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Desequilíbrios regionais, entraves ao desenvolvimento econômico e social do Nordeste e pesquisa tecnológica
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Bahia anál. dados, Salvador, v. 23, n. 3, p.653-669, jul./set. 2013
cafeeira paulista vinha paulatinamente demons-
trando capacidade de resolver sérios problemas de
infraestrutura, o que iria beneficiar indiretamente o
desenvolvimento da indús-
tria, diminuindo os custos de
produção e tornando mais fá-
cil a transferência de capitais
do café para a indústria.
Do ponto de vista do mer-
cado de trabalho, criaram-se
condições para que a mão
de obra não pressionasse o custo de produção. A
legislação permitia que mulheres e crianças traba-
lhassem a preços menores, pressionando os salá-
rios para baixo. A agricultura reestruturou-se com a
vinda de imigrantes e aumentou sua produtividade,
de forma que o suprimento de alimentos para os
trabalhadores e o fornecimento de matéria-prima
para a indústria de alimentos foram estabilizados,
com implicações na manutenção e na elevação de
salários reais.
Instaladas as condições para o desenvolvimen-
to industrial, o capitalismo plenamente constituído
avança no Sudeste, enquanto no Nordeste perma-
nece uma base produtiva concentrada na produ-
ção de algodão e açúcar em grandes latifúndios,
os quais dependiam de mercados externos, uma
vez que a indústria têxtil, que surgira ainda durante
a escravidão, não se modernizara.
Com a indústria criada, ainda que de forma inci-
piente, o capital, agora industrial e não mais essen-
cialmente agrícola, se expandia na virada do século
XIX para o século XX. A inexistência de concor-
rentes e a existência de mercados (regiões) não
contemplados pelo processo de industrialização
garantiam mercado para a indústria de São Pau-
lo que iniciava um processo de acumulação sem
precedentes na história do Brasil.
Outrossim
não se pode deixar de considerar o isolamento en-
tre as regiões como um fator determinante para o
processo de concentração e, consequentemente,
de desequilíbrios entre elas. Anteriormente à inte-
gração rodoviária, a partir de 1950, os sistemas de
transporte eram deficientes e o mercado inter-re-
gional, fragilizado. Os complexos agroexportadores
das regiões periféricas limitavam-se às transações
externas, o que acabou por
dificultar uma possível inter-
-relação entre as regiões e
seus complexos produtivos.
Ademais, falar em dese-
quilíbrios não é reduzir as
diferenças regionais apenas
ao aspecto econômico. Con-
forme Oliveira (2002), pensar em desenvolvimento
é pensar também em distribuição de renda, condi-
ções de saúde, educação, preocupação com o meio
ambiente e, portanto, voltar-se para a qualidade de
vida. São nessas esferas, também, que se exibem
as disparidades entre as diferentes regiões do país.
Não por acaso, Guimarães Neto (2005) co-
munga da afirmação acima referida de Oliveira e
aponta para algumas desigualdades ainda hoje
existentes, não só entre as regiões, mas no interior
delas, o que leva o Brasil a apresentar ainda indi-
cadores de desenvolvimento distantes dos países
industrializados. Em suas pesquisas, o autor des-
taca a existência de três “Brasis”, com Indices de
Desenvolvimento Humano (IDH) que variam entre
elevado, médio e reduzido. Não é espantoso saber
que o pior índice encontra-se nas regiões perifé-
ricas, principalmente Norte e Nordeste. Todas as
nove unidades da Federação do Nordeste exibiam
baixo desempenho.
O conjunto de desigualdades inter-regionais no
Brasil reflete não somente nos níveis diferentes de
industrialização e de estruturas produtivas, mas
também nos níveis de remuneração no mercado
de trabalho. A concentração econômica consolidou
uma divisão regional de trabalho perversa, a qual
acabou por ampliar as diferenças, exigindo que a
busca por uma maior equidade entre as regiões
dependa de políticas de largo alcance e de longo
prazo, nas quais não podem faltar investimentos
ingentes em infraestrutura, serviços básicos, edu-
cação superior e ciência e tecnologia.
Pensar em desenvolvimento é
pensar também em distribuição
de renda, condições de saúde,
educação, preocupação com o
meio ambiente e, portanto,
voltar-se para a qualidade de vida