Página 10 - Caderno Consci

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SALVADOR
QUINTA-FEIRA
20/11/2014
10
ESPECIAL
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Eles são novos, mas pensam
e agem como gente grande
quando o assunto é o combate ao
racismo. E fazem isso por meio da
arte em linguagens como
literatura, música e desenho.
O pequeno músico e rapper
Vanmarley José dos Santos usa
seu talento para falar que o
importante é “gostar das pessoas
pelo que elas têm por dentro” e
não pela cor da sua pele.
“Somos todos iguais: negros e
brancos. E as pessoas não devem
julgar pela cor da pele, pelo
cabelo, dizendo que ser negro é
ruim. Eu mesmo sou rastafári e
quero que aceitem meu cabelo,
minha cor”, diz o menino de 10
anos, que faz parte do projeto
social Quabales, sediado no bairro
Nordeste de Amaralina.
Por meio da escrita, os irmãos
Luara, 12 anos, e Luan Dantas
Silva, 7 anos, tambémdizemoque
pensam sobre o assunto. Autores
dos livros A menina africana e O
menino e o dragão, eles são firmes
ao falar como as pessoas podem
acabar com a discriminação.
“Basta respeitar”, diz Luan, com
a simplicidade de uma criança que
sabe das coisas.
O mesmo acontece com Luara,
que resolveu escrever sobre a
história de uma menina africana
após ser provocada por uma
atividade na escola.
Depois, ela falou sobre sua
criação para o historiador e
professor universitário Jaime
Sodré. Desta conversa, surgiu a
ideia de fazer o livro, que foi
lançado em 2012.
“Queria, com o livro, mostrar
que podemos combater o
racismo. E consigo fazer isso. Por
meio do livro, muitas crianças e
colegas passaram a falar sobre o
assunto”, conta ela, dizendo que
“não tem nada a ver ter
preconceito contra os negros”.
Apesar da pouca idade, a
menina já templanos, assimcomo
o irmão, de lançar novos livros.
“Estou pensando ainda em um
tema, porque adoro escrever. É a
maneira que tenho de expressar
meus sentimentos”, revela.
Movido pela mesma ideia de
enfrentar o preconceito usando
a arte, o fluminense Cleidison
de Sena Coutinho, 10 anos,
surpreendeu com um gesto em
setembro deste ano.
Em protesto contra a ausência
de crianças negras em desenhos
animados,
ele pintou os
personagens da Turma da Mônica
que ilustravam a capa da prova
com lápis marrom. O caso ganhou
repercussão emobilizou o país em
torno da discussão.
PROTAGONISMO
CRIANÇAS UTILIZAM LINGUAGENS
ARTÍSTICAS PARA FALAR SOBRE
RACISMO E FORMAS DE COMBATE
RACISMO DEVE SER
COMBATIDO DE
FORMA CONJUNTA
Falar de igualdade entre as
pessoas, segundo o historiador e
professor universitário Jaime
Sodré, é uma forma de evitar que
o racismo aconteça na infância,
principalmente no ambiente
familiar.
“Muitas vezes, as crianças
repetem os comentários racistas
que os pais e familiares fazem
e acabam passando adiante,
para outras crianças. E isso
se transforma em bullying”,
acrescenta Jaime. Para ele, os
pequenos não têm condições de
superar a discriminação sozinhos,
precisando da ajuda dos pais e
professores.
No livro Mocri – Movimento de
Conscientização contra o Racismo
Infantil, Jaime explica como
acontece discriminação por meio
da personagem Carolina, de pele
branca, e Ritinha, que é negra. “A
personagem branca é quem luta
contra o racismo no livro. Escolhi
contar a situaçãodesta formapara
mostrar que não só o negro deve
combater a discriminação”, diz
Jaime.
Marivaldo dos Santos, criador
do projeto Quabales e músico da
banda norte-americana Stomp,
também afirma que é importante
combater o racismo desde cedo.
“Acho importante mostrar para as
crianças (negras) que elas têm o
mesmo potencial que outras”.
No projeto, que atende crianças
a partir de 6 anos – maioria negra
–, Marivaldo diz que trabalha a
autoestima e a liderança. “O
Quabales trabalha isso por meio
da música e da arte. Nada é tão
valioso quanto ter respeito e
manter a autoestima. Isso
atravessa qualquer tipo de
barreira e preconceito”, afirma.
Conheça a infância de pessoas que
lutaram contra o racismo no Brasil
“Era uma vez, há mais ou menos cem anos, uma menina que morava nas
estrelas. Humm... pensando bem, acho que eram as estrelas que habitavam
dentro dela, por isso as pessoas gostavam de lhe contar histórias e segredos,
como se conversassem com uma iluminada e bela noite escura (...). A vó queria
que se chamasseEunice,mas elaacabou se chamandoCarolinaMaria. Irrequieta
como um céu cheio de astros...”. Saiba mais sobre Carolina de Jesus no texto
de Landê M. Munzanzu Onawalê, poeta e escritor. Você encontra essa e outras
belas histórias no blog Mundo Afro (www.mundoafro.atarde.com.br).
A MENINA DAS ESTRELAS
SUGESTÕES DE LEITURA
BRUNA E A GALINHA D’ANGOLA
Gercilga S. de Almeida –
Ed. Pallas
AS TRANÇAS DE BINTOU
Sylviane Anna Diouf –
Ed. Cosac Naify
MOCRI (MOVIMENTO DE
CONSCIENTIZAÇÃO CONTRA O
RACISMO INFANTIL)
Jaime Sodré
O MUNDO NO BLACK POWER DE
TAYÓ
Kiusam de Oliveira –
Ed. Peirópolis
SIKULUME E OUTROS CONTOS
AFRICANOS
Julio Emílio Braz –
Ed. Pallas
MENINA BONITA DO LAÇO DE
FITA
Ana Maria Machado –
Ed. Ática
A SEMENTE QUE VEIO DA
ÁFRICA
George Sgneka, Mário
Lemos e Heloísa Pires Lima –
Ed. Salamandra
MEUS CONTOS AFRICANOS
Vários autores. Martins –
Ed. Martins
CHUVA DE MANGA
James
Rumford – Ed. Brinque Book
VOVÓ DO MANGUE E VOVÓ DO
MATO
Vilson Caetano de
Sousa Jr – Ed. Brasil com Artes
A DONA DAS ÁGUAS
Vilson
Caetano de Sousa Jr., Emília da
Cruz Santos e Edite dos Santos
– Ed. Brasil com Artes
JURACY DOS ANJOS
repórter
Os irmãos Luara,
12, e Luan, 7,
são escritores
Vanmarley, 10
anos, usa a
música contra o
preconceito