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Amílcar Baiardi, FabihanaMendes, JanuziaMendes
Bahia anál. dados, Salvador, v. 23, n. 3, p.653-669, jul./set. 2013
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mecânicas que já produziam máquinas, equipamen-
tos e instrumentos de trabalho que serviram, a
priori
,
à atividade cafeeira, uma espécie de D1
3
da econo-
mia e cuja dinâmica independia de massa salarial,
pois seu mercado era a pro-
dução agrícola.
Estas indústrias que já
atuavam na atividade cafeei-
ra do estado de São Paulo e,
consequentemente, acumu-
laram alguma capacitação,
ganharam impulso e mais notoriedade com a ex-
pansão das massas de lucros do café, decorrentes
do aumento dos preços de tal produto, tanto interna
quanto externamente. Vale lembrar a atuação do
estado em manter a estabilidade dos rendimentos
provenientes do café por meio de subsídios que ga-
rantiam à elite produtora proteção diante de osci-
lações no mercado internacional. Os cafeicultores,
por meio desta política de subsídios de preços, pre-
servaram
status
e condições de investimento.
Ademais, a contar como desvantagem da in-
dústria no Nordeste sincronicamente ao Sudeste
estaria o fato de que, enquanto a atividade cafeeira
de São Paulo experimentara novas relações de pro-
dução com a mão de obra de imigrantes italianos
na segunda metade do século XIX, no Nordeste a
escravidão perdurou até a abolição, e, após esta,
não se pode dizer que homogeneamente tenha
surgido um mercado livre de força de trabalho, re-
quisito para a constituição de uma massa salarial
que viabilizasse um mercado para uma indústria
emergente de bens consumo. Por sua vez, dife-
rentemente do Sudeste com a produção cafeeira,
o complexo produtivo agroaçucareiro do Nordeste
brasileiro, além de estar defasado tecnologicamen-
te em relação ao Caribe – visto que a conversão do
engenho em engenho central e deste para usina no
Brasil foi muito lenta –, não demandava na mesma
medida equipamentos e instrumentos de trabalho
3
De acordo com os esquemas de reprodução de Kalecki, D1 é o depar-
tamento produtor de bens de produção, D2 é o produtor de bens de
consumo capitalista e D3, o de bens de consumo de trabalhadores.
para suas atividades produtivas, não tendo, portan-
to, uma relação intersetorial forte com o que poderia
ser o D1 da economia nordestina. Com o aumento
das exportações de café, antes do seu declínio, o
país aumentava a sua capa-
cidade de importar. Criavam-
-se, então, as condições para
que outros setores, além do
cafeeiro, também pudessem
se desenvolver, importando
e transformando seus lucros
em capital industrial. O capital cafeeiro favoreceu,
dessa forma, as condições para a acumulação de
capitais e a complexificação da economia com a
ampliação do crédito, a criação de novos bancos
privados e o surgimento de pequenas indústrias
com gênese no artesanato, voltadas para o con-
sumo dos capitalistas (D2) e para o consumo dos
trabalhadores (D3).
Convém lembrar que, em pesquisa empírica,
Bresser-Pereira (1964) demonstrou que o empre-
sariado paulista destas indústrias era, em 85%, de
descendência de imigrantes e, dentre estes, 35%
eram de origem italiana. A origem étnica do em-
presariado foi, sem dúvida, um fator predominante
no nascimento e na consolidação do parque indus-
trial paulista, pois a maior parte dos imigrantes não
ibéricos detinha uma capacidade artesanal ou tinha
experiências familiares de artesanato e condução
de pequena indústria caseira. De outro modo, como
lembrou Baiardi (1994), a possibilidade de o Sudes-
te ter sido, em alguma medida, historicamente mais
próximo de uma colônia de povoamento, e sendo a
propensão a assumir riscos capitalistas mais pre-
sente nos imigrantes, foi fator que concorreu de-
cisivamente para que a região se industrializasse
primeiro que o Nordeste.
Diante desse cenário favorável, os fluxos de ca-
pital do café para a indústria se ampliaram e a Re-
gião Sudeste, devido a todas as condicionantes his-
tóricas referidas, destacou-se adiante das demais
regiões do país na formação de um parque indus-
trial. Há que se lembrar também que a economia
A origem étnica do empresariado
foi, sem dúvida, um fator
predominante no nascimento
e na consolidação do parque
industrial paulista