Página 107 - A&D_v23_n3_2011

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Fernanda Calasans Costa Lacerda, Gustavo Casseb Pessoti, Josias Alves de Jesus
Bahia anál. dados, Salvador, v. 23, n. 3, p.587-612, jul./set. 2013
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bens. Diante dessa constatação, Ricardo propôs
que os países deveriam se especializar na produ-
ção sobre a qual tivessem maior vantagem compa-
rativa, pois isso resultaria em maior produtividade
e, consequentemente, maio-
res ganhos. Para identificar
a vantagem comparativa de
uma nação, esse autor parte
da análise dos preços rela-
tivos, fundamentando-se na
mesma análise do valor-trabalho adotada por Smi-
th. A síntese da argumentação ricardiana é que o
comércio bilateral é sempre mais vantajoso que a
autarquia para duas economias cujas estruturas de
produção sejam similares (BAUMANN; CANUTO;
GONÇALVES, 2004).
A contribuição da Escola Neoclássica à Teoria do
Comércio Internacional ocorreu, inicialmente, com o
trabalho do economista sueco Eli Heckscher, que
apresentou o argumento de que o comércio inter-
nacional iguala os preços dos fatores de produção
entre os países. Este trabalho foi desenvolvido mais
tarde pelo também sueco Bertil Ohlin, para o qual há
apenas uma tendência à equalização dos preços dos
fatores. Essa contribuição é conhecida na literatura
econômica como Teorema Heckscher-Ohlin (HO)
1
.
Segundo esse teorema, cada nação exportará o pro-
duto que usa de forma intensiva o fator que é relati-
vamente abundante domesticamente e importará o
produto que exija a utilização do seu fator escasso.
Para Brum (2002), a diferença principal entre clás-
sicos e neoclássicos é que os últimos saem do mo-
delo ricardiano, de um único fator de produção, para
uma análise que engloba o conjunto dos fatores de
produção, sua intensidade de utilização e sua intera-
ção entre os recursos de produção, bem como a tec-
nologia adotada na produção pelos diferentes países.
Ao longo da segunda metade do século XX, sur-
giram novas ideias e teorias para explicar os fluxos
1
Posteriormente, Paul Samuelson formalizou, de forma definitiva, o
teorema de equalização dos preços que ficou conhecido como Te-
orema Heckscher-Ohlin-Samuelson (H-O-S) (BAUMANN; CANUTO;
GONÇALVES, 2004).
de comércio
2
. Entre estas formulações, destacam-
-se aquelas que consideram a existência de econo-
mias de escala e concorrência imperfeita como si-
tuações características da economia internacional,
como a elaborada por Paul
Krugman, no final dos anos
1970. Esse autor demonstra
que a existência de econo-
mias de escala aumenta a
possibilidade de haver inter-
câmbio, mesmo entre economias com dotações
semelhantes de fatores.
Para Oliveira e Guilhoto (2008), a abordagem
de Krugman avança em relação aos postulados
neoclássicos ao argumentar que o comércio inter-
nacional é uma estratégia para que as grandes cor-
porações, atuando em concorrência monopolística,
possam alcançar maiores escalas de produção e,
por consequência, aumentar suas participações no
mercado.
A análise do papel do comércio internacional
na promoção do desenvolvimento econômico dos
diversos países recebeu outras importantes contri-
buições ainda no século XX, principalmente no que
se refere aos efeitos do comércio exterior para os
países menos desenvolvidos. Nesse sentido, as for-
mulações teóricas e políticas da CEPAL, no perío-
do pós-Segunda Guerra Mundial, constituem-se em
importante contribuição para a compreensão das
economias latino-americanas. Para Corazza (2006,
p. 136), a “CEPAL não se propõe a elaborar uma
“teoria geral” do desenvolvimento capitalista, mas
o que se poderia chamar de uma “teoria aplicada”
das condições específicas do subdesenvolvimento
da América Latina”.
A teoria cepalina, com destaque para as ideias
do economista argentino Raul Prebish, parte da vi-
são de que o sistema econômico mundial é formado
por dois grupos de países: 1) os países centrais,
referindo-se àquelas economias que passaram
2
Para um resumo dessas teorias, ver Baumann, Canuto e Gonçalves
(2004).
Ao longo da segunda metade
do século XX, surgiram novas
ideias e teorias para explicar
os fluxos de comércio