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Bahia anál. dados, Salvador, v. 23, n. 3, p.495-507, jul./set. 2013
Rômulo voltou. A sensação de
que Rômulo voltou é sustentada
por uma renovação do interesse
por sua obra, que é patrimônio do
Nordeste, além da Bahia, e rea-
parece toda vez que se trata de
definir um olhar nordestino sobre
o Brasil. O reconhecimento dos
cearenses foi um marco de mi-
lha no caminho de um espaço
de diálogo que veio valorizar o
papel nacional do Nordeste. Cer-
to esquecimento de Rômulo na
Bahia coincidiu com um utilitaris-
mo na política e com o abandono
da ideologia nacional. Sua volta
pode ser um sinal de esperança.
Tudo gira em torno da pro-
posta de criação do Banco do
Nordeste. A seca de 1949 foi a
grande aliada do empreendimen-
to quixotesco de Rômulo Almei-
da de criar um banco de desen-
volvimento para o Nordeste. Em
1955, o Ceará era outro planeta
Nordeste, onde até mesmo os
pernambucanos eram estrangei-
ros. De fato, havia vários Nordes-
tes, desde a visão quase lusitana
do Maranhão à área de influên-
cia da capitania de Pernambuco
e da Bahia. O Rio São Francis-
co dividia o semiárido e as áreas
culturais do Nordeste, realmente
unido pelo fenômeno do semiá-
rido, polarizado entre um litoral
impregnado da cultura canaviei-
ra, um interior algodoeiro, mas de
fato marcado pela relação entre
grande propriedade e pecuária.
A DESCOBERTA DO NORDESTE
Fernando Pedrão
O Nordeste se definia como a
parte do Brasil historicamente
mais contínua e por uma relação
diferenciada com o poder que vi-
nha desde sua participação polí-
tica exacerbada no Império.
A peregrinação de Rômulo
pelas capitais do Nordeste para
reunir lideranças políticas em prol
da aventura de criar o Banco do
Nordeste, que deveria compen-
sar o BNDE, teve um sucesso
inicial devido em boa parte ao
apoio que conseguiu em Sergi-
pe e na Paraíba, graças a Aloi-
sio Campos e Cleantho Leite. A
seguir, o convênio com o Itama-
raty, através do embaixador Pau-
lo Carneiro, permitiu-lhe trazer o
americano Stefan Robock e mon-
tar o programa de formação de
pessoal técnico, incorporando o
paulista Diogo Gaspar e o cario-
ca Anibal Villela, este doutorado
em Uppsala, que trouxe a influ-
ência de Wicksell e Myrdal para
o Brasil. A visão de equipe de
Rômulo foi comprovada ao trazer
pesquisadores-chave para o Es-
critório Técnico do Nordeste (Ete-
ne), já criado por Robock: Asher,
inglês; Scholz, alemão, autor do
primeiro estudo sobre a mandio-
ca; Guimarães Duque explorando
o potencial alimentar da caatinga.
O Etene despontava como o pri-
meiro centro de pensamento so-
bre o Nordeste. Paralelamente,
ocorria a formação da primeira
equipe brasileira, com Rubens
Costa, cuja carreira meteórica co-
meçava como economista-chefe
do Etene; Anisia Daltro, primeira
chefe de estatística do Etene; e
Heraldo Costa, chefe da carteira
industrial que implantou a análise
de projetos. Em 1958, Fernando
Pedrão e Fernando Mota fizeram
o primeiro curso sobre desen-
volvimento regional. Com todos
eles, Rômulo Almeida compunha
a “banda de pau e corda” com
que colocou o Banco do Nordeste
como a instituição mais avança-
da da América Latina em fomento
do desenvolvimento, cujas técni-
cas operacionais seriam, adiante,
referência para a Corporação de
Fomento do Chile e para o Banco
Industrial da Argentina.
Cuidar do lado da Bahia foi
outro aspecto dessa estratégia
nordestina que Rômulo abor-
dou ao revitalizar o Instituto de
Economia e Finanças da Bahia
(IEFB), mediante acordo com o
reitor Edgard Santos, e formar ali
uma equipe treinada em conjun-
to com a do Etene, para apoiar
o planejamento estadual. O IEFB
produziu os estudos macroeco-
nômicos para o planejamento
junto com pesquisas sobre in-
dústrias e fez o primeiro estudo
sobre a região cacaueira.
Finalmente, o projeto quixo-
tesco de Rômulo Almeida re-
sultava em um novo modo de
ver o Nordeste, agora como
uma imensa região diversa e