Página 31 - A&D_v23_n3_2011

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MarizângelaAparecida de Bortolo, Nathan Belcavello de Oliveira, Fernando Luiz Araújo Sobrinho
Bahia anál. dados, Salvador, v. 23, n. 3, p.509-527, jul./set. 2013
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[...] patrocinado pelos investimentos estatais,
o movimento de integração econômica rea-
lizou a passagem do domínio da
articulação
meramente
comercial
entre as regiões brasi-
leiras, predominante nas décadas anteriores,
para a
integração produtiva
e a incorporação
físico-territorial da era Sudene, agregando a
dinâmica nordestina às tendências gerais da
economia nacional. Essa trajetória foi aber-
ta com a
fase inicial de expansão
, nos anos
1960, quando beneficiado, em parte, pelo
planejamento regional, recebeu investimen-
tos básicos, sobretudo em rodovias e energia
elétrica [...]. Nos anos 1970, apoiado pelo “mi-
lagre econômico” e pelos projetos do II Plano
Nacional de Desenvolvimento (II PND) vem
a
fase de continuidade do crescimento
, na
qual os investimentos de infraestrutura foram
complementados pelos empreendimentos
produtivos, principalmente os industriais [...]
(CARVALHO, C., 2008, p. 10).
Ou seja, “a industrialização do Nordeste, an-
tes programada para ser funcional ao mercado
regional, inverteu-se completamente, passando a
ter concatenação direta com o sistema nacional”
(CARVALHO, F., 2008, p. 33).
Por sua vez, o embate político que impediu a
execução completa do planejamento pensado por
Celso Furtado e o GTDN também se mostra pre-
sente na questão fundiária, assim como sopesado
no capítulo anterior. Diante das informações das
tabelas 2 e 3, percebe-se que o período de atuação
da Sudene foi marcado pelo aumento da concen-
tração fundiária, promovida, em parte, pelo próprio
processo de industrialização da economia regio-
nal e, em parte, pelo processo de modernização
conservadora da produção agrícola. Os registros
das tabelas supracitadas demonstram que há uma
tendência de piora no índice de Gini
4
relaciona-
da à estrutura fundiária
pari passu
ao aumento da
participação do setor industrial na composição do
PIB do Nordeste, com uma leve desconcentração
juntamente com o declínio da indústria em 1995.
Para este mesmo período, percebe-se que há
um aumento crescente em termos de desigualdade
(vide Tabela 3), inclusive superando o índice de Gini
sobre distribuição de renda do país. Nas palavras de
Cícero Carvalho (2008, p. 11), “enquanto a econo-
mia crescia a taxas mais altas que a média nacional,
o coeficiente de Gini, refletindo o modelo econômico
adotado, teve um desempenho contrário [...]”.
Em análise panorâmica, pode-se dizer que os
benefícios do planejamento regional econômico
pensado a partir da Sudene, dadas as interferên-
cias políticas e seus desdobramentos na execu-
ção, a uma só se concretizou benéfico em termos
econômicos e, se não prejudicial, potencializador
das desigualdades socioeconômicas do Nordeste.
Todavia, para algumas parcelas do território nor-
destino, a atuação da Sudene mostrou-se dinamiza-
dora, estabelecendo novos rumos, tirando-as da es-
tagnação, mas também introduzindo novas formas
de desigualdades. É o caso, em distintos tempos,
4
Índice elaborado para aferição do equilíbrio da distribuição de um
fator em um universo de análise. Quanto mais próximo de um mais
desigual a distribuição, e quanto mais próximo de zero mais equilibra-
da a repartição. Esse índice foi inicialmente utilizado para análise da
distribuição de renda da população, mas também foi empregado para
avaliação da concentração fundiária.
Tabela 2
Composição do PIB do Nordeste segundo os setores econômicos – 1960-1999
Setores econômicos
Composição do PIB (%)
1960
1965
1975
1985
1990
1995
1999
Agropecuário
41,0
29,1
23,9
16,2
14,4
12,6
9,7
Industrial
12,0
23,1
27,6
30,1
28,2
23,8
26,0
Serviços
47,0
47,8
48,5
53,7
57,4
63,6
64,3
Fonte: Adaptado de Almeida e Araújo (2004, p. 116).