Página 23 - A&D_v23_n2_2011

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Delfran Batista dos Santos, Salomão de SousaMedeiros, Manuel Dias da Silva Neto
Bahia anál. dados, Salvador, v. 23, n. 2, p.291-302, abr./jun. 2013
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Ainda de acordo com a mesma tabela verifica-
-se que 53% e 63% dos entrevistados não realizam
a limpeza dos telhados das residências nos Povo-
ados de Tiquara e Umburana de Cheiro, respecti-
vamente. Este procedimento
de limpeza pode, quando
realizado corretamente, ga-
rantir menor acúmulo de su-
jeiras e, consequentemente,
diminuir a contaminação da
água armazenada na cisterna.
Procedimentos inerentes ao manejo e ao trata-
mento de água das cisternas para consumo huma-
no ainda são incipientes, motivo pelo qual a pro-
babilidade de proliferação de fungos, verminoses
e bactérias na água armazenada torna-se elevada.
Verifica-se que mais de 95% dos domicílios fa-
zem a limpeza das cisternas (Tabela 1), entretanto,
esta prática realizada isoladamente não evita a con-
taminação da água armazenada na cisterna; faz-se
necessária também a limpeza das calhas, tubula-
ções de condução e área de captação (telhado).
Quanto à criação de peixes dentro das cisternas
com objetivo de controlar as larvas de mosquitos
(Tabela 1), observa-se que uma parcela significa-
tiva das comunidades (41% e 49%) faz uso des-
sa prática. Tais famílias acreditam que os peixes
alimentam-se das larvas de mosquito que possam
se desenvolver na cisterna. Silva e Almeida (2012)
verificaram que os moradores da cidade de Mogei-
ro, na Paraíba, também utilizam peixes (piabas da
espécie
Leporinus friderici
) para auxiliar no trata-
mento da água armazenada nas cisternas. Segun-
do estudos realizados, peixes podem ser usados no
controle de larvas de mosquitos, principalmente da
dengue
Aedes aegypti,
em cisternas (CAVALCANTI
et al., 2007); no entanto, peixes carregam bactérias
e protozoários e podem colocar em risco a saúde
das famílias (CHADEE, 1992).
Analisando-se a compreensão das famílias
quanto à realização do tratamento da água da cis-
terna antes de ingerir (Tabela 1), verificou-se que
ambas as comunidades se preocupam com essa
prática, sendo esta atitude mais evidenciada no Po-
voado de Tiquara, onde 93% das famílias fazem al-
gum tipo de tratamento na água antes de beber. Em
pesquisa conduzida no semiárido paraibano, Luna
e outros (2012) verificaram
que a maioria (80%) das fa-
mílias entrevistadas afirmou
que trata a água de beber da
cisterna com cloro.
Silva (2013), com objetivo
de avaliar a eficiência da radiação solar ultraviole-
ta (Sodis) no tratamento da água armazenada em
cisterna na região de Senhor do Bonfim, Bahia, ve-
rificou que esta técnica é viável para o tratamen-
to microbiológico de pequenas quantidades de
água destinadas ao consumo humano em escala
doméstica.
Embora a captação e o armazenamento da
água pluvial para os períodos sem precipitação vi-
sem colocar água à disposição da população, o fato
é que o aproveitamento das águas das chuvas pode
ser considerado uma alternativa para os períodos
prolongados de estiagem. Em contrapartida, aquilo
que muitas vezes parece ser a solução de uma de-
manda acaba tornando-se um problema passível de
comprometer a saúde das famílias, como é o caso
daquelas que fazem uso da água das cisternas,
mas não avaliam sua qualidade.
Compreende-se que essas comunidades preci-
sam ter acesso a ações educativas, no intuito de
obter maior assistência e instrução sobre o uso ra-
cional da água captada nas cisternas, bem como ao
procedimento de tratamento desta, tendo em vis-
ta que tal recurso hídrico pode tornar-se um meio
transmissor de patologias.
Uso da água das cisternas pelas famílias
A Tabela 2 apresenta os resultados referen-
tes ao uso de água das cisternas pelas famílias
nos povoados de Tiquara e Umburana de Cheiro,
nos municípios de Campo Formoso e Filadélfia,
respectivamente.
Procedimentos inerentes ao
manejo e ao tratamento de água
das cisternas para consumo
humano ainda são incipientes