Página 171 - A&D_v23_n3_2011

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Amílcar Baiardi, FabihanaMendes, JanuziaMendes
Bahia anál. dados, Salvador, v. 23, n. 3, p.653-669, jul./set. 2013
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INTRODUÇÃO
Os desequilíbrios regionais no Brasil têm sido
tratados como consequência de um processo natu-
ral de desenvolvimento da economia que, no ama-
durecer das forças produtivas e na formação da
“acumulação primitiva”,
1
baseada na reorganização
e na generalização das relações de produção e no
quadro da transformação do trabalho escravo em
trabalho assalariado, ocorre de forma desigual e
heterogênea no território nacional.
Concordando-se em princípio com este suposto,
tenta-se, neste texto, especular sobre os aspectos
econômicos, políticos, culturais e históricos que
influenciaram a maior
ou menor concentração de
capital e outros recursos em uma dada região do
país e não em outras. O material utilizado na sua
elaboração são a literatura que trata do tema, sem-
pre passível de novas leituras e interpretações, e as
informações obtidas por vários meios e referentes
às atividades de um centro de pesquisa regional. A
metodologia utilizada, por sua vez, é a de revisão
de literatura com base em novos olhares sobre os
componentes históricos, sociais, políticos, culturais
e econômicos relacionados ao objeto de interesse
do trabalho, seguida de um estudo de caso explo-
ratório tendo como tema uma organização de pes-
quisa e um desenvolvimento de alcance regional.
Sendo os desequilíbrios regionais no Brasil de-
terminados pelas formas de evolução, pela dinâmi-
ca da economia e pela capacidade de diversificar
a base produtiva de que cada região era dotada,
o dinamismo que a Região Sudeste, com especial
destaque para o estado de São Paulo, apresentou
no início do século XX acelerou o desenvolvimento
do capitalismo no Brasil, acentuando a concentra-
ção de capitais e aumentando as desigualdades
econômicas e sociais entre as diferentes áreas que
compõem o território nacional.
Do início do século XX em diante, torna-se
claro que o dinamismo da Região Sudeste, com o
1
Este conceito está baseado na interpretação de Dobb (2008).
surgimento de um mercado interno e de uma eficien-
te articulação intersetorial, iria redefinir as relações
econômicas, gerando assimetrias regionais. Antes
dessas transformações era diferente porque os en-
genhos de açúcar dispersos pelo país eram uma
antecipação da grande fábrica do capitalismo ple-
namente constituído. A ocupação do interior do Bra-
sil, o abastecimento com farinha, gado etc., tudo foi
realizado à base de negócios presentes em quase
todas as regiões. O Brasil sempre foi uma sociedade
aberta, na qual os negócios eram possíveis. Para
Caldeira (1999), durante parte da história econômica
do Brasil, os empresários não pensavam prioritaria-
mente em enriquecer e exportar suas riquezas, pois
o mercado interno era muito expressivo. O Brasil foi
a colônia mais bem-sucedida economicamente da
América. Em 1800, o Produto Interno Bruto (PIB)
brasileiro era maior que o dos Estados Unidos, sen-
do cerca de 90% desse PIB formado pelo mercado
interno. Somente o restante, pela exportação. A par-
ticipação do mercado interno foi crescente até o sé-
culo XIX, o que fez a economia brasileira não levar
mais de 200 anos para ficar maior que a portuguesa,
que já existia há milênios. O grande fator de expan-
são foi o mercado interno, e foi a partir dele que se
fizeram os grandes empreendedores e as grandes
fortunas do país. As grandes fortunas nacionais até
o século XIX constituíram-se com base no tráfico de
escravos, e não no setor exportador.
Não obstante, havia fatores que concorriam para
que a prosperidade não permanecesse. Um deles
é que todas as fortunas eram de base familiar devi-
do à proibição, por parte de Portugal, de se criarem
empresas. Alem disso, segundo Caldeira (1999),
a política fiscal da metrópole impedia que o Brasil
crescesse mais depressa. Era uma política mone-
tária permanentemente recessiva, baseada em um
ajuste fiscal rígido. Ainda assim, em 500 anos, foram
430 anos de desenvolvimento igual ao das melhores
economias do mundo. Para Caldeira (1999), o Brasil
começou a perder terreno por problemas culturais,
concretamente pela incapacidade de se adaptar
ao capitalismo que impunha transformar uma coisa