Página 76 - A&D_v23_n2_2011

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Salinidade da água do Lago de São José do Jacuípe e sua utilização naagricultura irrigada de plantas perenes
tropicais no semiárido da Bahia
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Bahia anál. dados, Salvador, v. 23, n. 2, p.349-367, abr./jun. 2013
INTRODUÇÃO
O longo período de estiagem que acomete o se-
miárido baiano reduziu drasticamente a disponibili-
dade de água de qualidade para consumo humano
e animal e para a agricultura, trazendo sérias res-
trições de uso da água e a necessidade de aloca-
ção imediata de políticas públicas para os diferen-
tes setores da economia da região. No território de
Piemonte da Chapada, no centro-norte da Bahia,
medidas drásticas de redução do fornecimento de
água resultaram em mais de 60% de desabasteci-
mento de água para os agricultores irrigantes dos
perímetros de irrigação de Ponto Novo/Pedras Al-
tas e São José de Jacuípe. Situação semelhante foi
verificada em Livramento de Brumado/Dom Basílio
e no agropolo Ibicoara/Mucugê. Em Mirorós, o pe-
rímetro irrigado foi paralisado por absoluta falta de
água no lago da barragem.
Como consequência, a agricultura será impul-
sionada a utilizar águas marginais, tais como água
salina e efluente tratado para atender a sua cres-
cente demanda. Como meio de reduzir a escassez
de água, muitos países têm desenvolvido tecnolo-
gias para o uso das águas marginais, notadamente
para a irrigação, o que, por sua vez, aumentará os
riscos de salinização dos solos e de redução das
colheitas. No Brasil, particularmente no semiárido
nordestino, as experiências de campo dessa natu-
reza ainda são incipientes.
Paranychianakis e Chartzoulakis (2005) apon-
tam que, nas zonas semiáridas e áridas afetadas
pela escassez, as fontes de água são degradadas
ou estão em processo de degradação, o que piora
ainda mais a disponibilidade de água para consu-
mo. Sob estas condições, a disponibilidade de água
para a agricultura decairá em termos quantitativos
e qualitativos, portanto, a água de baixa qualidade
será inevitavelmente utilizada em larga escala para
fins agrícolas, visando manter a agricultura econo-
micamente viável.
Diante desse cenário e da carência de estudos
científicos, além da ausência de experiência de
campo na Bahia sobre o uso prático de água sali-
na na agricultura, este artigo tem por objetivo fazer
uma avaliação da qualidade da água do Lago da
Barragem de São José do Jacuípe e da sua utiliza-
ção na agricultura irrigada. A partir do referencial
dessa avaliação, são discutidos resultados de pes-
quisas em andamento e as experiências de campo
dos agricultores sobre o impacto da utilização de
água salina na irrigação de plantas sensíveis e tole-
rantes aos sais, especialmente no cultivo de cacau
(
Theobroma cacao L
.), palma de óleo (
Elaeis guine-
ensis Jacq
.), romanzeira (
Punica granatum
L.), goia-
ba (
Psidium guajava
) e limão-taiti (
Citrus latifolia
).
O RIO JACUÍPE E O LAGO DE SÃO JOSÉ DO
JACUÍPE
O Rio Jacuípe é o maior afluente do Rio Pa-
raguaçu e abrange uma área de drenagem de
aproximadamente 12.163 km
2
. Sua nascente fica
na cidade de Morro do Chapéu, a 1.200 metros
de altitude (Cartograma 1). O clima subúmido da
Chapada Diamantina favorece o surgimento de
nascentes perenes no alto do Jacuípe, que formam
riachos conhecidos como Ferro Doido, Apolinário,
Pau do Cedro, Peixe e outros. Entretanto, após
o curso do alto Jacuípe, a principal fonte hídrica
Cartograma 1
Localização dos municípios inseridos
Bacia do Rio Jacuípe – 2008
Fonte: Fontes (2008).