Página 209 - A&D_v23_n2_2011

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BrunaMendonça, Dalvino Franca, Joaquim Gondim, Luis Preto
Bahia anál. dados, Salvador, v. 23, n. 2, p.475-486, abr./jun. 2013
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de acordo com o que sinalizam os modelos de pre-
visão climática, esperam-se, entre outras conse-
quências, mudanças nos padrões da precipitação, o
que poderá afetar significativamente a disponibilida-
de e a distribuição temporal
da vazão nos rios. Em resu-
mo, estudos mostram que os
eventos hidrológicos críticos,
secas e enchentes, poderão
tornar-se mais frequentes e
mais intensos.
Somadas aos impactos esperados no regime
hidrológico, estão as prováveis mudanças na de-
manda de diversos setores usuários, que possivel-
mente aumentará acima das previsões realizadas
a partir da expectativa de crescimento populacio-
nal e desenvolvimento do país. A elevação da tem-
peratura e da evapotranspiração poderá acarretar,
entre outros efeitos, maior necessidade de irriga-
ção, refrigeração, consumo humano e desseden-
tação de animais em determinados períodos e re-
giões, além de afetar a capacidade de reservação
e o balanço hídrico.
Uma decorrência importante da mudança cli-
mática e, por consequência, do aumento da va-
riabilidade natural dos eventos hidrológicos é a
possível aquisição de não estacionariedade pelas
séries hidrológicas, que afeta o planejamento e a
operação da infraestrutura hídrica para atendimen-
to dos usos múltiplos, já que seu dimensionamento
é realizado com base na premissa de que as esta-
tísticas das séries observadas são representativas
do futuro.
O próprio sistema de gestão dos recursos hídri-
cos e a alocação destes entre os diferentes usos e
usuários estão sujeitos aos impactos da mudança
do clima por estarem baseados na hipótese de que
se pode prever o comportamento hidrológico futuro
a partir de registros do passado.
Para fazer frente aos impactos da mudança do
clima, as medidas de adaptação podem ser ado-
tadas em resposta a um efeito já percebido ou em
resposta a um cenário previamente estabelecido.
A Convenção Quadro das Nações Unidas sobre
Mudança do Clima define a adaptação aos efeitos da
mudança do clima como uma série de respostas aos
impactos atuais e potenciais da mudança climática,
com objetivo de minimizar
possíveis danos e aproveitar
as oportunidades (ORGANI-
ZAÇÃO DAS NAÇÕES UNI-
DAS, 1992b). A capacidade
de adaptação de um sistema
depende basicamente de
duas variáveis: vulnerabilidade e resiliência.
A vulnerabilidade pode ser entendida como sendo
o grau de suscetibilidade do sistema para lidar com
os efeitos adversos da mudança do clima. Já a resili-
ência é a habilidade do sistema em absorver impac-
tos e, simultaneamente, preservar a sua estrutura bá-
sica e os mesmos meios de funcionamento (BRASIL,
2007b). De forma geral, as populações mais pobres e
com piores índices de desenvolvimento são as mais
vulneráveis aos efeitos da mudança do clima.
A região semiárida brasileira engloba caracte-
rísticas bastante específicas de clima, solo e vege-
tação que, associadas ao tipo de uso e ocupação
do solo e com os aspectos sociais ali presentes,
acabam por conferir à região um elevado nível de
vulnerabilidade e de exposição aos efeitos da mu-
dança do clima e uma baixa capacidade de adapta-
ção aos seus impactos.
Os modelos climáticos colocam o semiárido
como uma das regiões do país mais vulneráveis
aos efeitos da mudança do clima. O Quarto Rela-
tório de Avaliação do
Intergovernmental Panel on
Climate Change (IPCC)
, lançado em 2007, desta-
cou em suas conclusões o aumento de ocorrência
de eventos extremos no Nordeste e a substituição
da vegetação típica do semiárido por vegetação
de região árida.
Em 2012, o
IPCC
lançou o Relatório Especial
de Eventos Extremos. Em seguida, a Rede de Co-
nhecimento de Clima e Desenvolvimento compilou
os resultados desse relatório referentes à Améri-
ca Latina e ao Caribe no documento
Gerenciando
Os modelos climáticos
colocam o semiárido como
uma das regiões do país mais
vulneráveis aos efeitos da
mudança do clima