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O (res)surgimento da Sudene: uma nova proposta de planejamento regional?
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Bahia anál. dados, Salvador, v. 23, n. 3, p.509-527, jul./set. 2013
A proposta de desenvolvimento econômico re-
gional representava apenas uma das diversas ques-
tões que envolviam a realidade desigual do Nordeste
brasileiro em meados da década de 1950. Outros
fatores devem ser destacados para se compreender
a dimensão política que permeava as desigualda-
des regionais na época. Segundo Colombo (2012,
p. 11), configurava-se nesse período um momento
favorável à implementação de políticas de desenvol-
vimento regional, especialmente na região em tela, já
que “não somente uma nova estrutura econômica se
reorganizava no país, como uma emergência de no-
vos atores políticos, especialmente no Nordeste [...]”.
O estudo realizado pelo grupo de trabalho ci-
tado anteriormente destacava, em uma análise
profunda, a questão da seca e sua intensidade,
procurando analisar as razões de uma crise de pro-
dução, que nem chegava a ser de grande magni-
tude, mas que detinha aspectos sociais tão graves
(COLOMBO, 2012).
O projeto governamental explicitado no
GTDN ainda almejava atingir outros objeti-
vos de grandes dimensões na região, como a
difusão de tecnologia moderna, formação de
uma nova mentalidade empresarial, criação
de uma estrutura industrial menos depen-
dente de importações e com maior conca-
tenação local, modernização da agricultura
local e intensificação de relações capitalistas
de produção no campo, aumento da oferta
de gêneros alimentícios mediante uma po-
lítica de fomento à agricultura irrigada nos
vales úmidos do litoral e às margens do São
Francisco, ampliação da oferta de energia
elétrica (além de incentivos à pesquisa em
outras modalidades de energia, como eólica
e solar), melhoria dos níveis de educação e
saúde da população, e, por fim, incentivo à
pesquisa em recursos naturais (vegetais e
minerais, principalmente). Como se pode ver,
a proposta do GTDN tinha uma concepção
estruturalista ao visualizar mudanças profun-
das na economia nordestina sem, no entan-
to, explicitar a correlação de forças em que
a) Órfão da seca
b) Crianças ageladas
c) Pai e lho
“Triste orphão da ventura
Só dores no mundo achei
Dá-me oh ! Deus a sepultura
Onde a paz encontrarei !”
“O lho, como uma fúria
Ergue-se e um pão pedio!
Pobre pae, ante a penúria
Tremeu de fome e cahio !”
Figura 1
Fotografias dos flagelados da seca de 1877 e 1878 – Ceará
Fonte: Fotografias de Corrêa (1877-1878 – figuras a,c) e Biblioteca Nacional (1877-1879 – figura b).