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As regiões de crescimento no Nordeste: o caso de Santa Cruz do Capibaribe
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Bahia anál. dados, Salvador, v. 23, n. 3, p.671-681, jul./set. 2013
trabalho era a mão de obra mista, tanto escrava
quanto assalariada.
A policultura estava presente em menor esca-
la, cultivada nas áreas mais
úmidas e nos brejos, e era
caracterizada pelas peque-
nas propriedades rurais,
consideradas de pequeno
valor, onde eram produzidos
milho, feijão, arroz, frutas,
mandioca e café.
A pecuária monopolizou as terras do agreste
nordestino até o desencadear da revolução indus-
trial na Inglaterra e a invenção da máquina de tear.
O gado foi, aos poucos, perdendo lugar para o culti-
vo do algodão, favorecido pelas terras férteis e o cli-
ma propício; durante dois séculos a região foi uma
das maiores produtoras do algodão e, por muitos
anos, ficou conhecido como o “ouro branco”.
O algodão foi um dos grandes responsáveis pe-
las transformações nas paisagens, principalmente,
no interior de Pernambuco e da Paraíba, onde se
pode notar o crescimento e o desenvolvimento, em
especial, de dois municípios Caruaru (PE) e Cam-
pina Grande (PB) durante todo o decorrer do sé-
culo XX. Como área de estudo, o polo de Caruaru
tornou-se um dos maiores produtores de roupas do
Brasil, apenas atrás de São Paulo.
O surgimento do polo de desenvolvimento foi es-
truturado como Arranjo Produtivo Local (APL)
1
de-
vido às características específicas dos municípios
que o compõem (Caruaru, Toritama e Santa Cruz
do Capibaribe), forma encontrada pelo governo lo-
cal e estadual, junto com a iniciativa privada na se-
gunda metade do século XX, de garantir melhores
1
Arranjos Produtivos Locais são aglomerações de empresas, locali-
zadas em um mesmo território, que apresentam especialização pro-
dutiva e mantêm vínculos de articulação, interação, cooperação e
aprendizagem entre si e com outros atores locais, tais como: governo,
associações empresariais, instituições de crédito, ensino e pesquisa.
Para se reconhecer uma APL é necessário ter um número significa-
tivo de empreendimentos no território e de indivíduos que atuam em
torno de uma atividade produtiva predominante e compartilhar formas
percebidas de cooperação e algum mecanismo de governança. Pode
incluir pequenas, médias e grandes empresas.
condições de vida para a população da região, pois
era significativa a produção de algodão no estado.
Em Santa Cruz do Capibaribe na década de
1950, a economia do municí-
pio baseava-se na pequena
pecuária, na agricultura de
subsistência e em uma pre-
cária produção de lençóis
e colchas de retalhos. Atu-
almente é um dos maiores
centros de moda popular. Em Toritama, a produção
do jeans fez crescer a economia da cidade e qua-
se extinguiu a taxa de desemprego; o município é
o segundo maior produtor de peças com a utiliza-
ção deste tipo de tecido no Brasil, movimentando
quase R$ 500 milhões por ano, segundo o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (2011). Caru-
aru, maior município do polo de desenvolvimento
agrestino, tem na indústria o seu maior gerador de
riquezas. Município com forte apego cultural, tem
em sua feira
uma demonstração do tamanho da
produção de artesanato e confecções elaboradas
naquela região.
Conhecido como Triângulo das Confecções do
Agreste de Pernambuco, os três municípios com-
ponentes possuem algumas características em
comum, como o tipo de produção semiprecária e
a grande quantidade de trabalhadores informais,
comprovadas pela baixa qualidade nos produtos
em comparação com outros lugares.
CRESCIMENTO OU DESENVOLVIMENTO
ECONÔMICO? UMA CONCEITUALIZAÇÃO
PARA O POLO DE CRESCIMENTO DE
CARUARU
Muito se discute acerca da diferença dos termos
crescimento e desenvolvimento econômico, princi-
palmente entre os economistas e geógrafos, desde
os tempos de Karl Marx e John Stuart Mill. A polêmi-
ca aumenta quando se refere à Região Nordeste do
Brasil, com suas inúmeras desigualdades sociais.
Muito se discute acerca da
diferença dos termos crescimento
e desenvolvimento econômico,
principalmente entre os
economistas e geógrafos