Página 176 - A&D_v23_n3_2011

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Desequilíbrios regionais, entraves ao desenvolvimento econômico e social do Nordeste e pesquisa tecnológica
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Bahia anál. dados, Salvador, v. 23, n. 3, p.653-669, jul./set. 2013
cadeias de conhecimento, envolvendo todos os ato-
res do “Triângulo de Sábato”.
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Os resultados mais marcantes desta leva de
debates que associavam as
competências tecnológicas
no território com a industria-
lização e o desenvolvimento
sustentado e sustentável fo-
ram a implantação do Polo
Digital e a criação do Instituto Nacional do Semiá-
rido (INSA), em Campina Grande, e do
Centro de
Tecnologias Estratégicas do Nordeste
(Cetene),
em Recife. O Cetene é u
ma unidade de pesquisa
e desenvolvimento do MCT, vinculada ao Instituto
Nacional de Tecnologia (INT). Este centro foi c
riado
em 2005 visando apoiar o desenvolvimento tecno-
lógico da Região Nordeste por meio da integração
entre o conhecimento e o fomento ao desenvolvi-
mento econômico.
O Cetene pretende, através das diversas com-
petências de sua organização, se constituir em um
instrumento importante de inserção de tecnologias
no setor produtivo e na sociedade. As ações que
compreendem este conceito vão desde a orienta-
ção para a implantação de projetos tecnológicos,
fundamentados a partir de estudos científicos, até
a organização em cooperativas e/ou associações
para capacitação de comunidades-alvo, visando
assimilar as técnicas de implantação das ativida-
des dos projetos. Em essência, o Cetene se pro-
põe a: 1) ser um centro de excelência em pesqui-
sa, desenvolvimento e inovação (P&D&I); 2) apoiar
o desenvolvimento industrial e a agroindústria da
região pela execução de projetos em cooperação
e prestando serviços tecnológicos de alto nível; 3)
disponibilizar laboratórios e equipamentos de nível
internacional para a comunidade acadêmica como
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Triângulo de Sábato, cujos vértices são o setor de produção de co-
nhecimento, o Estado e o setor privado. Mencionado pela primeira
vez por Jorge Sábato, em artigo conjunto com Natalio R. Botana, pu-
blicado em 1967, intitulado “La ciencia y la tecnología en el desarrollo
futuro de América Latina (cf. Sabato, J. (org.)
El pensamiento latinoa-
mericano en la problemática ciencia - tecnología - desarrollo - depen-
dencia
. Paidós (1975, p. 143-154).
facilidades abertas (
open facilities
); 4) viabilizar a in-
serção de tecnologias maduras no setor produtivo,
e 5) constituir-se em um fórum permanente de di-
fusão tecnológica, abrigando
eventos, promovendo cursos,
workshops
e outras iniciati-
vas para acelerar o fluxo e a
transferência de informação
e de conhecimento.
A INDUSTRIALIZAÇÃO COMO ROTA PARA O
DESENVOLVIMENTO REGIONAL
Não são recentes a discussão e a ideia de que
a industrialização, fundamentada em inovações, re-
mete a desenvolvimento. Este é o entendimento de
que tal processo propicia um incremento positivo
no nível do produto, no chamado crescimento eco-
nômico (OLIVEIRA, 2002). Este quase consenso
fez com que todos os países do mundo, sobretudo
na primeira metade do século passado, perseguis-
sem os objetivos de ampliar a base industrial e a
infraestrutura que lhes correspondiam. O Brasil não
foi exceção, e, como o crescimento era mais óbvio
nos territórios nos quais já existiam estruturas in-
dustriais que permitissem externalidades positivas
e oportunidades de relações intersetoriais, as de-
sigualdades entre as regiões do país aumentaram.
Não obstante, não se fragilizou a ideia de que é a in-
dustrialização que estabelece a diferença entre ser
ou não ser um território desenvolvido e que todos
os territórios deveriam industrializar-se. Os estudos
sobre política e sobre a concentração industrial no
Brasil, de Wilson Cano e Luiz Carlos Bresser-Perei-
ra, reforçam esta concepção.
Cano (1998) descreve o processo de concen-
tração industrial no Brasil fazendo uma análise his-
tórica do crescimento industrial de São Paulo. No
início do século XX, a indústria paulista ainda era
tímida, destacando-se o setor têxtil em compara-
ção às indústrias de vestuário, alimentos e bebidas.
Havia, também, naquela época, algumas indústrias
Não são recentes a discussão e
a ideia de que a industrialização,
fundamentada em inovações,
remete a desenvolvimento