Página 99 - A&D_v23_n3_2011

Versão HTML básica

Filipe Prado Macedo da Silva
Bahia anál. dados, Salvador, v. 23, n. 3, p.567-585, jul./set. 2013
583
experiências de sucesso, o Território do Sisal ainda
apresenta pobreza, exclusão social e baixo dina-
mismo econômico. Conforme Superintendência de
Estudos Econômico e Sociais da Bahia (SEI) (2004,
p. 190-208), os municípios
que compõem o Território do
Sisal são assinalados como
“ruralmente deprimidos”, o
que justifica, portanto, a par-
ticipação no programa Terri-
tórios da Cidadania (TC), já
que os critérios de seleção
levam em consideração, so-
bretudo, os indicadores de desigualdade social.
Essa conjuntura socioeconômica adversa cor-
robora os argumentos de Brandão (2007), de que
é necessário ter maior cautela na abordagem do
localismo, em que tudo passaria a depender da
força comunitária, da eficiência coletiva e de fato-
res endógenos, constituindo, assim, uma atmosfe-
ra sinérgica. Em outras palavras, a visão de que
o local pode tudo não se confirma no Território do
Sisal. Assim, a euforia em torno das experiências
de sucesso nesse território revela a ausência de
mediações entre o local e o global, ou a compre-
ensão de que a escala territorial está submissa à
acumulação global. Por exemplo, a cultura do sisal,
apesar de agregar valor ao PIB territorial e empre-
gar um grande contingente de trabalhadores, não
depende apenas de variáveis locais, mas, também,
das variações macroeconômicas.
Na pesquisa de campo, ficou evidente a dificul-
dade interna do governo da Bahia em convencer
e unificar os interesses das secretarias de estado
em torno da territorialização. Na plenária da CET,
observou-se que a prática do planejamento terri-
torial na Bahia está muito longe das propostas te-
orizadas nos PPA. São poucas as secretarias de
estado, como a de Planejamento e a de Agricultura,
que já territorializaram seus recursos e programas
de políticas públicas. Do mesmo modo, acontecem
conflitos abertos entre os territórios de identidade
da Bahia em torno dos recursos e investimentos
públicos. Isso revela a diversidade de interesses
sociais, culturais e políticos incrustados na intera-
ção econômica, dificultando a construção imediata
e contínua de um consenso coletivo positivo.
Em geral, os conflitos
abertos e fechados per-
meiam (todos) os temas
abordados pelo Codes Si-
sal no âmbito do Território
do Sisal. Frequentemente, o
pacto territorial (instituciona-
lizado no PTDRS) é erigido
de maneira temporária ou
arbitrária, desconsiderando a proporcionalidade e
a totalidade da representatividade territorial (OR-
TEGA, 2008). Por exemplo, a delimitação geográ-
fica do Território do Sisal não reflete o conceito de
território adotado pela SDT (no domínio do governo
federal) e pelo governo da Bahia. Na pesquisa de
campo, verificou-se que não há coesão no diálogo
do desenvolvimento territorial, já que não há tam-
bém coesão social, cultural e política entre todos
os municípios do Território do Sisal (SILVA, 2012,
p. 214-222).
De um lado estão os municípios da Sisalândia
(Valente, São Domingos, Conceição do Coité, San-
taluz e Retirolândia) com recentes experiências de
sucesso (como o Codes Sisal, a Apaeb-Valente,
o Sicoop Coopere etc.), o sisal como ideia-guia
(ABRAMOVAY, 2000) e a coesão no diálogo cole-
tivo. A proximidade geográfica dos municípios da
Sisalândia possibilita “[...] uma maior interação co-
letiva [...]” (SILVA, 2012, p. 217) e, por conseguinte,
uma maior coesão social, cultural e política. É ali
que estão as principais experiências de sucesso do
Território do Sisal, sendo que o município de Valente
reúne boa parte deste capital social. Sintetizando, é
na Sisalândia que a sociedade civil estabeleceu um
projeto coletivo (SILVA, 2012).
Do outro lado estão os demais municípios do
Território do Sisal (Araci, Teofilândia, Barrocas, Bi-
ritinga, Candeal, Tucano, Queimadas, Monte San-
to, Lamarão, Itiúba, Nordestina, Ichu, Quijingue e
A cultura do sisal, apesar de
agregar valor ao PIB territorial
e empregar um grande
contingente de trabalhadores,
não depende apenas de
variáveis locais, mas, também,
das variações macroeconômicas