Página 3 - EspecialConsciênciaNegra

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LcIZ TtLte
A história do racismo no futebol
brasileiro nasce junto com a che;
gada do primeiro par de chu;
teiras, bola e livro de regras tra;
zidos da Inglaterra pelo paulista
Charles Miller, em 18 de feve;
reiro de 189r.
pá 119 anos convive;se com o
preconceito îtnico em suas mais
perversas formas: do explícito e
muitas vezes oficializado ¥ em
meados do sîculo passado ¥ atî
o naturalizado, velado ou camu;
flado, vigente, sobretudo, após a
dîcada de 1970 e a conquista do
tricampeonatodaCopadoMundo
que fezdePelîomaior jogadordo
planeta.
O historiador Joel Rufino dos
Santos, em seu livro
pistória go;
lítica do Futebol no wrasil
, coloca
que o futebol desenvolve;se no
início do sîculo passado, prati;
cado como alta cultura por bran;
cos, em clubes sociais. Aos ex;es;
cravos e seus descendentes era
proibida a entrada nesses locais,
por exclus
ã
o financeira ou dis;
criminada nos estatutos das
agremiaç
õ
es.
Mas futebol se joga em qual;
quer lugar, comqualquer tipo de
bola, e n
ã
o demorou muito para
que aqueles que só podiam de
longe assistir ao jogo de gr
ã
;fi;
nos começassem a praticar o es;
porte com bal
õ
es de bexiga de
boi ou bolas feitas com meias.
A partir da dîcada de 1910 co;
meçaram a aparecer por todo o
wrasil times populares e seus jo;
gadores já chamavam a atenç
ã
o
de muitos. Em 1912, num dos
episódios mais emblemáticos de
conflito îtnico no esporte, Carlos
Alberto, que jogava no Fluminen;
se, ganhou o apelido de ×Pó de
Arroz
(mais tarde herdado pelo
clube e que sobrevive hoje) por;
que o usava para clarear a pele.
Pobre e varzeano, o atleta tam;
bîm usava uma touca para dis;
farçar os cachos do cabelo.
Na dîcada de 1920, o `asco foi
campe
ã
o carioca comum time for;
mado majoritariamente por ne;
gros, causando uma crise no fu;
tebol do Rio de Janeiro porque os
outros clubes ×n
ã
o se mistura;
vam
. Em S
ã
o Paulo, o mesmo
aconteceu com o Corinthians. Na
wahia, nesse mesmo per
í
odo, o
embate racial se repetia.
×Em Salvador, o Esporte Clube
Ypiranga acolhe artes
ã
os, solda;
dos, comerciários e estivadores ne;
gros, eescandalizaaaltasociedade
baiana do Corredor da `itória, re;
duto dos primórdios do futebol
baiano. O resultado î uma crise
com a sa
í
da do `itória, represen;
tante da alta burguesia, e o fim da
primeira Liga de Futebol, chamada
×Liga dos wrancos
por alus
ã
o
à
cor
da pele dos atletas pioneiros
, ex;
plica Paulo Leandro, doutor emco;
municaç
ã
o e jornalista.
N
ã
o
à
toa,osprimeiros
í
dolosdo
futebol foramnegros. EmS
ã
oPau;
lo foi ×El Tigre
Friedenreich, filho
de uma cozinheira negra com um
alem
ã
o, e que atuou por vários
times, inclusive na Seleç
ã
o wrasi;
leira. Na wahia, a fama ficou com
Apolinário Santana, ou Popó, seu
apelido. Ele ajudou a fazer do Ypi;
ranga o time mais popular do Es;
tado
à
îpoca.
A partir de 1930, o futebol se
profissionaliza e com isso mini;
mizam;se as barreiras para a par;
ticipaç
ã
o de negros no esporte,
já que agora poderiam começar
a receber para jogar, o que antes
era proibido em nome do ×ama;
dorismo do esp
í
rito ol
í
mpico
. Já
populares, grandes clubes têm
muitos pobres e negros nas ar;
quibancadas e em seus elencos,
alîm de craques, como Fausto e
Leônidas da Silva, que torna;se
l
í
der dos jogadores na luta pela
afirmaç
ã
o do profissionalismo
no futebol.
É
inevitável que, ao falar sobre
a quest
ã
o racial no futebol, seja
citadoo livro clássicodo jornalista
Mário Filho,
O negro no futebol
brasileiro
, publicado pela primei;
ra vez em 19r7, na carona de
autores como Gilberto Freyre e
Sîrgio wuarque de polanda, em
busca de encontrar uma identi;
dade nacional
à
îpoca.
Foi a primeira obra relevante a
levantar quest
õ
es sobre a parti;
cipaç
ã
o do negro na cultura e for;
maç
ã
odoesporte, abordandon
ã
o
apenas suas contribuiç
õ
es, mas
tambîm o racismo jamais disso;
ciado daqueles primeiros 50 anos
de história do futebol no Pa
í
s.
Interessante notar que ×a se;
quênciados cap
í
tulos sugereo lon;
go e penoso processo de demo;
cratizaç
ã
o do futebol brasileiro, cu;
ja fixaç
ã
o era o objetivo do jor;
nalistaaoescreverseuensaio
,afir;
ma o pesquisador Marcel Diego
Tonini, autor da dissertaç
ã
o de
mestrado
pistória oral de vida de
negros no futebol do wrasil
.
O livro de Mário Filho apre;
sentava quatro cap
í
tulos em
19r7: ×Ra
í
zes do saudosismo
;
×O campo e a pelada
; ×A revolta
do preto
e ×A ascens
ã
o social do
negro
, acrescidos, em 196r,
pós;derrota e condenaç
ã
o p
ú
bli;
ca do goleiro negro warbosa na
Copa de 1950, e com o wrasil já
bicampe
ã
o mundial graças a Pe;
lî, Garrincha e Didi, de outras
duas seç
õ
es: ×A provaç
ã
o do pre;
to
e ×A vez do preto
.
yssunto preterido
A verdade î que o duo racismo1fu;
tebol foi por muito tempo prete;
rido pela sociedade e por acadê;
micos. Enquantoemcampo (e fora
dele) o preconceito rolava forte,
sociólogos, antropólogos, comuni;
cólogos, jornalistas e historiadores
viam o futebol e qualquer tema
relacionado ao esporte como me;
nores. `ozes comoade Joel Rufino
dos Santos ou da pesquisadora L
ú
;
cia pelena Corrêa eram raras no
meio,mas essenciais paran
ã
odei;
xar o assunto morrer.
×O racismo no wrasil continua o
mesmo, dos camarotes
à
s gerais,
entrecartolasetorcedores.Eleape;
nas apurou o próprio estilo, aban;
donando express
õ
es expl
í
citas, co;
mo ×negro sujo
ou ×crioulo no;
jento
, para abrigar;se em concei;
tos mais modernos e menos vul;
gares. Mas nem por isso menos
cruîis
, destaca Corrêa em seu en;
saio
Racismo no futebol brasileiro
,
de 1985.
poje, ainda que a sociedade, de
umamaneirageneralizada,n
ã
odê
conta do grave problema enfren;
tado por negros no futebol (n
ã
o
apenas no wrasil, mas mundial;
mente), î notável que a academia
eaimprensatêmoutrosolhospara
a quest
ã
o. S
ã
o cada vez mais fre;
quentes textos sobre o tema.
As obras v
ã
o desde aquelas que
tratam da complexidade do fute;
bol como um instrumento demo;
cratizador das relaç
õ
es entre raças,
como comJosîMiguel Wisnik, em
`eneno remîdio{ o futebol e o wra;
sil
, ou com o antropólogo baiano
Jeferson wacelar, em
Ginga e nós{
o nogo do lazer na wahia
, no qual
estuda o futebol de bairro e os
×babas
na vida social urbana co;
mo traço da identidade brasilei;
ra1baiana contempor
â
nea, atî
abordagens que discutem a (pou;
ca) presençaeaatuaç
ã
odenegros
em funç
õ
es outras no futebol que
n
ã
o a de jogador profissional, tais
como treinadores, árbitros, diri;
gentes, mîdicos e jornalistas.
HIeTÓfIy
Em pouco mais de um sîculo, racismo no futebol
brasileiro vai do expl
í
cito e oficial ao disfarçado e dissimulado
vo pó de arroz
ao quase silêncio
Raul cpinassî 1 xg8 x TxRDt
Tentar disfarçar a
cor negra com pó
de arroz foi
estratégia usada
contra racismo
no futebol