Página 59 - A&D_v23_n3_2011

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Wallace da Silva de Almeida, Denílson da SilvaAraújo
Bahia anál. dados, Salvador, v. 23, n. 3, p.529-551, jul./set. 2013
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NORDESTE: TENDÊNCIAS,
PERSPECTIVAS E POTENCIALIDADES NA
CONTEMPORANEIDADE
Os entraves à exportação de bens industriais
Durante as últimas décadas, a economia do
Nordeste, como um todo, não obteve vantagens
comparativas em seu comércio com resto do mun-
do
6
, perdendo participação relativa nos produtos
tradicionais, em especial algodão, fumo, açúcar e
cacau. Segundo Diniz (2004), entre 1960 e 2000 as
exportações brasileiras foram multiplicadas por 44,
em dólares nominais, e as nordestinas, apenas por
14. Isto provocou uma acentuada queda da partici-
pação relativa da região no total das exportações
brasileiras. No início da década 1960, o Nordeste
detinha uma participação de 23%, porém, em 2000,
atingiu apenas 7,6% (Tabela 9).
6
O setor exportador nordestino tinha a instabilidade como principal ca-
racterística, apresentando vários períodos de auge e declínio, desde
a segunda metade do século XVII. Após a grande crise de 1929, os
fluxos de comércio sofreram modificação com a ampliação do comér-
cio inter-regional de mercadorias. Isto gerou uma relação de depen-
dência e complementaridade, além de uma forte concorrência em
relação à Região Sudeste.
Os produtos de origem agrícola (algodão, ca-
cau, mamona, açúcar, fumo, sisal, castanha de
caju, cera de carnaúba, entre outros) compunham
cerca de 85% da pauta de exportações nordestinas
até os anos 1970. A redução das exportações de
açúcar – que até a década de 1980 era o produto
de maior relevância – promoveu uma significativa
diminuição da participação relativa dos estados de
Pernambuco e Alagoas no total das exportações
da região, reduzindo-a de 39,1% para 12,7% entre
1980 e 2000.
Nos anos de 1980, a pauta de exportação nor-
destina começou a registrar uma relativa diversifica-
ção, com a introdução de produtos petroquímicos e
celulose (na Bahia) alumínio e gusa (no Maranhão),
promovendo uma elevação da participação destes
estados no total do valor exportado da região. No
entanto, estes dois estados não apresentam muita
vinculação com o Nordeste oriental. Este fato se
explica por estarem geograficamente localizados
nos extremos da região. Nos demais estados nor-
destinos, nesse período, a expansão das expor-
tações baseou-se basicamente em pescados e
frutas. Contudo, recentemente alguns passaram a
exportar calçados e tecidos, principalmente o Cea-
rá. A expansão observada ainda é pouco relevante
considerando a magnitude da economia e da po-
pulação desses estados (DINIZ; BASQUES, 2004).
A falta de capacidade exportadora observada na
Região Nordeste pode ser explicada pela lógica do
modelo de substituição de importações no qual se
baseou significativa parcela da ampliação do setor
industrial nordestino nas últimas décadas. O referido
modelo fez com que a região ficasse cada vez mais
dependente da importação de bens de capital e insu-
mos, o que promoveu um crescimento da participa-
ção nordestina no total das importações brasileiras,
passando de 5% no início dos anos de 1960 para 9%
em 2001 (GALVÃO, 2002). A principal consequência
dessa estrutura exportadora foi a geração de
déficits
na balança comercial a partir de 1996.
A incapacidade estrutural de expandir as expor-
tações é um grande entrave para o crescimento e o
Tabela 9
Participação dos estados no total das exportações
nordestinas – 1970-2000
(em %)
Estados
1970
1980
1990 2000
Maranhão
1,0
0,5
14,6
18,8
Piauí
0,4
0,8
1,1
1,6
Ceará
12,9
6,7
7,6
12,3
Rio Grande do Norte
2,1
2,4
2,9
3,7
Paraíba
3,6
2,1
1,7
1,9
Pernambuco
23,7
20,7
13,2
7,1
Alagoas
13,2
18,4
9,6
5,6
Sergipe
0,2
0,5
1,3
0,7
Bahia
42,9
48,0
48,0
48,3
Nordeste
100,0 100,0 100,0 100,0
Nordeste/Brasil
15,9
11,1
9,8
7,6
Fonte: Galvão (2002), Vergolino e Monteiro Neto (1998 apud DINIZ, 2004, p. 63).