Página 153 - A&D_v23_n3_2011

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Aléssio Tony Cavalcanti de Almeida, Paulo Fernando de Moura Bezerra Cavalcanti Filho
Bahia anál. dados, Salvador, v. 23, n. 3, p.633-652, jul./set. 2013
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A ideia é que a mudança que surge dentro do
próprio sistema é tão forte que desloca perma-
nentemente o equilíbrio para uma nova posição,
em que esse novo ponto não pode ser alcançado
simplesmente por incrementos marginais no antigo
estado: por mais cavalos que se coloque para puxar
uma carroça, ela nunca terá um desempenho
com-
parado a um automóvel ou, replicando o exemplo
de Schumpeter (1997, p. 75): “adicione sucessiva-
mente quantas diligências quiser, com isso nunca
terá uma estrada de ferro”.
Apresentada a noção de desenvolvimento
schumpeteriano, o próximo passo é entender o ator
central que implementa as modificações ou, em ou-
tro termo, as inovações na economia. O primeiro
ponto é que tais modificações no ponto de equilíbrio
não ocorrem no lado dos consumidores de bens fi-
nais, mas sim na esfera industrial e comercial. Para
Schumpeter (1997):
[...] é o produtor que, via de regra,
inicia a mudança econômica, e os
consumidores são educados por ele,
se necessário; são, por assim dizer,
ensinados a querer coisas novas, ou
coisas que diferem em um aspecto ou
outro daquelas que tinham o hábito de
usar
(SCHUMPETER, 1997, p. 76).
Desse modo, o empresário é o agente econô-
mico responsável por introduzir as inovações na
economia e, portanto, a figura central que provoca
as perturbações no equilíbrio econômico, haja vis-
ta que tal agente pode desenvolver, por exemplo,
novas combinações mais eficientes entre os fato-
res produtivos, de modo a produzir, com um me-
nor custo, um dado produto, alterando inclusive as
condições de concorrência e provocando uma nova
circunstância econômica
4
.
Dadas essas ideias gerais de Schumpeter sobre
desenvolvimento e inovação, mais recentemente
4
Existem outros marcos teóricos em Schumpeter (1997) que merecem
destaque, tais como: 1) destruição criadora: que significa o processo
de substituição de antigos produtos e hábitos de consumir por no-
vos; 2) papel do crédito: para o empreendedor implementar na prática
suas ideias é necessário, em geral, a disponibilidade de crédito.
uma ala da corrente econômica iniciou a interli-
gação de tais noções schumpeterianas com con-
ceitos evolucionários. Dessa forma, o trabalho de
Nelson e Winter (1982), segundo Possas (2008),
representou a efetiva incorporação dos argumen-
tos evolucionários no campo econômico. Um dos
traços marcantes dessa linha é a análise da econo-
mia via argumentos análogos da biologia evolucio-
nária e o papel das ideias schumpeterianas sobre
as inovações como chave para a dinâmica do pro-
cesso. E é, justamente, a articulação dessas duas
perspectivas que marcam a corrente evolucionária
neo-schumpeteriana.
Os dois aspectos tidos como fundamentais do
espírito da biologia evolucionária em Nelson e Win-
ter (1982) podem ser sintetizados em dois mecanis-
mos: variação e seleção. A inovação realizada pela
firma mantém íntima relação com o mecanismo
de variação, já o outro componente diz respeito à
função do mercado como selecionador das rotinas
mais apropriadas. É válido acrescentar também que
a descrição da relação desses dois componentes
por tais autores guarda estreita relação com a abor-
dagem de Schumpeter. Nesse sentido, existe uma
relação direta entre as melhores regras de decisão
selecionadas e as maiores lucratividades, onde tal
ação resulta em uma maior fatia de mercado por
parte das firmas.
As inovações possuem um papel de suma im-
portância por induzir um maior grau de competitivi-
dade, fator que é fundamental para a sobrevivência
das empresas no mercado
5
. É interessante obser-
var que, apesar de todo o esforço inovativo da firma,
quem dará o aval do sucesso ou não da inovação
é o processo de seleção feito pelo mercado, que
envolve também o desempenho dos concorrentes
e da aceitabilidade dos consumidores (NELSON;
WINTER, 1982). Dessa forma, os fatores que afe-
tam a competitividade são múltiplos, como o esforço
5
Como realça Conceição (2000), a inovação tecnológica é um dos
pontos centrais da abordagem neo-schumpeteriana, pois a inovação
transborda a esfera tecnológica, podendo afetar inclusive os costu-
mes da sociedade.