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As regiões de crescimento no Nordeste: o caso de Santa Cruz do Capibaribe
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Bahia anál. dados, Salvador, v. 23, n. 3, p.671-681, jul./set. 2013
INTRODUÇÃO
No transcurso da saída de campo que ocorreu
entre os dias 11 e 17 de junho de 2012, foram ob-
servadas realidades distintas em três estados do
Nordeste: Pernambuco, Bahia e Ceará (Figura 1).
Esta reflexão gira em torno das dinâmicas locais
e regionais das cidades visitadas, destacando o
crescimento urbano e econômico, principalmente
de Santa Cruz do Capibaribe, cidade principal des-
te recorte analítico.
O Nordeste do Brasil possui regiões isoladas
onde o progresso se fez presente com as instala-
ções de polos de crescimento com o intuito de de-
senvolver pontos estratégicos em cada estado. Em
destaque, são analisados aqui os seguintes polos:
o polo religioso em Juazeiro do Norte, no Ceará; o
fruticultor, entre Petrolina (PE) e Juazeiro da Bahia,
e o Polo de Confecções do Agreste (PCA) em Per-
nambuco, principal local desta pesquisa.
Juazeiro do Norte, no Ceará, diferentemente
dos outros polos de desenvolvimento que cresce-
ram com as instalações de indústrias, tem no tu-
rismo religioso e no comércio e serviços as suas
maiores arrecadações, tornando-se o município
principal situado na região do Araripe, ou na Região
Metropolitana do Crajubar.
Com aproximadamente dois milhões de romei-
ros visitando a cidade por ano, Juazeiro do Norte
tornou-se um dos maiores polos religiosos da Amé-
rica Latina, onde milhares de cidadãos de classes
sociais menos favorecidas trabalham em torno das
festas em louvor ao Pe. Cícero, desde o mercado
informal de vendas de fitas e santinhos, ao ramo
hoteleiro muito diversificado.
Já o polo do submédio São Francisco, situado
no sertão nordestino, representado pelos municípios
de Petrolina, em Pernambuco, e Juazeiro, na Bahia,
tem aproximadamente meio milhão de habitantes e
é grande produtor de fruticultura irrigada e vinhos.
Conhecido por muitos como uma região de
seca e pobreza, o sertão nordestino ganha vida,
sobretudo nos dois municípios vizinhos, devido à
implantação, por parte dos governos interestaduais
a partir do final dos anos 1960, de diversos períme-
tros públicos (e mais tarde particulares) irrigados
e à promoção de outros estímulos governamentais
para a iniciativa privada no setor agropecuário. Tais
iniciativas desmistificam, assim, a ideia de que todo
o sertão seja subdesenvolvido e estimula o apare-
cimento de outras indústrias fornecedoras de insu-
mos e equipamentos, de melhoramento agrícola, de
pesquisas, de capacitação de mão de obra, além do
aumento do crédito bancário.
O termo região aplicado neste contexto expli-
cita o sentido de identidade e potencialidade de
cada lugar, seja no PCA de Pernambuco, no turis-
mo religioso de Juazeiro do Norte ou no submédio
São Francisco com a produção de frutas irrigadas
em Petrolina e Juazeiro da Bahia. Como pode ser
observado em Corrêa (1997), o conceito de região
passa por alguns sentidos, um deles é o de que
se trata “da regionalização da divisão social do tra-
balho, do processo de acumulação capitalista, da
reprodução da força de trabalho e dos processos
políticos ideológicos”.
No tocante ao PCA em Pernambuco, são leva-
dos em conta os fatores históricos para a constru-
ção do polo de Caruaru e a conceitualização – se
é desenvolvimento ou crescimento econômico nas
regiões analisadas, nas próximas sessões deste
artigo. Destarte, é relevante informar que foram
aplicados questionários nos municípios de Santa
Cruz do Capibaribe e Toritama, permitindo, assim,
a ‘visualização’ de algumas peculiaridades, como: o
empreendimento gigantesco é sustentado por uma
cadeia de produção sem especialização técnica,
com empregados recebendo salários baixos e tra-
balhando mais de oito horas dia.
FATORES HISTÓRICOS E A FORMAÇÃO DO
POLO DE CARUARU
A Região Nordeste do Brasil, durante os primei-
ros 200 anos de colonização portuguesa, foi o motor