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Inserção internacional, transformações estruturais, (des)concentração espacial:umaanálise para
a economia baiana
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Bahia anál. dados, Salvador, v. 23, n. 3, p.587-612, jul./set. 2013
por mudanças na estrutura produtiva, ou seja, que
acompanharam a Revolução Industrial, conseguin-
do se modernizar e elevar o nível de renda e, con-
sequentemente, tornaram-se
o centro das decisões eco-
nômicas do mundo; e 2) os
países periféricos ou subde-
senvolvidos, caracterizados
pelo baixo nível tecnológico,
a baixa diversificação produtiva e a concentração
das atividades econômicas no setor primário. É
neste segundo grupo de países que os trabalhos
da CEPAL se concentram, na tentativa de identificar
os problemas resultantes da tardia industrialização
da periferia e as suas causas relacionadas com pe-
ríodos históricos antecedentes.
Segundo o pensamento econômico da CEPAL,
os países periféricos estavam em desvantagem no
comércio internacional, pois, enquanto estes expor-
tavam produtos primários de baixo valor agregado,
importavam produtos industrializados intensivos em
tecnologia e de alto valor agregado. Assim, aceitan-
do-se os argumentos da Teoria Clássica e/ou da Te-
oria Neoclássica do Comércio Internacional, essas
economias estariam fadadas a enfrentar problemas
no balanço de pagamentos, gerando uma deteriora-
ção dos termos de troca.
A alternativa proposta para conter esse dese-
quilíbrio era a industrialização, com o intuito de pro-
mover a substituição de importações, diminuindo a
dependência externa. No entanto, a expansão da
renda interna, ocasionada pelo processo de indus-
trialização voltado para o atendimento do mercado
interno, não evitaria a deterioração dos termos de
troca, uma vez que a elasticidade-renda da deman-
da por produtos importados é menor nos países de-
senvolvidos (demandantes de bens de baixo valor
agregado) do que nos países periféricos (deman-
dantes de bens de maior valor agregado).
A superação das dificuldades enfrentadas pe-
los países subdesenvolvidos não se resumia à
promoção da industrialização. Os problemas es-
truturais dessas economias, causados pela falta
de planejamento e de estrutura, contribuíam para
obstruir o processo de desenvolvimento econômi-
co (SANTOS; OLIVEIRA, 2008).
Fazia-se necessário en-
tender que as economias
latino-americanas eram for-
madas por dois setores. O
primeiro deles era o setor
exportador, responsável pela
produção dos produtos primários destinados ao co-
mércio internacional, isto é, o setor que permitia ca-
racterizar essas economias como primário-exporta-
doras. Mas havia também um setor de subsistência,
com baixo rendimento e reduzida capacidade de
gerar excedentes, que concentrava grande contin-
gente populacional (PINTO, 2000 [1970]).
Tal entendimento permitiu reconhecer a exis-
tência de uma “periferia interna” (PINTO, 2000
[1970]). Ou seja, regiões periféricas dentro de pa-
íses periféricos. A modificação desse cenário não
aconteceria de modo natural, sendo resultado de
ações de políticas econômicas e sociais. Por isso,
era preciso incentivar a modernização produtiva
dessas regiões, ampliando o mercado interno, quer
seja do ponto de vista da demanda (pelo aumento
da renda) ou do ponto de vista da oferta (maior di-
versificação produtiva).
Figueiredo (1990) afirma que, na estratégia de-
senvolvimentista cepalina,
[...] propugnava-se uma postura essencial-
mente ativa do Estado nos países latino-
-americanos, com a finalidade precípua de
criar aquelas condições de infraestrutura e de
indústrias básicas, indispensáveis ao estímulo
para que o empresário capitalista assumisse,
na América Latina, sua face inovadora, audaz,
desbravadora, ousaria mesmo dizer “schum-
peteriana” (FIGUEIREDO, 1990, p. 143).
Nesse sentido, diante dos problemas caracte-
rísticos das economias periféricas e da posição
subalterna que estas ocupavam na divisão inter-
nacional do trabalho, a atuação do Estado seria in-
dispensável na superação dos enclaves estruturais
A superação das dificuldades
enfrentadas pelos países
subdesenvolvidos não se resumia
à promoção da industrialização