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A produção de etanol: umaanálise das estratégias paraa redução do consumo de água
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Bahia anál. dados, Salvador, v. 23, n. 2, p.303-315, abr./jun. 2013
INTRODUÇÃO
No início da década de 70, a eclosão da crise
mundial do petróleo impulsionou a busca de fontes
alternativas de energia, de forma a garantir o su-
primento energético e o crescimento econômico.
Diante desse cenário de grande dependência eco-
nômica do combustível fóssil, o etanol passou a se
destacar como uma fonte sustentável de energia.
O etanol (C
2
H
5
OH) pode ser oriundo da cana-
-de-açúcar. No Brasil, é empregado como combus-
tível automotivo em duas modalidades: 1) álcool
hidratado, utilizando 7% de água na mistura (por
exemplo, o usado em carros
flex fuel
), e 2) álcool
anidro com, no máximo, 0,7% de água na mistura.
O seu processo industrial ocorre pela fermentação
e advém da utilização de leveduras que são classi-
ficadas como agentes biológicos e que permitem a
aquisição do etanol em baixas concentrações, sen-
do imprescindível a retirada do excesso de água por
meio da destilação (RODRIGUES, 2010).
Segundo Bacchi (2006), o etanol tem sido indi-
cado pela comunidade internacional como uma das
soluções aceitáveis às dificuldades ambientais, en-
fatizando-se como uma fonte energética plausível
aos objetivos do Mecanismo de Desenvolvimento
Limpo (MDL), recomendado no Protocolo de Kyo-
to. Por sua vez, com a consolidação do complexo
agroindustrial do etanol, a produção demandou a
utilização de tecnologia bem específica para a utili-
zação e o aproveitamento da água em várias etapas
do processo produtivo. A expansão da produção
no país nos últimos anos conduz a uma análise do
uso racional da água, de tal modo que permita a
continuidade da expansão da produção do referido
biocombustível.
Este estudo faz uma análise acerca do uso da
água e das principais estratégias de redução da sua
utilização ao longo da cadeia produtiva do etanol.
A metodologia adotada seguiu a classificação
de pesquisa proposta por Gil (2009), que leva em
consideração a forma de abordagem do problema,
os objetivos e os procedimentos técnicos adotados.
O estudo caracteriza-se como qualitativo e explora-
tório, cujo procedimento técnico adotado foi pesqui-
sa bibliográfica.
HISTÓRICO E CADEIA PRODUTIVA DO
ETANOL
O cultivo da cana-de-açúcar remonta ao período
colonial. Em 1975, foi criado oPrograma Nacional
do Álcool (Pró-Álcool), com objetivo central de ala-
vancar o processo tecnológico e produtivo de etanol
no Brasil. Nesse período, o setor sucroalcooleiro foi
amplamente beneficiado com políticas de conces-
são de subsídios e incentivos agrícolas. A adoção
de políticas públicas de fomento e expansão do cul-
tivo da cana colocou o país em posição de destaque
no cenário mundial.
O Brasil, país de dimensões intercontinentais,
dispõe de 71 milhões de hectares (ha) agriculturá-
veis. São oito milhões destinados ao cultivo da ca-
na-de-açúcar, sendo 3,6 milhões para a produção
de etanol (KOHLHEPP, 2010). Segundo Veríssimo
e Andrade (2011), a plantação de cana-de-açúcar
aumentou mais de 150% entre 1990 e 2009 e a pro-
dução de etanol ultrapassou os 27 bilhões de litros
em 2010, o que representa um aumento de mais de
138% em relação a 1990. Em 2011/2012, 51,81% da
safra da cana-de-açúcar foi utilizada para a produ-
ção de etanol. A produção totalizou 22,68 bilhões
de litros, queda de 17,1% em relação ao período
2010/11. Tal redução deveu-se, em parte, à desa-
celeração mundial e à elevação do preço do açúcar
(
commodity
) no mercado internacional. Esta queda
na produção interna de etanol foi compensada pela
importação do produto (UNIÃO DAS INDÚSTRIAS
DE CANA-DE-ÁÇUCAR, 2012).
O etanol (C
2
H
5
OH), também conhecido como
álcool etílico ou simplesmente álcool, é uma
substância orgânica obtida principalmente pela
fermentação da sacarose de produtos como ca-
na-de-açúcar, milho, uva e beterraba. Possui di-
versas aplicações como solventes em processos