Página 109 - A&D_v23_n3_2011

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Fernanda Calasans Costa Lacerda, Gustavo Casseb Pessoti, Josias Alves de Jesus
Bahia anál. dados, Salvador, v. 23, n. 3, p.587-612, jul./set. 2013
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e na criação de um ambiente econômico interno
capaz de diminuir a dependência do mercado ex-
terno e permitir a expansão da produção de bens
industriais.
Outro ponto destacado nos estudos da CEPAL
foi a proposta de integração dos países latino-
-americanos com o objetivo de promover o desen-
volvimento regional. Somada à industrialização
e ao enfrentamento dos problemas estruturais,
a integração regional “é vista como um meio de
proteção e de fortalecimento das economias re-
gionais para garantir uma inserção mais segura
e uma competitividade global em condições mais
igualitárias” (CORAZZA, 2006, p. 149). Mais re-
centemente, nos anos 1990, o modelo de integra-
ção econômica defendido pela CEPAL sofreu al-
terações, resultando na defesa do que se chamou
regionalismo aberto. Este se define como
un proceso de creciente interdependencia eco-
nómica a nivel regional, impulsado tanto por
acuerdos preferenciales de integración como
por otras políticas en un contexto de apertura
y desreglamentación, con el objeto de aumen-
tar la competitividad de los países de la regi-
ón y de constituir, en lo posible, un cimiento
para una economía internacional más abierta
y transparente
(NACIONES UNIDAS, 1994).
Nota-se que o regionalismo aberto, diferente-
mente das ideias anteriormente defendidas pelo
pensamento econômico da CEPAL, não destoa das
proposições e análises da teoria econômica conven-
cional, na medida em que não mais propõe altera-
ção nos mecanismos de mercado, mas sim o alinha-
mento das economias latino-americanas às políticas
de abertura e liberalização econômica. Mais do que
isso, essa nova fase do pensamento cepalino pro-
põe que as economias latino-americanas se voltem
para o mercado externo, adequando-se às exigên-
cias deste mercado (CORAZZA, 2006). Tal fato con-
traria o pensamento histórico estrutural da CEPAL,
que apontava o crescimento voltado para fora das
economias latino-americanas como um dos princi-
pais entraves para o seu desenvolvimento.
As discussões em torno da relação existente
entre fluxos de comércio internacional e desenvol-
vimento regional não se limitam às contribuições do
pensamento econômico da CEPAL. Paralelamente
aos estudos cepalinos, outros autores procuraram
analisar a exportação de produtos primários e se-
cundários como estratégia de desenvolvimento/
crescimento das regiões, chegando a conclusões
distintas das apresentadas pela CEPAL.
De acordo com Watkins (1977), o enfoque dos
produtos primários é, essencialmente, uma inova-
ção canadense, sendo o seu principal expoente
Harold Innis. Ainda segundo Watkins (1977), a hi-
pótese central da teoria dos produtos primários é
que as exportações desses produtos constituem o
setor predominante da economia e estabelecem o
ritmo de crescimento econômico. Com isso, o de-
senvolvimento econômico será um processo de di-
versificação em torno de uma base de exportação.
O argumento central da teoria do produto primá-
rio, portanto, são os efeitos de dispersão do setor
exportador, ou seja, o impacto da atividade de ex-
portação sobre a economia e a sociedade locais.
O processo de aumento das exportações significa
uma elevação da renda do setor exportador. O gas-
to desta renda gera oportunidades de investimento
em outros setores, tanto interna como externa-
mente. Os fluxos de renda geram um mecanismo
multiplicador-acelerador desagregado, causando
efeitos de encadeamentos “para frente” e “para
trás”, tal como preconizado por Hirschman (1977
[1958]). Em síntese, a teoria do produto primário
torna-se uma teoria de formação de capital para o
setor exportador em expansão.
Ao concordar com Harold Innis acerca da teo-
ria do produto primário como base para a compre-
ensão do desenvolvimento econômico do Cana-
dá, North (1977) vai ampliar esta visão e elaborar
a expressão “base de exportação” para designar
os produtos de exportação de uma região. Contu-
do, ele chama a atenção de que o termo “produ-
tos primários” não se refere apenas aos produtos
extrativos, mas aos principais produtos da região,