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Interface entre desertificação e mudança do clima e os efeitos sobre a gestão de recursos hídricos:
levantamento bibliográfico e abordagem conceitual
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Bahia anál. dados, Salvador, v. 23, n. 2, p.475-486, abr./jun. 2013
Extremos Climáticos e Desastres na América La-
tina e no Caribe: lições do relatório SREX IPCC
.
Neste relatório, constam dados sobre o Nordeste
brasileiro que mostram que,
desde 1950, houve um au-
mento no número de dias e
noites quentes. Referente-
mente às mudanças proje-
tadas de temperatura e ex-
tremos de precipitação até o
final do século XXI, para essa mesma região, os
modelos mostram, com alta confiança
3
, tendências
de aumento no número de dias e noites quentes e
a de redução de noites e dias frios, bem como a
ocorrência de ondas de calor mais longas e mais
frequentes. Além disso, os dados revelam, com
média confiança, tendência de aumento no núme-
ro de dias com aridez máxima e estiagem
4
.
Caso as projeções se confirmem, como efeitos
da mudança do clima na região, estudiosos aler-
tam para a diminuição da frequência de chuvas
e a ocorrência de secas mais prolongadas e fre-
quentes. Por consequência, relacionados a esses
efeitos, podem ser identificados os seguintes im-
pactos: empobrecimento do solo por erosão; inten-
sificação do processo de desertificação; diminui-
ção da diversidade biológica; comprometimento da
produção agrícola e energética; disseminação de
doença e desencadeamento de ondas migratórias,
além do aumento do número de mortes vinculadas
aos calores extremos
5
.
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
3
De acordo com a Nota de Orientação do IPCC, os níveis de confiança
são obtidos a partir da relação entre concordância e evidência. O ní-
vel de confiança é alto quando se tem alta concordância e evidência
robusta.
4
Aridez refere-se a um déficit meteorológico, enquanto estiagem, à
escassez de água estendida e contínua.
5
Estudo que relacionou dados de mortalidade, em países de baixa e
média rendas, com a temperatura, observou que, em dias muito quen-
tes, houve maior mortalidade na maioria das cidades, inclusive em
Salvador (REDE DE CONHECIMENTO DE CLIMA E DESENVOLVI-
MENTO, 2012).
Ainda não há condições seguras para determi-
nar o grau, a extensão e o momento dos efeitos pre-
vistos da mudança do clima no semiárido brasileiro,
o que dificulta a implementa-
ção de medidas de adapta-
ção. Entretanto, o conheci-
mento já construído permite
a adoção de uma estratégia
de adaptação à mudança do
clima que tenha como foco
vulnerabilidades já identificadas e o aumento da
resiliência dos sistemas afetados.
Nesse contexto, encaixam-se as medidas ditas
“sem arrependimento”. Essas medidas se referem
àquelas que, mesmo em um cenário sem mudan-
ça do clima, são necessárias para enfrentar pro-
blemas atuais, e, ao mesmo tempo, resultam no
aumento da capacidade dos sistemas naturais e
humanos de lidar com as alterações esperadas.
Levando-se em conta os impactos da mudan-
ça do clima e da desertificação, especialmente no
semiárido brasileiro, considera-se razoável a ado-
ção das seguintes medidas referentes à gestão de
recursos hídricos: 1) aprimorar o monitoramento
hidrometeorológico e o sistema de previsão de
eventos hidrológicos críticos; 2) contar com planos
de bacias que ofereçam as ferramentas necessá-
rias para a tomada de decisões quanto ao modelo
de desenvolvimento pretendido para cada região,
tendo em mente os efeitos da mudança do clima e
da desertificação sobre a disponibilidade hídrica;
3) apontar fontes seguras de abastecimento, bem
como estabelecer medidas que convirjam para a
manutenção dessas fontes; 4) estabelecer estraté-
gia de regulação que assegure os usos múltiplos
da água; e 5) promover capacitação de gestores
locais a respeito dos temas abordados.
Além disso, é preciso considerar de forma mais
sistemática os possíveis efeitos da mudança do
clima nos processos de desertificação. Conforme
comentado, os estudos demonstram que as áre-
as afetadas pela desertificação tendem a aumen-
tar. Assim, sugere-se que as políticas de combate
Como efeitos da mudança do clima
na região, estudiosos alertam para
a diminuição da frequência de
chuvas e a ocorrência de secas
mais prolongadas e frequentes