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Consumo de água em residências de baixa renda: análise dos fatores intervenientes
sob a ótica da gestão da demanda
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Bahia anál. dados, Salvador, v. 23, n. 2, p.317-333, abr./jun. 2013
do sistema, pois determina quanto estes pagarão
pelo serviço prestado. Assim, a medição de água
deve ser feita de forma a minimizar as incertezas,
reduzindo tanto a submedição que prejudica os
prestadores dos serviços, como a sobremedição
ou sobretarifação, acima do consumo efetivamente
praticado, que afeta os usuários. Ambas as possibi-
lidades tendem a promover o desperdício.
FATORES INTERVENIENTES NO CONSUMO
RESIDENCIAL
Muitas pesquisas têm buscado relacionar a
demanda residencial por água a variáveis socio-
econômicas, climatológicas e a características do
próprio imóvel. Memon e Butler (2006) afirmam
que uma previsão precisa da demanda por água é
essencial para definir as futuras necessidades de
abastecimento de água e avaliar a sustentabilida-
de financeira das ações de gestão da demanda. O
consumo de água dependerá de hábitos pessoais
e características locais, sendo influenciado por
fatores econômicos, sociais e ambientais. Porém,
a caracterização do consumo é complexa devido
às relações deste com as variáveis. Vários estudos
têm sido realizados para identificar os principais
fatores que afetam o consumo doméstico de água.
O Quadro 1 apresenta uma relação comparativa
de alguns estudos que avaliam a associação entre
o consumo residencial de água, variáveis socioe-
conômicas e climáticas e características da famí-
lia. É importante destacar que os autores citados
adotaram diferentes metodologias, tipos de dados
e níveis de análise (local, regional, domiciliar), o que
dificulta a comparação dos resultados publicados.
A maioria dos artigos consultados, incluindo
aqueles listados na Tabela 1, identifica como fatores
determinantes do consumo de água características
físicas do imóvel, como área construída, número de
cômodos e quartos, tamanho e nível socioeconô-
mico das famílias (MORAES, 1995; FERNANDES
NETO et al., 2005; ALMEIDA, 2007; FRONDEL;
de risco, seja pelo não atendimento ou pela descon-
tinuidade no abastecimento.
Segundo Vairavamoorthy e Mansoor (2005), no
sul da Ásia estima-se que cerca de 350 milhões de
pessoas são atendidas pelos sistemas de abasteci-
mento de água algumas horas por dia, e, em quase
todas as cidades indianas, os sistemas são opera-
dos de forma intermitente, situação similar à encon-
trada em outras regiões da África e da América La-
tina.Os autores afirmam que tal situação representa
custo extra aos consumidores, como: aquisição de
reservatórios, sistemas de bombeamento, entre ou-
tros, e que os usuários de baixa renda sofrem ainda
mais com esta situação, pois nem sempre dispõem
de recursos para aquisição de sistemas que redu-
zam os efeitos da intermitência, tendo, muitas ve-
zes, que conviver e adequar-se a esta.
Associada à discussão sobre a necessidade de
implementação de ações voltadas à gestão da de-
manda apresenta-se a falta de eficiência dos siste-
mas de distribuição de água, em que a intermitência
no fornecimento dos serviços soma-se às perdas
no sistema.
Apesar dos esforços e estudos voltados para
sua redução, as perdas nos sistemas de distri-
buição ainda apresentam valores significativos de
volume de água retirado dos mananciais. Segun-
do relatórios do SNIS, as perdas de faturamento
nas empresas de saneamento brasileiras estão em
torno de 40%, o que inclui tanto as perdas reais
(físicas), associadas aos vazamentos no sistema e
procedimentos operacionais, quanto as aparentes
(não físicas), que correspondem às ligações clan-
destinas e aos hidrômetros subdimensionados,
fraudados ou sem funcionamento.
Segundo Carvalho e outros (2004), o roubo de
água é comum em ligações residenciais. Para isso
é realizada a modificação na ligação feita pela con-
cessionária visando impedir, parcial ou totalmente,
a leitura correta do medidor.
A medição do volume de água consumido numa
edificação representa um ponto delicado na rela-
ção entre a concessionária de água e os usuários