Página 105 - A&D_v23_n3_2011

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Fernanda Calasans Costa Lacerda, Gustavo Casseb Pessoti, Josias Alves de Jesus
Bahia anál. dados, Salvador, v. 23, n. 3, p.587-612, jul./set. 2013
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INTRODUÇÃO
Nos anos 40 do século passado, Otávio Man-
gabeira cunhou uma expressão – que, alguns anos
mais tarde, foi popularizada por Manuel Pinto de
Aguiar – para denominar o que ele considerava ser
o “enigma baiano”. Questão emblemática no cer-
ne das discussões de economia baiana, essa ex-
pressão, que fora analisada por muitos estudiosos,
dos quais, Rômulo Almeida, Luís Henrique Dias
Tavares e Clemente Mariani, tentava interpretar o
problema da involução industrial da Bahia. Afinal,
o que ocorria era um quadro de estagnação, ou
mesmo decadência, dos setores têxtil e fumagei-
ro – que já haviam exercido papel de destaque na
economia baiana a partir da segunda metade do
século XIX – e o desaparecimento de um conjunto
de empresas manufatureiras que surgiram nos pri-
meiros anos da República.
Para tentar resolver o problema enunciado pelo
enigma, a Bahia apostou em uma estratégia in-
dustrialista, apoiada nas ideias estruturalistas da
Comissão Econômica para a América Latina e o
Caribe (CEPAL), de que o caminho para o desen-
volvimento econômico perpassava pelo fomento
das cadeias industriais capazes de gerar externali-
dades para toda a economia e modificar a inserção
internacional de economias periféricas. Planos de
desenvolvimento industrial alicerçados em incenti-
vos fiscais, combinados com as ações do Estado
desenvolvimentista, buscavam consolidar a modi-
ficação na estrutura produtiva do estado, de forma
a diminuir a sua dependência da secular economia
agrícola (que se revezara do açúcar para o fumo e
depois para o cacau) e aumentar a diversificação
econômica da Bahia com reflexos importantes para
a geração de emprego e renda e para o crescimen-
to econômico.
No entanto, a despeito do relativo sucesso
dessa estratégia de desenvolvimento apoiada na
complexificação industrial e nos ganhos das re-
lações exteriores, a economia baiana defrontou-
-se com outros problemas de igual importância,
que estavam relacionados com a sua dificuldade
de espraiamento para o interior do estado, resul-
tante da enorme concentração do PIB na Região
Metropolitana de Salvador (RMS). Aparentemente,
como assim argumentaram economistas contem-
porâneos muito importantes, como Guerra, Teixei-
ra (2000) e Menezes (2000), a economia baiana
deixava de ser representada pela “praça comercial
de Salvador” e passava para o Polo Petroquími-
co de Camaçari. Os referidos textos, que até hoje
servem de base para todos os estudos socioeco-
nômicos sobre a Bahia, defendiam uma “dinâmica
espasmódica e exógena” e uma concentração do
PIB baiano na RMS, com apenas dez municípios
representando mais de 70% de todas as riquezas
produzidas pelo estado.
Desse modo, este trabalho não tem a pretensão
de contestar as conclusões já assumidas para o
estudo da evolução econômica da Bahia, mas de
oferecer um contraponto, baseando sua análise no
desempenho econômico dos maiores municípios
exportadores da Bahia. O argumento aqui defen-
dido é que a análise agregada da economia baia-
na esconde uma tendência de desconcentração,
principalmente quando analisada sob o viés dos
municípios baianos situados fora da RMS e que
aumentaram seu dinamismo econômico ao longo
dos últimos anos apoiados no incremento de suas
relações internacionais.
A justificativa para tal proposição ficou mais evi-
dente quando os dados estatísticos foram desagre-
gados para analisar a evolução da economia baia-
na a partir dos municípios do interior e revelaram
que os maiores municípios exportadores situados
fora da RMS são os que apresentaram maior cres-
cimento econômico, que se refletiu em aumento de
suas participações no PIB estadual.
Dessa forma, este artigo tem como objetivo
contribuir para as discussões sobre a realidade
atual da economia baiana e tentar associar o au-
mento do dinamismo econômico interno aos ga-
nhos aludidos pelas teorias que defendem o co-
mércio exterior como vetor para o desenvolvimento