Página 151 - A&D_v23_n3_2011

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Aléssio Tony Cavalcanti de Almeida, Paulo Fernando de Moura Bezerra Cavalcanti Filho
Bahia anál. dados, Salvador, v. 23, n. 3, p.633-652, jul./set. 2013
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INTRODUÇÃO
Um dos ‘ismos’ problemáticos característicos da
política brasileira na década de 80, como aponta
Campos (1991), era o protecionismo
1
. Esse prote-
cionismo se tornava uma preocupação exacerbada
pelo desenho de incentivos estabelecidos pela políti-
ca governamental, que implicava baixo estímulo para
as indústrias situadas no território nacional elevarem
seu grau de competitividade, via modernização de
equipamentos, introdução de novos produtos no mer-
cado, maiores investimentos em Pesquisa e Desen-
volvimento (P&D) etc. Ou seja, é como se, na lingua-
gem de Nelson e Winter (1982, 2002), o processo de
seleção fosse insignificante na economia brasileira
no período, de modo que o mecanismo de variação
não se reproduzisse de forma adequada, resultando
assim em perdas de eficiência cumulativa
2
.
O início da década de 90 no Brasil é marcado por
uma maior abertura comercial e financeira da econo-
mia nacional. Com a intensificação da concorrência
de produtos importados, a indústria doméstica se viu
obrigada a entrar no processo de
darwinismo
, em que
apenas as firmas commais eficiência e condições de
concorrência sobreviveriam ao novo contexto de mer-
cado. Considerando-se a Pesquisa Industrial Anual
(PIA) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) entre 1988 e 1995, nota-se uma expressiva
redução (mais de 30%) no número de empresas in-
dustriais no território nacional entre a passagem da
década de 80 para a de 90, o que evidencia também
uma reversão da trajetória ascendente
3
observada
nas décadas de 70 e meados de 80.
Nesse cenário, uma pergunta que pode ser in-
troduzida é a seguinte: sob a ótica da perspectiva
1
Os outros ‘ismos’ fatais na política brasileira para Campos (1991) se-
riam: nacionalismo, paternalismo, estatismo e estruturalismo.
2
Seguindo a linha de Giambiagi (2007), era necessário que as medi-
das protecionistas fossem de caráter temporário – e não, simples-
mente, aguardassem a ‘maturidade’ da indústria nascente – e que
o grau de proteção fosse reduzindo gradualmente até o ponto de a
indústria doméstica poder competir em um patamar mais equitativo
com as firmas situadas no estrangeiro.
3
Os dados da PIA entre 1969 e 1984 mostram significativo crescimen-
to de estabelecimentos do setor industrial onde, em tal período, o nú-
mero de estabelecimentos elevou-se em mais de 150%.
regional, quais localidades foram mais afetadas
pelo novo contexto concorrencial da década de 90
no Brasil? A resposta para tal indagação é sinaliza-
da na Tabela 1.
A Tabela 1 mostra uma mudança em termos
absolutos no quantitativo de firmas em todas as
regiões. Para o Sudeste que concentrava a maior
parcela delas, observa-se que houve uma redução
em 30,7% no número de empresas, saindo de 20,4
mil em 1988 para 14,2 mil em menos de uma déca-
da. Contudo, nota-se que as regiões menos desen-
volvidas do país, Norte e Nordeste, foram aquelas
em que ocorreram as maiores taxas de fechamento
de firmas, uma vez que as empresas, em 1995, em
tais localidades representavam, respectivamente,
64,8% e 67,4%, do quantitativo de firmas de 1988.
Em termos relativos, as regiões mais pobres sofre-
ram com mais intensidade o processo de seleção
das ‘espécies’ industriais na década de 90.
Levando-se em conta que o atual cenário de
mercado exige uma maior dinâmica competitiva
das indústrias nacionais, traduzida sob a ótica de
maior produtividade e eficiência, e dada a importân-
cia de entender o período pós-abertura em termos
de mudanças no
market share
dos estados brasilei-
ros no setor industrial, numa perspectiva de disputa
regional de mercados, o presente trabalho tem dois
objetivos centrais:
desenvolver um indicador de eficiência dos es-
forços inovativos das indústrias situadas nas
unidades federativas brasileiras, avaliando,
inclusive intertemporalmente, a relação dos
recursos empregados em atividades ligadas à
inovação com os resultados e impactos obtidos
pela indústria numa dimensão regionalizada;
analisar os principais determinantes do cresci-
mento do
market share,
baseado na expressão
replicator dynamics
, tendo especial atenção em
compreender o papel da eficiência do esforço
de inovação tecnológica nesse processo.
No que concerne ao primeiro objetivo, tem-se
na literatura nacional trabalhos, como o de Men-
des, Lopes e Gome (2012), que tentam avaliar o