Página 115 - A&D_v23_n2_2011

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João Carlos de PáduaAndrade, Alessandro Coelho Marques, Paulo Sérgio Vila Nova Souza
Bahia anál. dados, Salvador, v. 23, n. 2, p.383-396, abr./jun. 2013
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como alimento para os produtores e como artigo
comercializável, gerando incremento na renda local.
Através da Tabela 1 é possível verificar o au-
mento de área de pecuária na bacia, implicando
diretamente na proteção das nascentes. Nos 360
imóveis pesquisados nas áreas amostrais, foram
identificadas 152 nascentes distribuídas em áreas
conservadas e em áreas de pastagens, sendo que
a amostra correspondeu a uma área equivalente a
16% do tamanho da área da bacia. Percebe-se, as-
sim, que na bacia existe uma nascente para cada
2,36 imóveis ou uma nascente para cada 166 hec-
tares. Pode-se também fazer uma estimativa linear
para toda a BHRA a partir da quantidade de nas-
centes encontradas no perímetro da amostra. As-
sim, de forma hipotética, estima-se uma quantidade
de 946 nascentes para os 156.818,6 ha da bacia,
considerando-se que o restante da bacia seja idên-
tico à amostra utilizada.
No levantamento de campo, foi possível verificar
a qualidade dos remanescentes de Mata Atlântica
existentes. De acordo com Schumacher e Hoppe
(1998), a importância das florestas no balanço hí-
drico não está ligada ao aumento da água no solo
ou da precipitação, mas ao efeito regulador que as
florestas exercem sobre esse balanço. Essa relação
é possível de ser avaliada através do Gráfico 1, que
demonstra a distribuição de chuvas na bacia ao lon-
go de 35 anos, apresentando uma média, nesse
período, de 1.546 mm, sendo o ano de 1987 com
outros mapeamentos realizados na região, a fim de
verificar o comportamento da paisagem ao longo do
tempo. Para tanto, foram usados outros dois traba-
lhos: um realizado por Faria Filho e Araújo (2002),
referente aos anos de 1975 e 2001, e outro elabo-
rado por Franco e outros (2011), referente ao ano
de 2006, em razão de as imagens utilizadas serem
desse ano. Percebe-se através da Tabela 2 – ape-
sar de as metodologias utilizadas nos mapeamentos
não serem idênticas (automatizadas ou visuais) e,
portanto, passíveis de apresentar resultados diferen-
tes – o aumento da área de pastagens representada
pela classe pecuária, que se apresenta crescente ao
longo da análise, sendo 10,5% da bacia no ano de
1975 e 17,67% no ano de 2010.
O aumento da área de pecuária ou de pasta-
gem resulta de uma tentativa de inserir alternativas
econômicas para contrapor a crise do cacau causa-
da por um fungo denominado popularmente como
vassoura-de-bruxa (
Moniliophtora perniciosa
) que
chegou à região no final dos anos de 1980 e reduziu
consideravelmente a produção de cacau. Como de-
monstração do impacto causado pelo fungo, tem-se
a redução da produção de cacau que, em meados
dos anos de 1980, chegou próxima de 400 mil to-
neladas/ano, para as atuais 140 mil toneladas/ano.
Verificou-se durante o trabalho que a pecuária
da região não pode ser caracterizada como de gran-
de produtividade, mas sim como uma alternativa ca-
paz de produzir, além da carne, o leite, que serve
Tabela 2
Distribuição das classes de cobertura e uso da terra na Bacia Hidrográfica do Rio Almada em termos
percentuais – 1975, 2001, 2006 e 2010
Classes
Anos das imagens
1975
2001
2006
2010
Floresta
5,89
4,02
23,20
7,92
Capoeira
15,51
12,13
4,14
Cacau
64,79
68,47
54,90
64,77
Restinga e áreas úmidas
2,56
0,74
0,80
0,10
Pecuária
10,50
13,96
17,20
17,67
Represas, lagos e rios
0,39
0,39
0,50
0,57
Outros
0,36
0,29
3,40
4,83
Total
100
100
100
100
Fonte: Adaptado de Faria Filho e Araújo (2010), Franco e outros (2011).