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Economia regional e abertura comercial: acumulação capitalista no território brasileiro
e nordestino (1991-2011)
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Bahia anál. dados, Salvador, v. 23, n. 3, p.529-551, jul./set. 2013
Desta forma, para que estas potencialidades
possam efetivar-se é necessário que ocorra uma
reativação da política de desenvolvimento regional,
além de modificações na hierarquia das tarifas de
importação. Neste sentido, este trabalho defende a
implementação de uma política mais ostensiva de
incentivos fiscais e creditícios, que também busque
a ampliação da infraestrutura das regiões menos
desenvolvidas.
Neste contexto, espera-se que o Estado compen-
se, através de ações mitigadoras quando preciso, a
relativa falta de investimentos privados. Porém, cabe
ressaltar que a economia geralmente dá respostas
mais amplas e permanentes quando à intervenção
incentiva à expansão da base produtiva.
Percebe-se que os investimentos estatais dire-
cionados às regiões periféricas nos últimos anos
vêm apresentando uma tendência de concentração
em suas áreas mais dinâmicas, ou seja, onde os
agentes privados preferem localizar-se em função
da existência dos novos fatores de competitividade,
gerando um dinamismo conduzido pela lógica do
mercado. O que preocupa a partir de tal constatação
é que, no Nordeste, muitas áreas não- competitivas
possuem grande contingente populacional.
A conclusão que emerge das observações e
análises realizadas neste trabalho é a de que a
inserção brasileira na economia internacional, em
um ambiente de intensa globalização, foi bastante
diferenciada. Esta diferenciação tende a aprofundar
as históricas e perversas desigualdades entre as
regiões do país. A própria forma pela qual ocorre o
crescimento da economia mundial é extremamente
assimétrica. Segundo Pacheco (1996), os agentes
econômicos globais interessam-se apenas pelos
espaços competitivos do Brasil. Esta observação é
fundamental, pois chama a atenção para a orienta-
ção dos investimentos a partir de interesses priva-
dos e não do interesse nacional brasileiro.
Assim, de acordo com o exposto, fica claro que
as desigualdades históricas entre as regiões brasilei-
ras tendem a aprofundar-se, destacando-se apenas
alguns focos de competitividade e dinamismo, caso
não seja implementada, em caráter de urgência, uma
política nacional de desenvolvimento regional.
A grave crise pela qual passa o Estado, desde
o inconteste alinhamento com o Consenso de Wa-
shington, e o evidente tratamento não prioritário
concedido ao objetivo da integração nacional, nas
últimas décadas, sinalizam neste sentido. Cabe res-
saltar, como mencionado anteriormente, que isso se-
ria conveniente a determinados grupos econômicos
e políticos conservadores que historicamente têm
colocado seus próprios interesses acima dos inte-
resses da nação.
Esta tendência de agravamento das desigual-
dades vem fortalecendo dinâmicas específicas no
interior dos estados nordestinos. No Rio Grande do
Norte e em Pernambuco, por exemplo, o dinamis-
mo das áreas de fruticultura contrapõe-se à grave
crise das áreas do antigo complexo gado-algodão –
apesar de estas áreas ficarem próximas, em ambos
os estados. De semelhante forma, a morosidade na
busca por alternativas para a produção do cacau na
Bahia contrasta-se com o dinamismo das áreas situ-
adas no oeste do estado.
Furtado (1992) já afirmava que a inserção sele-
tiva da economia brasileira à economia mundial te-
ria como consequência o abandono das áreas não
-competitivas. Portanto, há pelo menos duas déca-
das, a tendência de fragmentação da economia bra-
sileira vem-se manifestando sem que o Estado atue
efetivamente a fim de contrarrestar os efeitos nega-
tivos deste processo. Ao que parece, o Nordeste já
está dando sinais de que deverá acompanhar esta
tendência geral de fragmentação nos próximos anos.
Assim, o futuro aponta, particularmente com relação
à região nordestina, para a intensificação das hetero-
geneidades herdadas do passado recente.
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Tânia Bacelar de. Nordeste, Nordestes: que
Nordeste? In: AFFONSO, Rui de Britto Álvares; SILVA, Pedro
Luiz Barros (Org.).
Desigualdades regionais e desenvolvimento
.
São Paulo: Fundap; Unesp, 1995. p. 125-156.