Página 91 - A&D_v23_n3_2011

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Filipe Prado Macedo da Silva
Bahia anál. dados, Salvador, v. 23, n. 3, p.567-585, jul./set. 2013
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Em outras palavras, os efeitos positivos da extra-
ção do sisal estiverammuito aquém das expectativas
proclamadas na década de 1940. A relação de ex-
propriação-exploração mostrou que o cultivo do sisal
estava (e está) subordinado a
um sistema produtivo perver-
so e de comercialização oli-
gopólica. Ou seja, o sisal não
era apenas o “ouro verde”,
mas era ainda a “fibra da ser-
vidão” (BAHIA, 1991). Com a
crise do sisal, a combinação
de preços baixos e pouco remunerativos a peque-
nos produtores e trabalhadores rurais eliminou um
expressivo contingente populacional da região e da
cultura do sisal. A crise local estimulou a migração de
trabalhadores rurais para centros urbanos regionais
(Feira de Santana), estaduais (Salvador) e nacionais
(São Paulo e Rio de Janeiro) em busca de melhores
condições de vida.
A descrença e a desolação, tão predominantes
nos anos anteriores a 1930, prejudicavam a autoes-
tima do sertanejo, com pobreza e penúria. O acirra-
mento da espoliação no campo foi o estopim para
novas práticas de mobilização e de inspiração de
alternativas organizativas e políticas na região sisa-
leira (CODES SISAL, 2010, p. 24-26). Com a ajuda
da Igreja Católica, a sociedade civil iniciou sua luta
ainda, na década de 1960, com a formação do Movi-
mento de Organização Comunitária (MOC), mas só
granjeou visibilidade nos anos 1980 e 1990, com a
institucionalização das organizações coletivas como,
por exemplo, a Associação dos Pequenos Agriculto-
res do Estado da Bahia (Apaeb) e os STR (ALMEI-
DA, 2006; CODES SISAL, 2010; SILVA, 2012).
Apesar das inúmeras mobilizações, reivindica-
ções e lutas sociais, a década de 1990 foi marcada
por uma crise econômica de proporções gigantes-
cas, que aprofundaram as condições de pobreza e
miserabilidade na região sisaleira (ALMEIDA, 2006).
Segundo Alves (2005, p. 37), somente em meados
de 2002 é “[...] que a economia [no Território do Si-
sal] começou a apresentar sinais de recuperação,
em virtude de uma elevada demanda por sisal, de-
vido à preocupação com a preservação ambiental
e o crescimento da preferência de produtos natu-
rais [...]”, além da relevante entrada da China no
mercado como comprador.
A partir de 2003, o Território
do Sisal passou a ser influen-
ciado por políticas territoriais
nacionais, possibilitando que
a sociedade civil tivesse “em
suas mãos os seus destinos”
(SILVA, 2012, p. 140).
Características demográficas e sociais
Nos últimos 50 anos, a população do Território
do Sisal cresceu 141%, passando de 241 mil habi-
tantes em 1960, para 582 mil habitantes em 2010.
Entre 1960-1970, a população cresceu 43%. A partir
daí, a taxa de crescimento populacional caiu para
32% entre 1970-1980; para 15% entre 1980-1991, e
para 4% entre 1991-2000. Entre 2000-2010, a taxa
de crescimento populacional subiu ligeiramente para
5%. Mesmo assim, a tendência geral foi de um cres-
cimento demográfico decrescente ao longo dos últi-
mos 50 anos. Entre 1995 e 2000, o saldo migratório
do Território do Sisal ficou negativo, em cerca de oito
mil habitantes. Boa parte dos municípios do Território
do Sisal proporcionou saldo migratório negativo, com
exceção de Ichu, Valente, Santaluz e Nordestina.
Em relação à distribuição da população, obser-
va-se que o Território do Sisal, desde a década de
1970, tem uma população muito concentrada. Em
2010, os cinco municípios mais populosos (popula-
ção superior a 50 mil habitantes) – Araci, Conceição
do Coité, Monte Santo, Serrinha e Tucano – con-
centravam 50% da população total do Território do
Sisal. Enquanto isso, os quatro municípios menos
populosos (população inferior a dez mil habitantes)
– Candeal, São Domingos, Lamarão e Ichu – con-
centravam 5% da população total do Território do
Sisal. Nesse contexto, Serrinha é o município mais
populoso, com 77 mil habitantes, e Ichu o menos
A década de 1990 foi marcada
por uma crise econômica de
proporções gigantescas, que
aprofundaram as condições de
pobreza e miserabilidade na
região sisaleira