Página 85 - A&D_v23_n2_2011

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Diógenes Marcelino Barbosa Santos
Bahia anál. dados, Salvador, v. 23, n. 2, p.349-367, abr./jun. 2013
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A expansão da cacauicultura para zonas de
clima seco pode se constituir em escapes para as
principais doenças que atacam a cultura, como a
vassoura-de-bruxa e a podridão-parda. Almeida e
Valle (2007) estimam que a perda por problemas
fitossanitários na produção mundial de cacau é da
ordem de 30 a 40%. Sabe-se que a produtividade
média dessa cultura na Bahia é de apenas 300
kg.ha
-1
.ano
-1
ou 20 @.ha
-1
, sobretudo devido ao
fungo da vassoura- de-bruxa (
Moniliophtora perni-
ciosa
). No Pará, a produtividade alcança até 900
kg.ha
-1
.ano
-1
ou 60 @.ha
-1
.
Com o desenvolvimento de tecnologias de ir-
rigação localizada, o conhecimento científico dos
benefícios do manejo controlado da água de irri-
gação, a adequação das práticas de nutrição ve-
getal à fertirrigação de alta precisão, ao lado da
disponibilidade de material genético de qualidade
superior, vislumbram-se possibilidades de adapta-
ção do cultivo do cacau em regiões marginais ou
até mesmo em regiões hoje consideradas inaptas,
como nas zonas semiáridas tropicais, atingindo
números mais expressivos de produtividade des-
se cultivo.
Porque irrigar cacau no semiárido
Pelo fato de o cacaueiro ser cultivado nas
regiões tropicais úmidas, a maioria destas com
precipitação pluviométrica anual superior a 1.500
mm.ano
-1
e regularidade na distribuição, não são
encontradas muitas pesquisas relativas aos efeitos
da irrigação nesse cultivo. Tampouco se conhe-
cem, com clareza, as melhores práticas de mane-
jo da água dentro das diversas fases fenológicas,
bem como os efeitos do déficit hídrico controlado,
a exemplo do que ocorre na cafeicultura e na citri-
cultura, como técnicas para fazer a sincronização
da safra de acordo com a conveniência do produ-
tor e do mercado, visando maximizar a produtivi-
dade e o valor da produção (WOOD, 1984).
Em meados do século passado, Alvim (s.d) le-
vantou questionamentos sobre a crença de que o
cacaueiro requer alta umidade relativa para cres-
cer e produzir satisfatoriamente. Naquela época foi
relatado por ele o cultivo do cacau sob irrigação
nas zonas desérticas do Peru (P=100 mm.ano
-1
e
UR=50%) com produtividades entre 800 e 1.000
kg.ha
-1
e no Vale do Cauca, na Colombia, com pre-
cipitação inferior a 1.000 mm.ano
-1
. No Equador,
por sua vez, há muitas plantações de cacau sob
irrigação por inundação na zona semiárida.
No atual cenário são escassas as pesquisas
de campo, nas regiões cacaueiras do mundo, so-
bre a adaptação dessa planta fora da zona tropical
úmida, bem como não se quantificou o consumo
de água em condição de restrição de umidade
relativa, de déficit de pressão de vapor, de altas
temperaturas, de radiação solar elevada e de alta
concentração de sais (CARR; LOCKWOOD, 2011).
Recentemente algumas experiências têm sugeri-
do a viabilidade do cultivo do cacau fora da zona
tradicional da Bahia e dos estados amazônicos
(LEITE; MARTINS; SODRE, 2006; SANTOS; CAS-
TRO NETO, 2012 a,b). Diczbalis e outros (2010)
obtiveram êxito na comprovação agronômica do
cultivo do cacau no norte da Austrália. Plantios
de cacaueiro a pleno sol requerem altos níveis de
insumos (irrigação e fertilizantes), mas com possi-
bilidade de atingir produtividade potencial de 2 a 3
t.ha
-1
de amêndoas secas.
O cacaueiro é uma planta ainda em fase de do-
mesticação. Pouco se conhece sobre o cultivo in-
tensivo dessa planta fora das regiões tradicionais,
sobretudo, em regiões semiáridas tropicais, onde
as condições ambientais podem ser muito diferen-
tes daquelas do centro de origem da espécie. Por
exemplo, a literatura internacional não registra in-
formações a respeito da tolerância do cacaueiro à
salinidade do extrato de saturação do solo, à salini-
dade da água de irrigação e à salinidade provocada
diretamente pela fertirrigação intensiva. Pesquisa
realizada por Huan, Yee e Wood (1984), na Malásia,
reconheceu que o cacaueiro não suporta água com
condutividade elétrica superior a 2,0 dS.m
-1
. Gat-
tward (2010) afirma que são inexistentes estudos