Página 175 - A&D_v23_n3_2011

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Amílcar Baiardi, FabihanaMendes, JanuziaMendes
Bahia anál. dados, Salvador, v. 23, n. 3, p.653-669, jul./set. 2013
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da economia maior que a do país, seja pela via do
endividamento externo, seja pela modernização da
agricultura com pacotes tecnológicos, irrigação e
com crédito subsidiado, seja pelo estímulo do Pró-
-álcool, seja pelo apoio ao
turismo etc. O fato é que, até
a crise provocada pelo pri-
meiro choque do petróleo, o
Nordeste contou com o for-
talecimento de agências re-
gionais de desenvolvimento,
como a Sudene e o Banco
do Nordeste do Brasil (BNB), mas, sobretudo, se
beneficiou de políticas setoriais, principalmente as
políticas industriais. Durante mais de duas décadas,
estas políticas lograram promover o crescimento da
economia nordestina, mas não tiveram sucesso em
promover a desconcentração industrial, essencial,
segundo alguns cientistas sociais, para reverter o
quadro de desequilíbrios.
Este seria um segundo período na análise da
questão regional no Brasil, quando o foco na re-
gião desloca-se para focos setoriais, beneficiando
setores das economias do Nordeste e da região
amazônica. De acordo com Diniz, (2007), os inves-
timentos no Nordeste entre as décadas de 1960 e
1980 foram expressivos mediante blocos de política
pública, como o de incentivos fiscais, o de infra-
estrutura e o de investimentos produtivos das em-
presas estatais. Segundo o autor, entretanto, não
se pode esperar resultados radicais em períodos
curtos, já que as desigualdades decorrem de pro-
blemas estruturais. Para Diniz (2007), problemas na
educação, na saúde, na habitação, no saneamento
e de pobreza não se solucionam no marco regional,
requerem uma abordagem nacional de reorienta-
ção do gasto público.
As posições de Diniz colocam a questão do Nor-
deste e das demais regiões ditas periféricas como
de desenvolvimento tardio ante a Região Sudeste,
devendo-se buscar soluções a médio e a longo
prazo, visando corrigir as desvantagens comparati-
vas que têm suas raízes em aspectos econômicos,
políticos, culturais e históricos que influenciaram no
desenvolvimento retardatário dessas regiões.
Um terceiro período na análise da questão re-
gional é aquele da industrialização a qualquer cus-
to ou “industrialização em
marcha forçada”, seguida
de um esforço de
catching
up
tecnológico, na visão de
Castro (2001). Nesse perío-
do funcionou como centro de
debates e de difusão destas
ideias a Fundação Joaquim
Nabuco, mais propriamente a Diretoria de Pes-
quisas Sociais que, durante quase duas décadas,
vem realizando, bianualmente, o
Seminário de Mo-
dernização Tecnológica Periférica
. Estes debates
foram resultados de pesquisas e reflexões que si-
nalizaram para políticas que estimulassem a com-
petência do território na geração de inovações. Nas
análises em nível regional, analisando o desequilí-
brio econômico e as desvantagens estabelecidas
nas relações comerciais, há autores que chamam
a atenção para a importância de uma capacidade
regional de gerar inovações e outras competências
que tornem menos assimétricas as relações de tro-
ca. As abordagens de Sicsú (2000), Sicsú e Bolaño
(2007), Galvão (2004), Albuquerque e Rocha (2005)
e Baiardi (2003) dão destaque para a necessidade
de políticas regionais que favoreçam as condições
para o surgimento de um sistema regional de ino-
vações, como condição essencial para a geração
de inovações tecnológicas. O último deles, Baiardi
(2003), lista Marshall, Landes, Benko, Vernon, Labi-
ni e Porter, entre outros, como autores que têm em
comum a visão de que competências no território se
expressam via aglomeração produtiva, via institui-
ções de ensino e pesquisa e via sistemas regionais
de inovação, componentes decisivos para o desen-
volvimento regional.
Em geral, este pensamento defende a implanta-
ção e/ou ampliação de políticas de fortalecimento
da economia regional, tendo em conta os novos
paradigmas tecnológicos, as bases produtivas e as
Problemas na educação, na saúde,
na habitação, no saneamento e
de pobreza não se solucionam
no marco regional, requerem
uma abordagem nacional de
reorientação do gasto público