Página 173 - A&D_v23_n3_2011

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Amílcar Baiardi, FabihanaMendes, JanuziaMendes
Bahia anál. dados, Salvador, v. 23, n. 3, p.653-669, jul./set. 2013
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poupança que facilitaram a industrialização. Estas
determinantes, aliadas a outros fatores como: con-
juntura favorável à exportação, novos pactos polí-
ticos decorrentes do Estado nacional, identidades
sociais e culturais devido a
uma maior aproximação com
a Europa sem o controle de
Portugal e a imigração não
ibérica, deslocaram o núcleo
dinâmico da economia brasi-
leira do Nordeste para o Sudeste.
No período do capitalismo mercantil, era o Nor-
deste a assumir posição central na economia co-
lonial. Com a industrialização, impulsionada pela
urbanização e a criação do mercado de trabalho
após a abolição da escravidão, o Sudeste e, pos-
teriormente, o Sul são os que ganham destaque, e
as diferenças, tanto em termos de geração como
de distribuição de renda, começam a se acentuar.
Como o Nordeste não reunia condições neces-
sárias para seguir a trajetória industrializante do
Sudeste, seja quanto ao capital seminal como de
propensão à assunção de riscos empresariais pela
elite, nas palavras de Bresser-Pereira (1982), houve
um ajuste em termos de mercado e de funcionalida-
de de papéis de agentes econômicos:
[...] o que se fez foi reproduzir-se, entre Sul-
-Nordeste, a relação existente entre os pa-
íses centrais e o Brasil no mesmo período.
Através de suas empresas, o Sul facilitava à
burguesia e à nascente tecnoburocracia nor-
destina (as camadas médias de empregados
que surgem em toda parte) a reprodução dos
padrões de consumo das camadas corres-
pondentes no Sul. Os trabalhadores foram
obviamente marginalizados, a reforma agrá-
ria não foi realizada, o latifúndio mercantil
manteve-se dominante, procurando associar-
-se de todas as maneiras ao capital industrial
nascente (BRESSER-PEREIRA, 1982, p. 86).
Bresser-Pereira (1982) ressalta que a estagna-
ção e a decadência econômica do Nordeste se de-
vem tanto à queda da participação de seus principais
produtos no mercado externo – açúcar e algodão –
quanto à sua estrutura produtiva tradicional. Cano
(1998), por sua vez, afirma que uma das maiores
limitações do Nordeste foi a transição para o regi-
me de trabalho assalariado,
que ocorreu de forma frágil.
Sem assalariados, ficou ain-
da mais difícil superar as li-
mitações/restrições de suas
exportações via mercado
interno. Devido também à falta de acumulação de
capital, tornou-se ainda mais difícil a implantação de
uma indústria mais dinâmica.
Apesar do impulso gerado a partir da cultura do
algodão, com a implantação de indústrias de bene-
ficiamento e têxteis na região, a concorrência com
o Sudeste pelo mercado interno (uma vez que já
havia reduzido as suas exportações) acabou por
ampliar e aprofundar as desigualdades, visto que
as empresas de São Paulo já operavam em bases
técnicas muito mais eficientes. Mais uma vez fica
evidente que os agentes econômicos no Nordeste,
pelos menos comparativamente ao Sudeste e ao
Sul, não tinham propensão elevada a assumir ris-
cos, preferiam explorar relações de segurança com
o Estado e não eram, de acordo com Fernandes
(1981), burgueses, com senso de sua missão histó-
rica. Segundo Cano (1998):
Pelo menos até a primeira década do século
XX, o complexo nordestino não conseguia su-
perar sua conformação estrutural, que se re-
flete basicamente no problema do excedente e
no problema do mercado. Com efeito, a rígida
estrutura da propriedade, tornando a oferta de
terra praticamente inelástica, faz com que o
regime de salários se torne, de fato, de “facha-
da”. Com isto, as mudanças nas relações de
produção pouco se alteram qualitativamente,
perpetuando, portanto, a baixa eficiência, a
baixa produtividade e os reduzidíssimos sa-
lários, rigidificando-se, assim, não somente a
estrutura, mas também a própria dinâmica de
bens de produção (CANO, 1998, p. 109).
No período do capitalismo
mercantil, era o Nordeste a
assumir posição central na
economia colonial