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Avaliação do manejo e uso da água de cisternas em comunidades baianas
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Bahia anál. dados, Salvador, v. 23, n. 2, p.291-302, abr./jun. 2013
INTRODUÇÃO
Em virtude dos longos períodos de estiagem
vivenciados na região Nordeste, principalmente no
semiárido baiano, a população vítima da seca tem
buscado meios de convivência com essa realidade,
a qual foi, durante muito tempo, considerada como
a principal responsável pelas precárias condições
de vida dos sertanejos, levando-os a intensificarem
o processo de êxodo rural que ainda perdura no
interior da região Nordeste.
A população desses locais, em geral mulheres e
crianças, é obrigada a caminhar longos percursos
até o manancial mais próximo, levando para casa,
em recipientes pesados (potes, latas, tonéis etc.),
uma água com qualidade, muitas vezes, inadequa-
da para consumo humano. Porém, como a água
obtida é a única fonte disponível, os moradores da
região são obrigados a consumi-la, muitas vezes,
sem qualquer tipo de tratamento, em virtude do des-
conhecimento do que essa atitude pode acarretar
para sua saúde e a da própria família.
Os problemas que surgem como consequência
da rotina do transporte pessoal de latas d’água ad-
vindas das fontes de água disponíveis nas localida-
des são inúmeros: desconforto físico, comprome-
timento do desenvolvimento, no caso de crianças,
além de elevado número de casos de doenças de
veiculação hídrica. De cada quatro mortes de crian-
ças na região, estima-se que uma é devida à diar-
reia causada por água contaminada (BRASIL,2013).
Para atender à necessidade hídrica da popula-
ção, buscam-se soluções alternativas de abasteci-
mento de água, como açudes, barragens subterrâ-
neas, poços, carros-pipa, dentre outros. A Portaria
MS nº 518, de 25 de março de 2004 (BRASIL,
2004), preconiza que a água das soluções alter-
nativas está sujeita à vigilância da qualidade para
verificar se há riscos à saúde pelo seu consumo
ou se atende aos padrões da norma, para só então
assegurar a condição de potabilidade.
Dentre as alternativas para as comunidades
que não dispõem de rede de abastecimento de
água, destaca-se a captação de água pluvial que
vem tornando-se, também, uma medida estratégi-
ca para o desenvolvimento social e econômico da
região semiárida. A coleta da água pluvial consiste
em uma tecnologia popular existente em muitas
partes do mundo, em especial nas regiões áridas e
semiáridas. Esta prática foi adotada independente-
mente em diversas partes do mundo e em diferen-
tes continentes há milhares de anos, sendo usada
e difundida especialmente em regiões semiáridas
nas quais as precipitações pluviométricas ocorrem,
apenas, durante poucos meses e em locais distin-
tos (GNADLINGER, 2011).
Mesmo com as vantagens advindas do uso
da tecnologia de armazenamento de água pluvial
em cisternas, estudos revelaram a importância do
monitoramento de características físico-químicas
e microbiológicas referentes à qualidade da água
armazenada (PALHARES; GUIDONI, 2012). Entre-
tanto, apesar de o Brasil ter iniciado a regulamen-
tação da qualidade da água na década de 1970
(FREITAS; FREITAS, 2005), a legislação brasileira
ainda não trata especificamente das águas pluviais
(LEUCK, 2008).
Com o intuito de disseminar a técnica de capta-
ção de água de chuva em cisternas na região se-
miárida brasileira, muitos programas foram e estão
sendo desenvolvidos por organizações não gover-
namentais (ONG) e pelo governo federal, no sentido
de disponibilizar uma alternativa para a população
que tem dificuldade de obtenção de água para con-
sumo diário.
Com base neste contexto, Luna e outros (2011)
relatam que, a partir de julho de 2003, iniciou-se o
Programa de Formação e Mobilização Social para
a Convivência com o Semiárido: um Milhão de Cis-
ternas Rurais (P1MC), que vem desencadeando um
movimento de articulação e de convivência susten-
tável com o ecossistema do semiárido através do
fortalecimento da sociedade civil, da mobilização,
do envolvimento e da capacitação das famílias, com
uma proposta de educação processual. O referi-
do programa foi criado com o intuito de beneficiar