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Desenvolvimento territorial: a experiência do Território do Sisal na Bahia
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Bahia anál. dados, Salvador, v. 23, n. 3, p.567-585, jul./set. 2013
Cansanção), geograficamente, mais distantes, com
menos articulação social, cultural e política e com
diferentes atividades econômicas (SILVA, 2012).
Na pesquisa de campo, foi identificado um visível
afastamento desses municípios do pacto territorial
(PTDRS). Alguns municípios, como, por exemplo,
Itiúba e Tucano, têm sua dinâmica socioeconômica
vinculada aos centros urbanos de outros territórios
da Bahia. Além disso, outros municípios – como,
por exemplo, Quijingue – reclamam que a articula-
ção intermunicipal não favorece seus projetos mu-
nicipais (SILVA, 2012, p. 217).
Neste contexto seria prudente perguntar: será
que o Território do Sisal tem mesmo um elevado
capital social, como noticiam políticos, militantes
de movimentos sociais, acadêmicos e ONG? Será
que as experiências mais recentes são, de fato,
exemplos de sucesso, já que seus efeitos positivos
de transbordamento são pequenos? Teoricamente,
para Putnam (1996, p. 186), o capital social é “um
dos principais responsáveis pelos círculos virtuosos
do desenvolvimento [...]”, beneficiando a instaura-
ção de uma sociedade forte, com economia forte e
Estado forte. Entretanto, não é isso o que ocorre no
Território do Sisal. Em geral, o capital social não é
(ou não foi) capaz de articular e detonar um proces-
so virtuoso de desenvolvimento includente.
Se confrontarmos as recentes experiências de
sucesso com os dados sociais e econômicos do
Território do Sisal, verifica-se que o capital social
deste ainda não foi capaz de transformar a realida-
de “concreta”. E se, em algum momento, transfor-
mou determinadas realidades municipais, limitou-se
a poucas experiências (como a Apaeb-Valente e o
Codes Sisal), a poucos municípios (como Valente
e Conceição do Coité) e a poucas classes sociais
(como os agricultores do sisal). Muitas experiências
são irrelevantes e com efeitos positivos de trans-
bordamento limitados (SILVA, 2012). No Território
do Sisal existe um emaranhado de associações,
cooperativas e grupos de trabalho (mais de 1.500)
que funcionam à deriva de recursos e de programas
governamentais.
Finalmente, há de se reconhecer a existência
dos seguintes obstáculos e a necessidade de supe-
rá-los para que se detone um processo virtuoso de
desenvolvimento socioeconômico mais abrangente
no Território do Sisal: a dependência econômica
das prefeituras municipais; o fenômeno natural da
seca, que também prejudica a produção rural e a
qualidade de vida; a decadência da cadeia produ-
tiva do sisal, que permanece com custos elevados,
baixo índice de produtividade e rendimento e baixo
nível tecnológico; a dicotomia entre o urbano (a ci-
dade) e o rural (o campo)
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, e os excessivos con-
flitos abertos e fechados, que atrapalham a ação
do Codes Sisal como uma instância territorial de
articulação do diálogo social.
REFERÊNCIAS
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Paulo, v. 4, n. 2, p. 379-397, abr./jun. 2000.
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. Salvador: Seplan, 2007. Disponível em: <http://www.
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BRANDÃO, Carlos A.
Território e desenvolvimento
:
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BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Agrário.
Marco
referencial para apoio ao desenvolvimento de territórios rurais.
Brasília: MDA, 2005.
(Documentos Institucionais,
2).
6
É importante notar que as ações realizadas pelo Codes Sisal não
incluem representantes patronais, seja do comércio ou da indústria.