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Bahia anál. dados, Salvador, v. 23, n. 3, p.495-507, jul./set. 2013
SUGESTÕES PARA UM NOVO MODELO DE
DESENVOLVIMENTO DO NORDESTE
1
Rômulo Almeida
Meu reconhecimento pelo pri-
vilégio de parti­cipar desta Casa
que é uma expressão das elites
do Ceará que tantas expressões
têm dado em todos os campos da
atividade, nascidas que são do
povo hu­milde desta terra, cuja ex-
traordinária energia e cria­tividade
tem marcado presença em todos
os recan­tos e setores deste país.
A distinção mais me pren­de a
esta querida Terra da Luz e da Li-
berdade. E realça ao ser recebi-
do pela voz sábia e bem emérita
do fundador da Universidade Fe-
deral do Ceará, o magnífico rei-
tor Antonio Martins Filho, depois
de um voto unânime do colendo
Conselho Univer­sitário, sob a
presidência do magnífico reitor
professor Paulo Elpídio Menezes
Neto, que tem mantido o dinamis-
mo que caracterizou a UFC des-
de sua feliz implantação.
1
Aceito a bondosa acolhi-
da como homenagem dirigida a
meus companheiros da Comis-
são Incor­poradora do Banco do
Nordeste do Brasil, Francis­co
Vieira de Alencar, já desapare-
cido, e Cleantho de Paiva Leite,
bem como da primeira diretoria,
1
Extraído do discurso proferido por Rômu-
lo Almeida por ocasião do recebimento do
título de doutor
honoris causa
concedido
pela Universidade Federal do Ceará, em
14/9/1982. Foi publicado informalmente, à
época, pela UFC, sem a revisão do autor, e
gentilmente cedido para republicação nesta
revista.
Aluísio Afonso Campos, Gomes
Maranhão, Olavo Galvão, Carlos
Sabóia e José Vicente de Olivei-
ra Martins, este já falecido, e da
equipe auxiliar de implantação do
BNB, grupos a que simplesmente
tive o privilégio de ouvir.
Carreguei durante toda mi-
nha vida profissio­nal a nostal-
gia da vida acadêmica. Busco
agora – ­sem, entretanto, poder
libertar-me de outras ativi­dades
cívicas – rever a experiência em-
pírica e confrontá-la com o repo-
sitório, hoje muito mais rico, do
pensamento acadêmico sobre
os proble­mas do subdesenvol-
vimento, particularmente os de
uma região periférica condiciona-
da a uma uni­dade nacional. Não
sei se terei condições para rea­
lizar minha tentativa tardia.
Neste momento em que,
apesar dessa riqueza de co-
nhecimento, se questiona o re-
alismo, a rele­vância e a utilida-
de da teoria econômica – e dos
modelos econométricos – para
deslindar esses pro­blemas do
subdesenvolvimento, quero dar,
como um homem da práxis,
uma opinião francamente con-
fiante na importância do esforço
de teorização sobre o sistema
econômico e os problemas do
subdesenvolvimento.
A abstração de variáveis es-
senciais, se simpli­fica a realidade,
ajuda a decifrá-Ia. E dá velocida-
de ao nosso pensamento e aos
nossos cálculos, que são sempre
inerentes a um raciocínio econô-
mico. O problema da eficácia do
método está apenas na consciên-
cia do que não está abrangido nas
formulações teóricas. Ou seja,
saber-se o que não se sabe, no
quadro mais amplo da realidade
social e humana – o que não é co-
mum, pois é uma característica da
própria sabedoria. Já Rui Barbosa
dizia, numa oração aos jovens: “O
sábio sabe que não sabe”.
Mesmo nas sociedades mais
desenvolvidas e es­truturalmente
mais homogêneas, onde os
parâme­tros sociais e institu-
cionais têm maior estabilidade,
novos problemas revelaram a
insuficiência do ins­trumental te-
órico de explicação e de orien-
tação de política, que havia sido
a aparente razão do perío­do de
prosperidade mais longo da his-
tória do capi­talismo. Estão aí a
estagnoinflação, as perplexida­
des energéticas e ecológicas e a
insurreição contra o hedonismo
consumista, a anticultura no con-
texto capitalista. Que dizermos
das particularidades do subde-
senvolvimento, às voltas com
uma heteroge­neidade estrutu-
ral maior no sistema produtivo e
com as complicações não econô-
micas antropológi­cas e culturais,