Página 44 - A&D_v23_n2_2011

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Consumo de água em residências de baixa renda: análise dos fatores intervenientes
sob a ótica da gestão da demanda
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Bahia anál. dados, Salvador, v. 23, n. 2, p.317-333, abr./jun. 2013
Introdução
O crescimento da demanda por água na área ur-
bana, associado ao comprometimento da qualidade
dos mananciais mais próximos, evidencia a neces-
sidade de soluções que tornem o uso da água mais
sustentável, embasadas na caracterização da sua
utilização, assim como na definição dos padrões de
consumo, intimamente relacionada a fatores sociais
e culturais das famílias e às características dos do-
micílios. Principalmente, no que se refere ao consu-
mo de água potável, pela necessidade do controle
rigoroso da sua qualidade, desde os mananciais ate
o seu uso final.
O documento DTA-A1 do Programa Nacional
de Combate ao Desperdício de Água (SILVA et al.
,
1999, p. 19) define gestão da demanda como “(...)
toda e qualquer medida voltada a reduzir o consu-
mo final dos usuários do sistema, sem prejuízo dos
atributos de higiene e conforto dos sistemas origi-
nais”. Este documento afirma ainda que a mudança
de hábitos e utilização de tecnologias e aparelhos
poupadores de água devem ser estimuladas por
ações de educação ambiental, política tarifária e
subsídios.
Pesquisadores como Salati e Lemos (2002) e
Vairavamoorthy e Mansoor (2005) afirmam que,
diante do aumento dos custos de construção, das
projeções de crescimento da demanda, do cresci-
mento da preocupação ambiental e dos limitados
recursos disponíveis, os custos dos investimentos
futuros necessários em saneamento tenderão a do-
brar ou triplicar em relação aos atuais.
Burn, Silva e Shipton (2002) verificaram que a
gestão da demanda é capaz de reduzir os custos
dos sistemas de abastecimento entre 25% e 45%.
Como em países em desenvolvimento os recursos
e investimentos são sempre limitados, estes de-
vem priorizar a adoção de medidas de conserva-
ção da água, associadas a um bom planejamen-
to. Segundo Vairavamoorthy e Mansoor (2005) é
preciso reconhecer que o setor do saneamento nos
países em desenvolvimento deve ter uma atitude
mais proativa em relação a práticas de gestão da
demanda de água.
Em residências, o consumo de água varia consi-
deravelmente de uma casa para outra, dependendo
de fatores socioeconômicos, culturais, pessoais e
das características do imóvel.
Diante deste cenário, o grupo de pesquisas
Rede de Tecnologias Limpas (Teclim), da Universi-
dade Federal da Bahia (UFBA), vem desenvolven-
do, desde 2004, pesquisas sobre consumo de água
em residências (ALMEIDA, 2007; COHIM; GARCIA;
KIPERSTOK, 2008; GARCIA, 2011; BOTELHO,
2013). Alguns destes (COHIM; GARCIA; KIPERS-
TOK, 2008; GARCIA, 2011; BOTELHO, 2013) tive-
ram como foco a avaliação dos fatores associados
ao consumo de água em residências de baixa ren-
da, confrontando o consumo de água no domicílio
com características das famílias e das residências.
Com a motivação dada pela temática, busca-se
discutir neste artigo como características das famí-
lias e de seus domicílios influenciam no consumo
de água em áreas de baixa renda e avaliar qual
a percepção dos moradores sobre o consumo de
água e o uso racional deste recurso. Tem-se como
objetivo subsidiar proposições e ações que visem
ao uso racional da água nestas áreas.
OCUPAÇÃO URBANA DESORDENADA E SUA
INFLUÊNCIA NO ABASTENCIMENTO DE ÁGUA
O século XX no Brasil caracterizou-se por um
processo intenso de urbanização. A taxa de ur-
banização passou de 31,2% em 1940 para 67,6%
em 1980. Em 1960, 49% da população residia em
áreas urbanas, em 1970 esse percentual chegou a
58%. A taxa de urbanização do país, que em 1991
era de 76%, passou para 81% em 2000 (INSTITU-
TO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTI-
CA, 2006) e para 85% em 2011 (INSTITUTO BRA-
SILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2012).
Este processo foi verificado em todas as regiões,
conforme a Tabela 1.