Página 65 - A&D_v23_n3_2011

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Wallace da Silva de Almeida, Denílson da SilvaAraújo
Bahia anál. dados, Salvador, v. 23, n. 3, p.529-551, jul./set. 2013
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manutenção e à ampliação da qualificação do traba-
lho técnico – realizado principalmente no interior dos
institutos federais de ensino. Finalmente, a abertu-
ra de linhas de crédito direcionadas à atualização
tecnológica das plantas assume importância funda-
mental, assim como o estímulo a uma maior integra-
ção com a indústria de confecções e de calçados.
Em relação à indústria de confecções pode-se
afirmar que este ramo é um dos mais tradicionais do
Nordeste, porém, nas últimas décadas, o setor evo-
luiu consideravelmente e passou por um importan-
te processo de expansão, com duas características
diferentes. Por um lado ocorreu um crescimento do
artesanato tradicional que também vem evoluindo
gradativamente, adotando métodos produtivos um
pouco mais modernos, como é o caso da produção
de
jeans
em Toritama (PE) e de redes em São Bento
(PB), por exemplo. De outro, diversas indústrias de
confecções foram atraídas para a região, prepon-
derantemente através de incentivos fiscais. Dentre
as principais encontram-se: Hering, Vicunha, Cote-
minas, Marisol e outras (DINIZ; BASQUES, 2004).
Diferente da indústria de confecções, a indústria
de calçados foi instalada recentemente na região
nordestina, proveniente, em grande parte, dos es-
tados de São Paulo e Rio Grande do Sul. Esta in-
dústria é especializada na fabricação de calçados
sintéticos. Assim como a indústria de confecções,
a de calçados também se localizou no Nordeste em
busca dos incentivos fiscais e mão de obra barata,
e mantém pouca relação com as demais ativida-
des praticadas na região, uma vez que recebe os
insumos, fabrica seus produtos e, logo em seguida,
os vende em mercados externos à região. Por esta
razão pode-se dizer que funciona como enclave.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conforme demonstrado no presente trabalho, o
recente debate sobre a desconcentração produti-
va nacional tem-se caracterizado por argumentos
que apresentam uma perspectiva um tanto quanto
pessimistas. Em síntese, estes argumentos desta-
cam: a tranformação no papel desempenhado pelo
Estado; as vantagens do Sudeste, notadamente
São Paulo, quanto à disponibilidade de infraestrutu-
ra, mão de obra qualificada, maior investimento em
pesquisa, maior proximidade do Mercosul, quan-
tidade superior de municípios de grande e médio
porte com elevada capacidade de atrair investimen-
tos, entre outros fatores.
Apesar dos fatos e argumentos defendidos por
Diniz (1993), Guimarães Neto (1995) e Cano (1995),
são identificados alguns outros fatos e potencialida-
des na Região Nordeste que podem contrabalançar,
ao menos em parte, as vantagens apresentadas pe-
las áreas localizadas no centro de acumulação ca-
pitalista brasileiro, desde que atrelados a um projeto
nacional de desenvolvimento regional.
Ainda que ocupem posição subalterna na divi-
são inter-regional do trabalho, os polos industriais
e agroindustriais já em funcionamento no Nordeste
podem beneficiar-se de algumas vantagens com-
petitivas e do maior incentivo às exportações, apre-
sentando, assim, potencial para assumir um papel
mais relevante para o país no futuro.
As deseconomias de aglomeração que ocorrem
nas regiões Sul e Sudeste – explicitadas nos custos
de terrenos, nos diferenciais de salário e na atuação
dos sindicatos, entre outros – também podem, em
determinados casos, fazer com que novos projetos
industriais e/ou agropecuários sejam atraídos pelas
regiões periféricas. Por último, os incentivos fiscais
e financeiros também podem ajudar a atrair investi-
mentos produtivos para o Nordeste.
Diversas atividades apresentam potencial para
elevar o nível do produto nordestino. Além do tu-
rismo, segmento bem desenvolvido na região, mas
com muitas possibilidades de crescimento, desta-
cam-se: a exploração mineral; a agricultura irrigada
no semiárido; a emergência de alguns polos indus-
triais em cidades de médio porte, e a disponibili-
dade de centros, como Recife e Campina Grande,
que possuem boa qualificação na área científica e
tecnológica.