Página 31 - A&D_v23_n2_2011

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AngelaMachado Rocha, André de Goes Paternostro, Marcelo Santana Silva, PaulaMeyer Soares, Fabio Konishi
Bahia anál. dados, Salvador, v. 23, n. 2, p.303-315, abr./jun. 2013
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industriais, antissépticos, conservantes, bebidas,
desinfetantes, fármacos e combustível veicular
(BASTOS, 2007).
O Brasil produz etanol a partir da cana-de-
-açúcar e, segundo dados da
União da Indústria de Cana-
-de-açúcar (Unica), em 2011,
foram cerca de 9,6 milhões
de ha de terra cultivados que
geraram uma produção de
620 milhões de toneladas
de cana-de-açúcar. O Brasil é reconhecido mun-
dialmente como precursor na produção de etanol,
com amplo domínio das técnicas produtivas mais
avançadas (UNIÃO DAS INDÚSTRIAS DE CANA-
-DE-ÁÇUCAR, 2012).
Segundo dados da Empresa Brasileira de Agro-
pecuária (Embrapa), um hectare cultivado de cana-
-de-açúcar no Brasil produz em média 4.420 kg de
CO
2
. Em contrapartida, um hectare de cana-de-açú-
car substitui 4.500 litros de gasolina, cuja combustão
emite 16 toneladas de CO
2
por ano para a atmosfe-
ra. Em suma, para cada hectare de cana-de-açúcar
transformado em álcool e utilizado em substituição à
gasolina, tem-se uma redução de 12 toneladas nas
emissões de CO
2
por ano (EMPRESA BRASILEIRA
DE PESQUISA AGROPECUÁRIA, 2010).
O etanol é também produzido a partir do eteno
derivado do petróleo. Ou ainda a partir da utilização
da biomassa lignocelulósica proveniente de resídu-
os naturais (palha, sabugo de milho, bagaço etc).
Este processo envolve a utilização de processos
químicos por meio do emprego de ácidos ou de
enzimas para a quebra de moléculas de celulose
e produção de açúcares. A utilização da biotecno-
logia para a produção do etanol é considerada um
avanço indiscutível na cadeia produtiva do com-
bustível (KAMM; KAMM; GRUBER, 2005).
O emprego da biomassa proveniente do bagaço
da cana-de-açúcar é de apenas 17%. Quase toda
a palha de cana é queimada ou deixada no cam-
po, provocando um enorme desperdício. A utiliza-
ção dessa biomassa aumentaria o aproveitamento
energético de 21% para 50% (COMPANHIA AM-
BIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2002).
A produção de etanol requer uso intensivo de re-
cursos hídricos. Ou seja, o uso da água destina-se
não somente para a irrigação
do solo propriamente dito,
mas para todo um processo
produtivo, que inclui desde a
lavagem da cana até a fer-
mentação do caldo produzi-
do nas etapas do processo.
Existe uma grande variação no consumo de
água causada basicamente pelo desconhecimento
das reais necessidades hídricas da indústria, va-
riando de 2 a 20 m³ de água para cada tonelada de
cana-de-açúcar esmagada. A depender do tipo de
sistema empregado nas etapas produtivas, o maior
consumo de água ocorre, em geral, na etapa de
lavagem da cana-de-açúcar (UNIÃO DAS INDÚS-
TRIAS DE CANA-DE-ÁÇUCAR, 2012).
A União das Indústrias de Cana-de-açúcar
(2012) aponta que cada tonelada de álcool hidra-
tado produzido na cadeia do etanol demanda cer-
ca de 125 toneladas de água, isto apenas para a
utilização nos processos de lavagem, moagem,
fermentação, destilação, produção de vapor e lava-
gem de equipamentos.
Conforme a Companhia Ambiental do Estado
de São Paulo (Cetesb), o uso de água varia de
acordo com a tipologia do processo industrial ado-
tado nas usinas que produzem açúcar ou etanol.
Em usinas onde são produzidos 100% de açúcar,
são consumidos 30 m³/t. cana. Em uma destilaria
com 50% de açúcar e 50% etanol, o uso é de 21
m³/t. cana. E, finalmente, para usinas com pro-
dução de 100% etanol, o uso é de 15 m³/t. cana
(COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO
PAULO, 2002).
Apesar do ainda grande volume de água utili-
zado no processo industrial entre a captação e o
lançamento de despejo, percebe-se que, ao longo
do processo produtivo, os mecanismos de contro-
les internos e reuso estão sendo cada vez mais
A depender do tipo de sistema
empregado nas etapas
produtivas, o maior consumo de
água ocorre, em geral, na etapa
de lavagem da cana-de-açúcar