Página 95 - A&D_v23_n3_2011

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Filipe Prado Macedo da Silva
Bahia anál. dados, Salvador, v. 23, n. 3, p.567-585, jul./set. 2013
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O Plano Territorial de Desenvolvimento Rural
Sustentável (PTDRS) é o documento mais importan-
te preparado pelo Codes Sisal. É neste documento
que são indicadas as prioridades do Território do Si-
sal. O PTDRS constitui uma
proposta de desenvolvimen-
to sustentável e rural, identi-
ficando as potencialidades e
desafios, descrevendo as es-
tratégias de ações com vis-
tas à promoção de melhorias
sociais, que são trabalhadas
no Codes Sisal em oito eixos
prioritários: 1) agricultura familiar; 2) saúde; 3) edu-
cação para a sustentabilidade; 4) infraestrutura; 5)
comunicação; 6) geração de trabalho e renda; 7)
cultura, e 8) meio ambiente. Com a definição dos
eixos prioritários, são formados Grupos de Trabalho
(GT) que delineiam as ações e os programas com
base nas demandas sociais.
O exemplo da Apaeb-Valente
Desde os anos 1980, a Apaeb-Valente é “um
centro de experimentação tecnológica e apren-
dizagem” (SILVA, 2012). Criada por um grupo de
pequenos agricultores, a associação “surgiu num
momento em que o preço da fibra de sisal alcan-
çou seus níveis mais baixos”, lançando milhares de
agricultores e trabalhadores na miséria (SILVEIRA;
WANDERLEY; CUNHA, 2005, p. 22). Assim, o ob-
jetivo da Apaeb-Valente visava à melhoria da qua-
lidade de vida do pequeno produtor rural e dos tra-
balhadores do sisal, promovendo desenvolvimento
social e econômico (SILVA, 2012, p. 194-202). No
início, a Apaeb era um simples mercadinho de co-
mercialização do sisal.
A batedeira comunitária
5
da Apaeb-Valente foi o
ponto de partida, em 1986, para quebrar o acordo
de preços entre os intermediários do sisal e “[...] o
5
A batedeira é o local onde a fibra de sisal é batida, escovada, classifi-
cada e enfardada.
berço de todo o processo de industrialização [do
sisal]” (SILVA; SILVA, 2001, p. 10). A partir daí, a
associação começou a exportar a fibra de sisal, re-
alizando a primeira exportação em 1989. Agora, a
batedeira da Apaeb-Valente
recebe fibra de sisal de mais
de 15 municípios (no entor-
no do município de Valente),
processando entre 80 e 100
toneladas de fibra de sisal
por mês (em 2011). O fluxo
ininterrupto de fibra de sisal
é garantido pelos agricultores
associados, já que a Apaeb-Valente paga um bônus
entre 3% e 5% a mais no preço da fibra de sisal en-
tregue pelos agricultores associados (SILVA, 2012).
Em 1995, como parte da estratégia de avançar
verticalmente na cadeia produtiva do sisal, a as-
sociação fechou o ciclo agroindustrial instalando a
fábrica de tapetes/carpetes. Com o auxílio do go-
verno Belga e do Banco do Nordeste, a Apaeb-Va-
lente obteve mais de US$ 10 milhões, sendo 75%
em empréstimos e 20% em doações. Outros 5%
foram assumidos pela própria associação mediante
o aporte dos agricultores associados. Esse capital
foi utilizado para construir a estrutura produtiva e,
em especial, adquirir equipamentos têxteis da Ho-
landa. A fábrica iniciou a produção em 1996 e, além
de agregar empregos, permitiu agregar valor aos
produtos do sisal. Assim, as atividades da Apaeb-
-Valente na cadeia produtiva do sisal vão do estímu-
lo ao cultivo do sisal até a produção e exportação
de tapetes/carpetes.
O sucesso da fábrica abriu caminho para a ex-
pansão geográfica (a Apaeb-Valente atua em outros
municípios, como Queimadas e Retirolândia) e para
outras atividades. Neste contexto, a associação
passou a diversificar suas atividades produtivas,
investindo ainda na cadeia produtiva do couro, do
mel, e do leite de cabra (SILVEIRA; WANDERLEY;
CUNHA, 2005). Além disso, mantém outras ativi-
dades econômicas como: um posto de vendas (ou
seja, um supermercado) e uma loja de artesanatos
A economia no Território do
Sisal é sustentada pelos gastos
governamentais, pelos recursos
oriundos de transferências
constitucionais e pelos recursos
provenientes das transferências
de renda