Página 13 - A&D_v23_n3_2011

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Bahia anál. dados, Salvador, v. 23, n. 3, p.495-507, jul./set. 2013
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complementar, com identidade
própria, e não como região croni-
camente dependente dos favores
do Sudeste. Foi com essa repre-
sentação da personalidade his-
tórica da região que empreendeu
a tentativa de valorização de ba-
cias hidrográficas, com viagens
pelas bacias do Itapicuru e do
Paraguaçu. O grande desafio do
Rio São Francisco foi enfrentan-
do mediante o debate em torno
da missão da Superintendência
do Vale, quando Rômulo defen-
dia a urgência de trazer projetos
agrícolas modernos, a exemplo
do relativo à cebola.
No essencial, tratava-se de
um modo próprio de ver a mo-
dernização como um processo
transformador, com sua própria
internacionalidade. A visão da
elite nordestina seria mais ape-
gada à cultura clássica que a do
sul, talvez por ter ficado distan-
te da influência da imigração de
massa, com sua própria intelec-
tualidade, com seu modo de ver
o Brasil e entender a formação
colonial e a cultura clássica. O
projeto de modernização técni-
ca tinha outros matizes culturais,
visíveis no fato de que diversos
dos líderes políticos eram, tam-
bém, literatos. Rômulo Almeida
tinha seu próprio modo de ver
a cultura clássica. Foi o primei-
ro brasileiro a visitar Agrigento,
na Sicília, terra de Parmenides e
de Empedocles. Muitos anos de-
pois, morreria no momento em
que partia para assistir à Sema-
na Santa em Sevilha.
Com o Banco do Nordes-
te, Rômulo estabelecia a tese
compartilhada com Hans Singer
(1948) e Stefan Robock (1956),
de que o problema do Nordeste
era o subdesenvolvimento e não
a seca. Começava uma polêmica
que projetaria contradições fun-
damentais do processo de de-
senvolvimento na região, porque
a elite nordestina realizara um
projeto de poder familiar contra-
ditório com essa modernização,
como colocaria Ignacio Rangel
com seus trabalhos sobre a ques-
tão agrária e sobre a capacida-
de ociosa no sistema produtivo.
Com seus programas de forma-
ção de quadros, Rômulo criava
um novo estrato de elite técnica,
que resultaria em lideranças po-
líticas no Ceará, na Paraíba, em
Sergipe, e teria um papel no con-
texto político da Bahia.
Ao lado da gratidão mais pro-
funda pela hon­raria excepcional
com que me está brindando a
ge­nerosidade dos eminentes co-
legas da Universidade Federal
do Ceará, manifesto a surpresa
de estar sendo distinguido com
esse doutorado alguém que não
passa de um praxista. Professor
bissexto tenho sido, pesquisador
e especulador acadêmico tive
am­bição de ser. Mas a vida me
exigiu limitar-me à bus­ca da so-
lução de problemas concretos,
de maior ou menor complexida-
de, ao nível técnico ou ao das
decisões políticas.