Página 89 - A&D_v23_n3_2011

Versão HTML básica

Filipe Prado Macedo da Silva
Bahia anál. dados, Salvador, v. 23, n. 3, p.567-585, jul./set. 2013
573
estrangeiras, de que a Bahia é uma referência no
approach
territorial como estratégia de gestão e pla-
nejamento público (SILVA, 2012). No entanto, é im-
portante ressaltar que o processo de territorialização
é muito recente, com ajustes
em curso – e cuja integração
(dentro do próprio governo da
Bahia) ainda não é concreta.
Resumindo, a abordagem
territorial proporciona não
apenas soluções para os pro-
blemas do desenvolvimento,
mas traz, igualmente, novos desafios para a gestão
pública (FAVARETO, 2009; SILVA, 2012).
O TERRITÓRIO DO SISAL NA BAHIA
Aspectos geográficos e históricos
O Território do Sisal está situado no semiárido
baiano, abrangendo 20 municípios: Araci, Barrocas,
Biritinga, Candeal, Cansanção, Conceição do Coi-
té, Ichu, Itiúba, Lamarão, Monte Santo, Queimadas,
Retirolândia, São Domingos, Quijingue, Nordestina,
Santaluz, Serrinha, Teofilândia, Tucano e Valente
(ver Figura 1). No total, o Território do Sisal ocupa
uma área de 3,6% da área total do estado da Bahia,
que é de 564.692 km² (SUPERINTENDÊNCIA DE
ESTUDOS ECONÔMICOS E SOCIAIS DA BAHIA,
2011). Em outras palavras, o Território do Sisal pos-
sui uma extensão territorial de 20.454 km² – com
nove municípios com área superior a 1.000 km²,
sete municípios entre 300 km² a 1.000 km², e quatro
com área menor a 300 km² (SILVA, 2012, p. 126).
Ou seja, o território é caracterizado por municípios
geograficamente grandes.
Sobre o clima, o Território do Sisal possui uma
temperatura média anual entre 23,6ºC e 24,9ºC,
com pluviosidade anual entre 485,7mm (em Cansan-
ção) e 942,4mm (em Barrocas). Essa precipitação
pluviométrica é periódica e irregular, concentrando
70% das chuvas em dois ou três meses do ano (de
novembro a junho), o que significa que o território
não tem estações climáticas bem definidas (CO-
DES SISAL, 2010). Essas características climáti-
cas, associadas ao contexto
geográfico e à baixa hipso-
metria/altitude, classificam o
Território do Sisal no tipo cli-
mático semiárido. As únicas
exceções neste território são
os municípios de Barrocas,
Ichu, Lamarão e Serrinha,
considerados subúmido a seco. Essas condições
climáticas adversas dificultam a atividade produtiva
rural e a sobrevivência da população.
De acordo com a história, o Território do Sisal
está diretamente vinculado ao período colonial bra-
sileiro – quando os colonizadores portugueses che-
garam ao semiárido nordestino emmeados do sécu-
lo XVI (CODES SISAL, 2010, p. 24). Para ocupar o
vasto território, “[...] a pecuária extensiva foi um dos
instrumentos [mais] utilizados [...]”, pela sua “[...] ca-
pacidade de penetração pelo interior adentro e pelos
baixos custos [...], chegando [até] à Região do São
Francisco no século XVIII” (CODES SISAL, 2010,
p. 24-25). Para os historiadores, essa estratégia de
ocupação não foi perpetrada isoladamente, mas em
conjunto com outros tipos de práticas políticas e eco-
nômicas que persistem até os dias atuais, como, por
exemplo, a grande propriedade de terra (o latifúndio),
o assistencialismo, o clientelismo e o coronelismo.
Esse paradigma adquiriu novos contornos a
partir da década de 1930, quando a cultura do sisal
“operou uma profunda transformação social, crian-
do riquezas, fixando populações, desenvolvendo a
economia [...] criando, enfim, uma civilização nova
onde, dantes, só reinava a descrença e a desolação”
(MARQUES, 1978, p. 2-3). Por tudo isso, o sisal foi
considerado a “planta redentora”, recuperando eco-
nômica e socialmente um extenso território que vi-
via em “extremo pauperismo”, com sua população
flagelada pela pobreza e sujeita periodicamente
aos êxodos rurais. A cultura do sisal alcançou papel
A abordagem territorial
proporciona não apenas
soluções para os problemas
do desenvolvimento, mas traz,
igualmente, novos desafios para
a gestão pública