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Economia regional e abertura comercial: acumulação capitalista no território brasileiro
e nordestino (1991-2011)
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Bahia anál. dados, Salvador, v. 23, n. 3, p.529-551, jul./set. 2013
Desta forma, ao proteger e estimular os setores
industriais que apresentam maior capacidade de
criação de efeitos multiplicadores no âmbito inter-
no, ainda que tais efeitos se manifestem assimetri-
camente com relação a sua localização regional, o
próprio Estado passa a ser o principal agente pro-
motor das desigualdades inter-regionais no Brasil.
A intenção deste registro é alertar para a possível
ampliação das dificuldades – materializadas nos
diferenciais de desenvolvimento social e econômi-
co –, já conhecidas da população e da comprimida
base econômica da Região Nordeste, uma vez que
as políticas de liberalização comercial podem estar
contribuindo significativamente para um processo
de reconcentração industrial das atividades produ-
tivas nas regiões Sul e Sudeste do país.
NORDESTE
VERSUS
SUDESTE: TENDÊNCIAS
DA INDÚSTRIA APÓS A ABERTURA
COMERCIAL
A economia brasileira durante as décadas de
1970 e 1980, de acordo com Guimarães Neto (1995),
apresentou uma tendência de desconcentração das
atividades produtivas. Entre as décadas de 1970 e
1990, a Região Sudeste diminuiu sua participação
no PIB, de 65,5% para 56,4%, enquanto as outras
regiões do país – exceto a Região Sul que permane-
ceu praticamente estável – ampliaram suas respec-
tivas participações no PIB, conforme demonstrado
abaixo através dos dados da Tabela 3.
Quanto às tendências regionais das atividades
produtivas brasileiras, a literatura especializada
geralmente destaca, de maneira um tanto quanto
otimista, que este processo de “despolarização”,
constatado particularmente entre 1970 e 1985,
emergiu como consequência de alguns fatores, tais
como: as políticas de desenvolvimento regional; a
disponibilidade de matérias-primas; as desecono-
mias de aglomeração registradas no estado de São
Paulo, e, por fim, a crise da década de 1980 que
atingiu mais diretamente a economia paulista, prin-
cipal polo produtor do país (LIMA, 1998).
Em suma, ocorreu, conforme se verifica na Ta-
bela 3, uma relativa desconcentração da atividade
produtiva no Brasil. No entanto, ela foi incapaz
de promover uma transformação substancial no
perfil regional brasileiro. Esse é um indicativo de
que a distribuição da atividade produtiva no territó-
rio brasileiro advém de mecanismos econômicos e
sociais que garantem a estabilidade do sistema, ao
menos no período aqui analisado.
Diniz (1993) e Guimarães Neto (1995), em me-
ados da década de 1990, através de uma análise
da conjuntura econômica nacional à época – mar-
cada por um período de globalização – sinalizavam
na direção de um novo processo de concentração
produtiva a partir das regiões Sul e Sudeste, uma
vez que os novos investimentos produtivos estavam
sendo realizados de maneira fortemente seletiva
nos estados destas regiões, além da proximidade
destes com o Mercosul.
Cano (1995), após indicar uma série de fatores
que teriam, nos anos de 1990, colaborado para
deprimir o crescimento da periferia nacional, tais
como: o desmantelamento do Estado Nacional e,
com ele, o de vários órgãos regionais (Sudene,
por exemplo), promovendo um esfacelamento das
políticas de desenvolvimento regional no período –
principalmente a partir do governo Collor –, também
acaba por apontar na direção de uma inflexão no
processo de desconcentração e até admite uma
provável “suave” reconcentração após a implemen-
tação da abertura comercial.
Tabela 3
Brasil: participação das regiões no produto interno
1970/1990
(%)
Regiões
1970
1980
1985
1990
Centro-Oeste
3,9
5,4
6
5,7
Norte
2,2
3,3
4,1
5,4
Nordeste
11,7
12
13,6
15,7
Sul
16,7
17
17,1
16,8
Sudeste
65,5
62,3
59,1
56,4
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (apud GUIMARÃES NETO,
1993, p. 182).
Obs.: Estimativa.