Bahia anál. dados, Salvador, v. 23, n. 3, p.495-507, jul./set. 2013
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demográficas e institucionais?
Quando tratamos do subdesen-
volvimento numa região periféri-
ca inserida numa unidade nacio-
nal, a heterogeneidade estrutural
se amplia, bem como os aspec-
tos não econômicos. O processo
do desenvolvimento aqui ainda é
mais dependente. Há um duplo
problema de poder envolvido.
Enormes problemas de infor-
mação e de conceituação se co-
locam diante de nós. De um lado,
o número e a determinação das
variáveis, de outro, a definição
dos parâmetros e de coeficien-
tes técnicos. São problemas de
engenharia de produção, de um
lado e, do outro, os do consumo
e da demanda, convocando soci-
ólogos, antropólogos, demógra-
fos, biologistas.
O sistema econômico é um
fluxo permanente em que a va-
riável tempo assume uma impor-
tância maior e dificulta a constru-
ção dos modelos complexos e
dinâmicos. Mesmo os elementos
mais invariantes mudam, e mu-
dam inclusive qualitativamente,
observa Leontieff. E os parâme-
tros se tornam variáveis. A sim-
plificação da invariância dos coe-
ficientes técnicos é insustentável
ainda no curto prazo num proces-
so de desenvolvimento, porque a
heterogeneidade estrutural que
os diferenciava nas coordenadas
setorial e espacial só pode ser
superada através de uma mu-
dança nas funções de produção.
Os modelos formais po-
dem ser instrumento de análise,
de explicação e de elaboração
normativa extremamente útil ao
caso especial ou à situação par-
cial. Seu prestígio adveio do duplo
fato histórico: de um lado, os neo-
clássicos considerando os fatores
sociais e institucionais como da-
dos estáveis da realidade nos pa-
íses desenvolvidos. De outro, os
marxistas (nem sempre de acordo
com o próprio Marx, adverte o au-
tor), considerando-os não como
fatores, mas como efeitos: a su-
perestrutura social e cultural que
reflete a infraestrutura determina-
da pelas relações de produção.
Em face das realidades novas
e, sobretudo, das do mundo sub-
desenvolvido, há uma ânsia de
elaboração de novos conceitos,
particularmente condizentes com
as condições do desenvolvimen-
to dependente e dos específicos
problemas regionais. E sobre es-
tes a perplexidade é tal que mui-
tos simplesmente põem em duvi-
da sua especificidade.
Em face de tudo isso, os eco-
nomistas, que tinham ganhado
um grande prestígio, estão em
dificuldade de explicar ao públi-
co, que chegou a ser induzido
a acreditar em seus milagres –
apropriação de fatores históricos
favoráveis pelo solerte e autocrá
tico uso dos meios de comunica-
ção –, estão em dificuldade de
explicar-se e, sobretudo, expli-
car por que entre si discordam.
Diria, antes de mais nada, que
não é privilégio dos economistas.
Independentemente da capaci-
tação profissional, variam suas
inspirações éticas e ideológicas
e sua percepção do contexto
histórico em que se inserem as
formulações econômicas. Polí-
tica econômica para que e para
quem – eis a grande questão ide-
ológica, que não somente influi
na aplicação de conceitos eco
nômicos básicos sobre o que há
consenso, mas influi na própria
diferenciação desses conceitos.
Os economistas discordam, nos
mostra Lester Thurow, simples-
mente porque a economia não
é uma ciência experimental. Os
economistas, por isso, não po-
dem fazer predições porque não
podem prever ou medir as elás-
ticas variáveis não submetidas à
observação quantitativa. E pela
mesma razão, porque os even-
tos não são previsíveis, eles não
são completamente controláveis.
Dessa forma, a economia
como “engenharia” (a econome-
tria) avança e, auspiciosamente,
prestando grande serviço, se não
pretende abrangência maior em
sua validade que a de exercícios
de abstração que aceleram o cál-
culo e fornecem aproximações
ou hipóteses simplificadas da re-
alidade econômica, que é essen-
cialmente social.
Daí a aspiração a uma nova
economia política, voltando àam-
pla inspiração ética e social dos
clássicos. E o
nosso Celso Fur-
tado apresentar o
esquema de
uma teoria social integrada que
entronque: a teoria da reprodu-
ção da sociedade e daí a reto-
mada do conceito de excedente;