Página 207 - A&D_v23_n2_2011

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BrunaMendonça, Dalvino Franca, Joaquim Gondim, Luis Preto
Bahia anál. dados, Salvador, v. 23, n. 2, p.475-486, abr./jun. 2013
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enfrentado, mas dependemmuito da articulação com
outros atores para implementar soluções eficazes.
Os recursos hídricos nas áreas susceptíveis à
desertificação no semiárido
No semiárido estão inseridas partes de quatro
regiões hidrográficas: Atlântico Leste, Atlântico Nor-
deste Oriental, São Francisco e Parnaíba. Nestas
regiões, verificam-se baixos índices de precipitação
e elevada evapotranspiração, baixa disponibilidade
hídrica subterrânea em função da ocorrência de ro-
chas cristalinas
2
e disponibilidade superficial bas-
tante problemática: os rios são quase todos inter-
mitentes e com a qualidade da água comprometida
pelas baixas vazões.
No Quadro 1 são apresentados dados referentes
à disponibilidade hídrica das regiões hidrográficas
do semiárido em comparação com as médias bra-
sileiras. A região mais critica do país é a Atlântico
Nordeste Oriental, que, a despeito da baixa dispo-
nibilidade hídrica, possui alta demanda representa-
da, principalmente, pela irrigação, responsável por
quase 70% da demanda total. Esta região concen-
tra a terceira maior área irrigada do Brasil (cerca
de 540 mil ha).
Sobre a irrigação, é importante destacar os
impactos e os potenciais conflitos que podem ser
causados devido às modificações no manejo do
2
Mesmo apresentando baixas vazões e elevada salinidade, em muitas
comunidades, a água subterrânea configura-se como a única fonte de
abastecimento disponível.
solo necessárias à implementação de projetos de
produção agrícola irrigada. Estas modificações
frequentemente implicam na movimentação de
grandes volumes de terra (para a construção das
obras de infraestrutura necessárias ou para o ter-
raceamento ou nivelamento da área cultivada) e
na consequente exposição do solo à erosão, com
efeitos potenciais para os corpos d’água adjacen-
tes (CONJUNTURA DOS RECURSOS HÍDRICOS
NO BRASIL, 2011).
Além dos cuidados de controle de erosão, é ne-
cessário avaliar a lixiviação de nutrientes e subs-
tâncias com a percolação no perfil do solo irrigado,
cujo efeito local pode ser a salinização do solo cul-
tivado ou o arraste de nutrientes. Estes impactos
normalmente são evitados e corrigidos com práti-
cas adequadas de manejo da agricultura irrigada,
principalmente a aplicação de volumes corretos de
água e a drenagem eficiente (AGÊNCIA NACIO-
NAL DE ÁGUAS, 2011).
No semiárido, boa parte do abastecimento da
população é realizada por meio dos açudes que
cumprem o papel de armazenar água para o perío-
do seco e também de regularizar a vazão dos cor-
pos d’água na região. Entretanto, são ambientes
bastante suscetíveis à ocorrência de eutrofização,
que acaba por prejudicar, ou impossibilitar, o uso
da água de parte do reservatório (CONJUNTURA
DOS RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL, 2012).
A eutrofização ocorre principalmente em am-
bientes aquáticos de fluxo reduzido, como la-
gos, açudes e reservatórios, que recebem aporte
Regiões
hidrográficas
Precipitação
média
(mm)
Disponibilidade
hídrica
(m³/s)
Vazão média
regularizada
(m³/s)
Vazão
específica
(L/s/km²)
Capacidade de
armazenamento
(m³/s)
Atlântico Leste
1.018
305
1.484
3,8
939
Atlântico Nordeste Oriental
1.052
91,5
774
2,7
1.075
São Francisco
1.003
1886
2.846
4,5
5.183
Parnaíba
1.064
379
767
2,3
1.804
Brasil
1.761
91.071
159.516
20,9
3.596
Quadro 1
Disponibilidade hídrica nas Regiões Hidrográficas do Semiárido
Fonte: ANA, 2012.