Página 16 - A&D_v23_n3_2011

Versão HTML básica

500
Bahia anál. dados, Salvador, v. 23, n. 3, p.495-507, jul./set. 2013
a teoria das decisões intertempo-
rais, ou da acumulação; a teoria
da estratificação social e a teoria
do poder. É um manifesto contra
a compartimentalização discipli­
nar que toca profundamente nos
destinos da uni­versidade.
Finalmente, o
que queremos
varia conforme o ângulo de vi-
são e a formulação ideológica
de classes e estratos sociais.
Mas creio que se busca consen-
so em torno de algumas ideias.
Uma delas, a de que crescimen-
to econômico não é desenvolvi-
mento. Um relatório de um gru-
po de eminentes especialis­tas
convocado pelas Nações Uni-
das cunhou uma definição para
desenvolvimento: “Crescimento
eco­nômico com mudança social
numa forma sustenida”. Restam
as discussões sobre como atin-
gir o crescimento, que mudanças
sociais são as necessá­rias ou
desejáveis e ainda como chegar
a elas e como dar permanência a
esse processo de mudança.
Fascinante é o
tema, mas
curto o
tempo e res­peitável o
auditório.
UMA ESTRATÉGIA DE
DESENVOLVIMENTO
REGIONAL
Dentro da inquietação pelo de-
senvolvimento do Nordeste,
estou tentando pular as pre-
ocupações com a engenha-
ria institucional, o
estabeleci­
mento de entidades motrizes e o
encaminhamen­to da solução de
problemas em setores estratégi­
cos, que caracterizaram os es-
forços passados das equipes de
que participei, para a busca de
uma estratégia e de um “modelo”
que possam orientar o desenvol-
vimento regional no Brasil.
Tentarei esboçar brevemente
o modesto ponto a que cheguei
para pedir a essa brilhante gera-
ção de professores e alunos da
UFC que nos ajude com suas lu-
zes. Insisto em que, apesar de
ser uma forma nova de velhas
ideias, não se trata de uma pro-
posta amadurecida, mas de uma
provocação ao debate e àpesqui-
sa. De uma hipótese de trabalho.
Temos que partir do parâme-
tro ético do direi­to à igualdade de
oportunidades entre as pessoas
e, coerentemente, considerar que
a região é seu povo, todo o povo,
e não o benefício de uma elite ou
os símbolos do progresso local.
A eliminação da po­breza injusti-
ficável pelos recursos do país é
o nosso desafio. Por outro lado,
outro pressuposto político é nos-
sa participação na unidade brasi-
leira, o que implica compromisso
com o crescimento global do país.
Ou seja, uma compatibilização
entre desenvolvimento regional e
crescimento satisfatório da eco-
nomia brasileira. O julgamento
dessa compa­tibilidade e o trade
off entre crescimento mais ace­
lerado imediato com alto custo
social e crescimen­to menor, ago-
ra para reduzir desequilíbrios so-
ciais e regionais e até assegurar
mais seguro crescimento futu-
ro, depende não só de estudos
técnicos, mas da força dos inte-
resses em jogo, inclusive da pre-
sença do Nordeste, como povo,
no tablado das decisões. Mas é
certo que as forças dominantes
no sistema nacional do poder
não permitirão, pela simples ins-
piração ética, que programas de
desenvolvimento regional preju-
diquem o processo de produção
de exceden­tes e de acumulação.
Invocarão a questão do custo na-
cional de um programa regional.
Daí o problema da compatibilida-
de entre o regional e o nacional,
ainda que em termos dinâmicos,
e o aspecto crucial do problema
do poder, em que o regional e o
social se superpõem, embora, a
meu juízo, não se identif­iquem do
ponto de vista nacional.
Uma hipótese de estraté-
gia regional teria, as­sim, por
objetivos:
• reduzir, de forma sensível
e relativamente rápida, as
diferenças nas oportuni-
dades das pessoas, quan-
to ao atendimento das
neces­sidades básicas;
• aproveitamento máximo
das oportunidades dos
recursos naturais e hu-
manos para inte­gração da
região (por participação,
não por dependência) à
economia nacional.
As necessidades básicas
(NB) são as necessida­des vitais
e de integração social para as
pessoas.