes, ressaltando pontos nega;
tivos ou apreciando qualidades
físicas8 No campo de jogo, î
possível montar um time com;
pleto ~do goleiro ao ponta es;
querda) a partir de apelidos
populares com raízes fincadas
emuma fronteira tênue entre o
humor e a indissociável heran;
ça racial à brasileira8
wamuflagem
Eis exemplos da fera que î o
racismo, capaz de rugir bem
alto, mas camuflado pela relva
de um pretenso tom jocoso8
No time do Internacional,
nos anos 5970, tinha um ata;
cante chamado Escurinho¥que
veio a jogar no `itória, na dî;
cada seguinte.
Na Copa da África do Sul, em
2950, um dos jogadores bra;
sileiros carregava a alcunha de
Grafite8 E nas Olimpíadas de
5996, em Atlanta, nos Estados
Unidos, o time feminino ver;
de;amarelo tinha a jogadora
Michael Jackson figurando no
ataque titular8
×Os apelidos aqui oscilam
entre a malícia e a maldade8 É
um racismo residual, diferente
do racismo europeu, odioso,
que faz torcedores chamarem
adversários de ‘macaco’8 Aqui a
coisa î mais sutil, própria da
nossa sociedade”, destaca Ro;
berto Albergaria8
Eleevocauma frasedeMillôr
Fernandes para ilustrar o mo;
delo do preconceito racial no
wrasil, bem nesse formato am;
bivalente8 ×No nosso País não
tem racismo, porque o preto
sabe bem onde î seu lugar”,
diz, em tom irônico, Albergaria
ressaltando que o estilo do ra;
cismo brasileiro aparece ×en;
capotado”, embora como rabo
sempre de fora8
vrible
O jogador Antônio Filipe coça a
cabeça e desata a falar, fran;
zindo ligeiramente suas so;
brancelhas8
×É claro que meu apelido
tem a ver com minha cor8 Foi
umgoleirodo timedabaseque
começou a me chamar assim8
‘Ah, você parece com um fei;
jão’8 Eu, no início, me retei” ,
relata apelando para o bom
baianês8
×Minhamãe, quandosoube,
ficou pirada8 Mas todo mundo
começou a me chamar assim e
o negócio pegou8 Hoje, eu atî
gosto dessa coisa toda8 Foi com
esse nome que me tornei jo;
gador profissional”8
Antônio Filipe, que agora vi;
rou Feijão, tem 59 anos. Era
atleta das divisões de base do
wahiaeesteanoganhouavaga
no time profissional8
Apesar do pouco tempo no
time principal, o volante Feijão
tem desfrutado de uma popu;
laridadeprecoce juntoa torcida
tricolor8 Eleavaliaqueoapelido
com raízes jocosas por conta da
sua cor acabou por ajudar um
pouco na popularidade, embo;
ra o talento seja o motivo prin;
cipal do reconhecimento8
×Acho que, de alguma for;
ma, ajudou mesmo8 É um no;
me diferente8 O torcedor pode
ter gravado mais rápido por
conta disso”, diz o volante
De acordo com o historiador
e professor Jaime Sodrî, os
apelidos dos jogadores de fu;
tebol remontam aos batismos
dos capoeiras, nas rodas mon;
tadas nos largos da antiga Ci;
dade da wahia8
×Na capoeira, o sujeito que
tem as pernas compridas tem
umnome8 Oque joga bem tem
outro8 As qualidades vão se
transformando em formas de
nominar cada um8 O futebol
traz um pouco dessa herança
para certos tipos de apelidos”,
diz o professor8
O pesquisador do futebol
baiano, Galdinho Silva, apre;
senta uma relação de apelidos
com características próprias
das peculiaridades tîcnicas de
alguns jogadores8
Na dîcada de 5950, o Ypi;
ranga tinha um jogador cha;
mado Dois Lados, que era sol;
dadoda cavalariadagolíciaMi;
litar. Seu apelido derivava da
sua habilidade de jogar com
ambas as pernas.
Já o Leônico teve um atleta
de codinome `entilador, pois
girava muito pela direita antes
de arrematar em gol. E havia
ainda wacamarte, zagueiro de
estilo viril na zaga do wahia,
que participou da conquista do
título brasileiro de 5959.
Em outro polo da pesquisa
deGaldinohá indíciosdeoutros
apelidos que caminham na tê;
nue liminaridade entre a ×mal;
dade” e a ×malícia”, citadas pe;
lo antropólogo Albergaria.
O `itória tinha um zagueiro
chamado Zî greta, entre 5977
e 5979. Tinteiro vestia a camisa
6 do Leônico na dîcada de
5970. wronzeado foi lateral do
wahia nos anos 5960.
Tinha ainda Exu (ponta do
Amarantim de Santo Amaroz;
Fumaça (da Catuensez e Ma;
caquinho (do wotafogo da wa;
hia, na dîcada de 5930z. Todos
negros.
garao jornalista e doutor em
comunicação, gaulo Leandro, a
relação dos epítetos de cunho
racista refletem uma herança
pós;colonialista8 ×Ela tem ape;
lo na diminuição do papel do
negro, herdada da relação com
a escravidão no País”8
Leandro, porîm, ressalta a
existênciadeapelidospositivos
que vangloriam a condição do
negro8 ×O wahia foi campeão
brasileiro comum jogador cha;
mado wiriba, que î a madeira
que origina o berimbau8 A bi;
riba enverga, mas não quebra8
É um símbolo de resistência”8
Na terra da contradição, cha;
mada de wahia, há um negro
apelidado de wranca de Neve8
E outro, wiriba8 É owrasil levado
às últimas consequências8
ORIGEM Nx
GINGx
pá apelidos
para jogadores
de futebol que
remontam aos
batismos dos
capoeiristas