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Bahia anál. dados, Salvador, v. 23, n. 3, p.495-507, jul./set. 2013
O DESAFIO À UNIVERSIDADE
Numerosas questões surgem a
respeito de cada um dos itens
abordados. E mais as complica-
ções dos fatores não econômi-
cos, ou seja, socioinstitu­cionais,
culturais e políticos. Esta é uma
outra di­mensão essencial do de-
senvolvimento. Afinal, por essa
via é que se efetuam “as mudan-
ças estruturais, de forma suste-
nida”, e se possibilitam as atitu-
des e decisões instrumentais ao
processo econômico mes­mo.
Certo aí há um contínuo proces-
so de causação mútua, intera-
ção, entre as transformações na
estru­tura produtiva e aquelas ou-
tras mudanças sociais e institu-
cionais. É
importante ressaltar a
dimensão política, não só da ca-
pacidade de autodeterminação
e gestão ao nível regional, mas
da partici­pação efetiva nas de-
cisões do poder central. E uma
questão fundamental ocorre: é
possível chegar a isso sem uma
transformação política numa
velha estrutura oligárquica, por
mais competentes e bem inten-
cionados, do ponto de vista pes-
soal, que sejam muitas das lide-
ranças que merecem toda nossa
ho­menagem? Como funcionar
essa inter-relação entre desen-
volvimento político e desenvolvi-
mento eco­nômico-social? Afinal,
qual o
processo dinâmico de in-
teração entre a conquista da Ii-
berdade e da desi­nibida promo-
ção humana e a eliminação da
pobreza?
E como sair da perplexida-
de na questão do papel e da
presença do Estado? Por um
lado, os nossos anseios de-
mocráticos nos levam a aspi-
rar e promover a organização
e a mobilização da sociedade
civil, levando ao ideal da auto-
gestão, ou seja, o
contrário da
concentração do poder, mas,
por outro lado, as realidades da
vida moderna e especi­almente
as da desigualdade social e do
subdesenvolvimento não se re-
solvem no sistema do merca­do,
e, portanto, requerem planifica-
ção. Como con­ciliar as aspira-
ções desconcentradoras com a
ação mais ampla do Estado, não
só corretiva, mas preventiva, in-
terferente e promotora? Desem-
bocamos num estuário em que
confluem a “engenharia” po­Iítica
dos controles sociais com a luta
pela organi­zação desinibida e
pela ampla participação política
e social.
Os problemas estão abertos
ao pluralismo uni­versitário. À uni-
versidade cabe produzir informa­
ções e ideias e a formação de uma
nova elite. Mas, apesar do plura-
lismo, as universidades da região
po­dem associar-se “numa ação
comum... respaldada por uma
mesma matriz de problemas”,
2
como a aqui proposta.
Assistimos a um auspicioso
surto de pesquisa universitária
com os novos quadros (não me
2
Jacques Therrien; Helena Cartaxo in
A
Univenidade e desenvolvimento regional
-
UFC - 1980.
conte­nho de manifestar que a
Capes é uma das organi­zações
a cuja criação mais me sinto
gratificado de haver participa-
do no último governo Vargas).
E, nesse movimento, apesar
das lamentáveis Iimitações dos
recursos destinados à educa-
ção pelo governo federal, res-
saltam os avanços feitos pela
Universida­de Federal do Ceará.
Grande número de estudos em-
píricos e de ensaios conceituais
já está sendo produzido no Bra-
sil, e a inspiração ética da aboli­
ção da pobreza anima a maioria
dos pesquisadores, dando-nos
uma grande confiança na pre-
paração de uma nova elite, lú-
cida e servidora, no campo das
ciências sociais.
No passado remoto, o
co-
lonialismo cultural, a partir das
teorias e doutrinas geradas nos
países centrais, inibia toda mani-
festação de autonomia em nos-
so pensamento econômico e em
nossa deci­são política. Ainda
hoje persiste certo autoritaris­mo
acadêmico, agradável a interes-
ses acastelados em nossa so-
ciedade e dominando os meios
de co­municação. Mas o
plura-
lismo e a necessária auto­nomia
da universidade hão de quebrar
esse círculo de ferro, alargar o
conhecimento de nossos recur-
sos e de nossa sociedade e abrir
caminhos novos para a ciência
libertadora e um futuro de justi-
ça, de paz e alegria de viver!
Essa ação comum há de par-
tir, portanto, do compromisso ético